Pix.: 22992540111 (Qualquer ajuda é bem Vinda. Gratidão)
Inicio | Temas Bíblicos |Leia a Biblia Leia a Bíblia | Post´s em Espanhol |Doações |Contato
Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Elohim verdadeiro, e a Yeshua o Messias, a quem enviaste. JOÃO 17:3
faceicon
Partir e estar com Cristo

Partir e estar com Cristo

Ausente do corpo e presente com Cristo. Quando? – Começaremos o nosso estudo sobre o pensamento de Paulo em relação à vida após a morte analisando de forma aprofundada as passagens que mais são constantemente utilizadas pelos imortalistas na tentativa de ensinar que Paulo era adepto da doutrina imortalista. Eles citam principalmente duas passagens nas quais o apóstolo expressa o mesmo pensamento, de que queria “partir e estar com Cristo”, ou que desejava estar “ausente do corpo e presente com Cristo”. Examinaremos tais passagens dentro de seu devido contexto, analisando-as exegeticamente, a fim de vermos se os argumentos imortalistas são ou não coerentes:

“Porquanto, para mim, o viver é cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (cf. Filipenses 1:21-23)

Para entendermos o que Paulo fala em Filipenses 1:21-23 é de extrema importância analisarmos o que ele diz em 2ª Coríntios 5:1-8, pois ele reafirma exatamente o que ele disse aos filipenses (sobre partir e estar com Cristo), mas de forma mais extensa e aprofundada, explicando dentro do contexto o que ele entendia como sendo esse partir e estar com Cristo:

“Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; Se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito. Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (cf. 2ª Coríntios 5:1-8)

Os imortalistas tem o costume de jogarem o verso 8 de 2ª Coríntios 5 de forma isolada, retirando-o de seu devido contexto, como já é de costume, sempre isolando um verso de seu contexto. A razão pela qual eles nunca falam do contexto que envolve esses textos é porque sabem que a análise meticulosa deles refuta as suas próprias teses de imortalidade da alma. Paulo inicia o verso 1 de 2ª Coríntios 5 dizendo:

“Se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (v.1)

Quando Paulo fala que a nossa casa terrestre vai se desfazer, ele não está se referindo à nossa casa literal onde moramos, construída a base de tijolos, mas sim do nosso corpo mortal, fazendo a mesma analogia que fez o escritor de Hebreus a este respeito, quando disse:

“… mas Cristo é fiel como Filho sobre a casa de Deus; e esta casa somos nós, se é que nos apegamos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos” (cf. Hebreus 3:6)

Quando “a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer” não é uma referência à uma casa literal feita à base de madeira ou tijolos onde Paulo morava, ele não estava preocupado com o destino de uma moradia terrena porque ele disse claramente que “até agora não temos tido residência certa” (cf. 1Co.4:11). Se ele nem moradia fixa tinha e frequentemente escrevia em prisões, é evidente que a referência é ao seu próprio corpo terreno. 

Portanto, dentro da analogia que faz o apóstolo Paulo, ao dizer que essa casa terrestre deste tabernáculo se desfará ele estava se referindo à sua própria morte corporal, ou seja, a este presente corpo mortal que passará pela morte física. Mas Paulo continua nessa mesma analogia, dizendo que, quando essa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer (i.e, quando este corpo mortal perecer) temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. A que ele se refere aqui? Logicamente, se a casa deste tabernáculo se refere ao nosso presente corpo mortal e corruptível, o edifício eterno a que Paulo se refere diz respeito ao nosso corpo imortal e incorruptível da ressurreição.

Da mesma forma que o apóstolo não estava falando de casas literais de tijolos na primeira parte do verso, mas de um corpo mortal e corruptível que temos hoje, igualmente na continuação do verso ele complementa essa mesma analogia, não se referindo a uma casa literal nos céus (como uma “mansão celestial”, como pensam alguns), mas sim a um corpo imortal e incorruptível, em contraste a este presente corpo mortal e corruptível que possuímos hoje. Somente desta forma a analogia de Paulo faria sentido. Ele afirma que iria morrer fisicamente (casa terrestre deste tabernáculo se desfazendo), para obter um edifício superior e eterno (corpo imortal da ressurreição). Mais claro ainda é a afirmação subsequente, onde ele diz:

“…temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos humanas” (v.1)

Essa “casa não feita por mãos humanas”, como já vimos na analogia traçada pelo apóstolo, não se refere a uma morada celestial, mas ao corpo ressurreto, pois não está em contraste a uma morada terrena, mas ao corpo físico atual. A linguagem expressa por Paulo, acerca de ser “uma casa não feita por mãos”, fortalece ainda mais este fato, pois essa foi também exatamente a mesma linguagem utilizada por Jesus quando se referiu ao seu corpo ressurreto:

“Nós ouvimos-lhe dizer: Eu derrubarei este templo, construído por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos de homens” (cf. Marcos 14:58)

Este edifício “não feito por mãos de homens” que Cristo disse que edificaria em três dias não é o próprio templo de Jerusalém em si, que até hoje está em ruínas, nem uma morada celestial, mas sim o seu próprio corpo ressurreto, pois de fato ele ressuscitou três dias depois, em um corpo glorificado. Por isso, João ressalta que “ele falava do templo do seu próprio corpo” (cf. Jo.2:21). Assim, vemos que esse edifício que Paulo se refere, que estava em contraste a um corpo físico terreno e que não foi feito por mãos humanas, não é uma morada celestial, mas um corpo ressurreto.

Só pela análise desse verso 1 já podemos compreender perfeitamente que a visão de Paulo não era de se desfazer deste corpo mortal para habitar no Céu sem um corpo antes da ressurreição, mas era de se desfazer deste corpo mortal para obter um corpo imortal que teremos na ressurreição dos mortos. Se o apóstolo traça um paralelo entre a casa e o edifício, e essa casa não é uma casa literal mas sim o corpo terreno, então é evidente que o edifício que Paulo se referia também não é um edifício literal que está no Céu, mas sim um corpo ressurreto celestial.

Com efeito, Paulo nada falava sobre estar com Cristo em um estado intermediário entre a morte e a ressurreição, onde estaremos despidos (sem um corpo), mas sim sobre a própria ressurreição, quando estaremos revestidos de nosso “edifício” eterno nos céus (i.e, de um corpo imortal da ressurreição). Essa ideia fica ainda mais clara quando prosseguimos na leitura com o verso 2, onde o apóstolo diz:

“E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu” (v.2)

Paulo complementa no verso 2 a ideia do verso 1, de que morreria com o desejo de ser revestido. Mas revestido do que? Da espada do Zorro? Não, mas revestido de um corpo imortal e incorruptível. No original grego, a palavra utilizada por Paulo aqui é ependuomai, que, de acordo com a Concordância de Strong, significa: “colocar sobre, vestir-se”[1]. Ela vem da palavra enduo, que tem o mesmo significado:

1746 ενδυοω enduo

de 1722 e 1416 (no sentido de entrar em uma veste) TDNT – 2:319,192; v

1) entrar numa (roupa), vestir, vestir-se.

Essa é exatamente a mesma palavra que Paulo usa quando se refere ao revestimento que os crentes irão passar na ressurreição:

“E, quando isto que é corruptível se revestir [enduo] da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir [enduo] da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória” (cf. 1ª Coríntios 15:54)

Portanto, Paulo estava dizendo que iria morrer para ser revestido de um corpo glorioso ressurreto. Ele não estava neste verso dizendo que iria para o Céu, mas que seria revestido de algo que é do Céu. Ele não disse: “desejando ir para a nossa habitação no Céu”; mas sim: “desejando ser revestido da nossa habitação, que é do Céu”. Com efeito, a ideia que é passada aqui não é de morrer e ir para o Céu sem um corpo, mas sim, como vimos pelo contexto, de ser revestido de um corpo ressurreto, que é “do Céu”, isso é, celestial, glorioso, em contraste a este presente corpo mortal, corruptível.

A nota de rodapé da NVI (Nova Versão Internacional) parece concordar com tal interpretação lógica do texto bíblico, com “habitação terrestre” sendo uma referência ao corpo terreno e que “gememos” esperando o revestimento de um corpo glorioso ressurreto:

“Temporária habitação terrena em que vivemos. Nosso corpo (v. 2Pe 1.13). Como uma tenda, temporária e pouco durável, nosso corpo é frágil, vulnerável e se desgasta (4.10-12,16)”[2]

“Gememos. Porque ansiamos pela perfeição que será nossa ao nos vestirmos do glorioso corpo espiritual (cf. 1Co 15.42-49)”[3]

Portanto, podemos ver que o desejo de Paulo, pelo qual ele “gemia” (v.2), não era de habitar no Céu como um espírito incorpóreo antes da ressurreição dos mortos em algum estado intermediário, mas sim de alcançar a ressurreição dos mortos. A tradução da CNBB verte o verso 2 de forma ainda mais direta: “por isso, suspiramos neste estado, desejosos de revestir o nosso corpo celeste”. E isso fica ainda mais nítido quando vemos o verso seguinte, que diz:

