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A Questão do Sangue e a Bíblia

A Questão do Sangue e a Bíblia

Leitura: Atos 15.20-29

No primeiro concílio realizado pela igreja, em 49 d.C., na cidade de Jerusalém, a questão do sangue mereceu consideração. A pergunta era: deve o cristão obedecer à lei de Moisés? Tiago apresenta um conjunto de quatro mandamentos necessários: “que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue”.

É proibido comer a carne de animais com sangue?

É muito claro na Bíblia que a idolatria e a fornicação são proibidas (1Co 10.14; 1Jo 5.21; Cl 3.5; 1Ts 4.3; Ef 5.3). Mas quanto a comer carne com sangue, este preceito vale para os crentes de todas as épocas e lugares ou era uma recomendação para aquele momento específico? O crente deve abster-se de comer sangue, hoje?

Alguns dizem: NÃO.
Os que defendem que a proibição era apenas para aquele momento argumentam que Tiago faz um resumo das leis dadas aos estrangeiros para que fossem aceitos minimamente em Israel (Lv 17, 18). Não era o conjunto total de regras para os cristãos, pois deixaria de fora diversos outros mandamentos, como não matar, não roubar, não mentir, etc. Embora os cristãos não estivessem sob a lei mosaica (Rm 6.14; Gl 5.18), o concílio, inspirado pelo Espírito Santo, julgou que era “necessário” que se abstivessem do sangue para que pudesse haver harmonia entre os irmãos judeus e gentios. Os cristãos gentios deviam respeitar seus irmãos judeus por meio da observação dessas práticas, para que assim não fossem “causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus” (1 Co 10.32). Estes que não consideram esta proibição dizem que Jesus apresenta as regras da lei quanto à comida como anuladas (Mc 7.18,19) e o apóstolo Paulo segue o mesmo princípio (1 Co 10.24-31; Cl 2.16,20-23; 1 Tm 4.1-5), mas ressalta que o crente deve abster-se de fazê-lo quando isto puder causar escândalo para alguém (1 Co 8.13; 14.13-21). Pedro também entende desta forma, a partir da revelação que recebeu (At 10). Assim, a determinação do Novo Testamento de se abster de comer sangue, carne de animais sufocados e coisas sacrificadas aos ídolos seria uma medida de amor, não uma lei restritiva. O caso das relações sexuais ilícitas, embora conste do mesmo capítulo e da mesma recomendação apostólica, é diferente do comer sangue e carne de animais sufocados, pois fazem parte da Lei Moral, os 10 mandamentos. Por isso, essa recomendação apostólica que se refere às relações sexuais ilícitas continua em vigor na igreja do Novo Testamento.

Outros dizem: SIM.
Os que consideram pecado comer a carne com sangue argumentam que este mandamento era anterior à lei (Gn 9.3,4; 19.1-25; 34.31; 35.2-4). Após o Dilúvio, não havendo ainda vegetação suficiente para alimentar o homem e os animais, Deus permite ao homem comer carne de animais, porém com o cuidado de tirar-lhe previamente o sangue. Na lei de Moisés, este mandamento é reforçado e ampliado (Lv 3.17; 7.22-27; 17.10, 11, 14; 19.26; Dt 12.16, 23-25; 1Sm 14.33), acrescido de outras regras que restringiam o consumo de carne e gordura (Lv 11.1-47). O que reforça a proibição em At 15 é o fato de estar agrupada com outras claramente expressas na Palavra de Deus. Os que a defendem argumentam que se a proibição quanto a comer sangue não pretendesse ser universal, então a proibição contra a fornicação e a idolatria também não teriam a intenção de serem universais. Os textos do NT que liberam o crente das restrições alimentares da lei dizem respeito ao consumo de carne, mas não incluem o sangue dos animais e nem todas as comidas e bebidas, como drogas e bebidas alcoólicas.
Portanto, podemos entender que embora a proibição de comer sangue e carne de animais sufocados tenha sido ratificada no NT num contexto de preservação da harmonia entre os irmãos, Deus a deu no momento em que a carne foi dada como alimento ao homem e em nenhum momento, nem no AT, nem no NT, esta foi revogada e faz bem o crente que se abstiver destas coisas.

Por que não comer sangue?

Esta proibição foi dada para inspirar no homem o respeito pelo sangue. Pelo sangue se respeita a vida, da qual o mesmo é símbolo.
Existe outra razão de aspecto higiênico: O sangue não deve servir de alimento, porque é bastante indigesto, pelas albuminas bem resistentes dos seus glóbulos vermelhos e, ainda, pelo teor elevado de pigmento ferruginoso que os mesmos contêm. Além disso, o sangue se corrompe facilmente, putrefazendo-se. Ao sair dos vasos coagula-se, dividindo-se em uma parte sólida (o coalho) e outra líquida (o soro). E então, não tendo mais vida, fica sujeito aos germes que o transformam inteiramente, dando-lhe aspecto e cheiro repelentes. Compreende-se logo o que vai de perigoso no uso de alimento corrompido, cheio de toxinas venenosas, que causam grave dano à saúde e até a morte. Daí a sabedoria da Bíblia, mandando derramá-lo na terra, que o absorve.
O crente que quiser abster-se de sangue e de estrangulados, que o faça, nisto glorificando a Deus: somente não se considere, por isso, superior e mais espiritual, não despreze, condene nem pressione quem não faz exatamente o mesmo que ele.

A Bíblia não proíbe transfusão de sangue

Fazer uma transfusão de sangue não é a mesma coisa que comer. Embora um médico possa dar alimento a um paciente por via intravenosa e chamar isso de “alimentação”, não é o caso de dizer que dar sangue por via intravenosa seja também “alimentação”, já que o sangue não é recebido no corpo como “alimento”. A única maneira possível de entender a palavra “comer”, tanto no AT como no NT, é tomá-la como se referindo ao processo de levar alguma coisa para o corpo, como alimento, através da boca e do sistema digestivo. Uma coisa é alimentar-se, por via oral, do sangue de animais, que não deve passar pela química digestiva, tal o perigo que oferece à vida; e outra muito diferente é renovar a corrente circulatória, com o mesmo elemento que a compõe, depois da classificação técnica do tipo sangüíneo, repondo o sangue perdido, evitando a morte do paciente. Fazer uma transfusão trata-se de reabastecimento circulatório, uma dádiva feita num espírito de misericórdia e caridade.
Do ponto de vista lógico e médico, a transfusão tem uma única finalidade, nunca, porém, a de alimentar o estômago do paciente. Quando a medicina aplica esse recurso é porque ele é realmente necessário, para salvar a vida da pessoa e não para saciar-lhe a fome. Um doador e um receptor jamais cogitam que o sangue doado será objeto de solução para famintos. Antes, terá o nobre propósito de salvar a vida daquele que se vê necessitado dele para fins estritamente medicinais.

A vida humana é preciosa e deve ser preservada

Os que proíbem as transfusões de sangue afirmam que se alguém está à morte deve ser entregue a Deus, que pode restituir a vida. Entretanto, as Escrituras afirmam que se alguém pode fazer o bem e não o faz, peca (Tg 4.17). O próprio Senhor Jesus deu exemplo de uma pessoa que, para não desfalecer faminto, transgrediu a Lei e ficou sem culpa: Davi, ao chegar ao sacerdote Aimeleque e comer os pães da proposição (Mc 2.25-26; 1 Sm 21.6; Lv 24.5-9).
A ausência de quaisquer bases morais ou lógicas para essa proibição é também vista no fato de o leite humano conter mais leucócitos que o sangue. O sangue contém de 4 a 11 mil leucócitos por milímetro cúbico, enquanto o leite materno pode conter, durante os primeiros meses de aleitação, até 50 mil leucócitos por milímetro cúbico. E agora? Os bebês devem proibidos de mamar?
E quanto ao risco de contaminação pelo vírus HIV na transfusão e/ou reposição sanguínea? Qualquer procedimento médico deve ser precedido pelo cuidado na administração ao paciente. Uma dose de antibiótico à base de penicilina para tratar uma mera infecção de garganta pode, caso não haja a prudência do teste prévio, levar o organismo a uma reação fatal ou a seqüelas, um risco 22 vezes maior do que o ato de transfusão de sangue.
O Senhor Jesus afirma em João 15.13 que, se assim for necessário, a própria vida de alguém deve, como prova de extremo amor, ser entregue por seus amigos. A doação de sangue recebe, em toda sociedade, o mais alto conceito de sentimento de humanidade e amor ao próximo, características que devem ser obrigatoriamente encontradas entre os que se dizem cristãos.
Entendemos, portanto, que não há nenhuma passagem bíblica que regulamente a questão de transfusão e reposição de sangue. Além disso, a própria Bíblia diz que “onde não há lei não há transgressão” (Rm 4.15).

Obras Consultadas

Revista Defesa da Fé, janeiro de 2003, nº 52.
GEISLER, Norman; HOWE, Thomas. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e Contradições da Bíblia. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Marcos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento 1. Santo André: Geográfica, 2008.

Carlos Kleber Maia

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