“Se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus” (v.3)

É de consenso até mesmo entre os imortalistas que o “nus” no verso 3 se refira a um estado não-corporal, isto é, destituído de corpo, ao passo que o “vestidos” se refira ao revestimento do corpo ressurreto ao qual Paulo se refere em todo o contexto. A nota de rodapé da NVI também concorda com isso e afirma:

“Nus. Sem a roupagem de um corpo, estado daqueles cuja habitação terrena, temporária, foi desmantelada pela morte”[4]

Portanto, “vestido” seria o revestimento de um corpo ressurreto e “despido” (ou “nu”) seria ficar sem um corpo, ou seja, ficar morto. Para os imortalistas, esse “nu” seria o estado consciente dos espíritos incorpóreos que aguardam a ressurreição dos mortos no Céu, distinguindo da visão mortalista que interpreta o “nus” como sendo o estado sem vida entre a morte e a ressurreição, em que os mortos não estão no Paraíso, mas em suas sepulturas. A visão imortalista deste verso fica bem clara na análise que o Pr. Airton Evangelista da Costa faz deste texto:

“2 Co 5.4: ‘…não queremos ser despidos, mas vestidos de novo, para que o mortal seja recolhido pela vida’. O estado do crente de ser despido não se refere ao corpo no sepulcro, mas ao espírito que aguarda o ‘corpo da glória’ na ressurreição”[5]

Porém, o próprio Paulo refuta tal tese de que seja possível viver no Paraíso sem um corpo, na forma de um espírito incorpóreo no Céu antes da ressurreição, pois deixa claro que no Céu não seria achado despido, mas vestido. Outras traduções deixam isso ainda mais claro, ao verterem o verso 3 da seguinte maneira:

“Contanto que sejamos achados vestidos e não despidos” (versão Ave Maria)

“E isso será possível se formos encontrados vestidos, e não nus” (versão da CNBB)

“O que será possível se formos encontrados vestidos, e não nus” (Bíblia de Jerusalém)

O professor Azenilto Brito também destacou isso ao dizer:

“Se vestido significa estar num corpo, estar nu é ficar sem um corpo. Observe que Paulo deixa muito claro que a vida futura é uma condição de vestido e não de nu! Ele dá não dá absolutamente qualquer apoio ao ensino de vida sem um corpo”[6]

Com efeito, Paulo refuta a tese de que o “despido” se refira a uma condição consciente no Céu como um espírito incorpóreo antes da ressurreição, pois afirma que tal coisa só seria possível se fosse encontrado vestido (com corpo), e não nu (sem corpo). Prova disso é o verso seguinte, onde ele reitera essa pensamento com ainda mais força:

“Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida” (v.4)

Paulo diz claramente que não queria ser despido, mas revestido. Ora, se a condição de “despido”, conforme os imortalistas dizem, se refere a uma condição consciente no Céu onde já estamos com Cristo em forma de espírito incorpóreo, Paulo iria desejar isso mais do que tudo, pois o maior desejo do cristão é estar com Cristo, independentemente se isso vai acontecer com ou sem um corpo. Seria muito estranho que o “despido” se relacionasse a um espírito com consciência e personalidade que vai para o Paraíso esperando a ressurreição, pois se fosse assim Paulo não acentuaria tanto que não desejava estar neste estado (vs. 3-4).

O fato de Paulo ter declarado tão enfaticamente que não queria ser despido põe por terra a teoria imortalista de que esse “despido” se refira a uma condição consciente no Céu em um estado intermediário. Seria o mesmo que Paulo estar dizendo: “Eu não quero estar no Céu com Cristo como espírito em um estado intermediário, mas sim ser revestido”. Isso faz sentido? É claro que não. Para Paulo, não existia uma condição consciente no Céu sem o revestimento de um corpo.

Quando ele fala sobre estar “despido” ou se encontrar “nu”, não se refere a um estado consciente em um estado intermediário, como sonham os imortalistas, mas sim à verdadeira condição em que os mortos passam entre a morte e a ressurreição, onde estão inconscientes e literalmente mortos (i.e, sem vida), destituídos de corpo (porque esperam a ressurreição). É este o estado entre a morte e a ressurreição que Paulo tinha em mente, e por isso ele afirmou que não queria ser despido, mas revestido; ou seja, que para ele não interessava nem era de nenhum valor esse estado entre a morte e a ressurreição em que não estamos com vida, mas o que ele queria mesmo era ser revestido (ressuscitar). Joe Crews também observa isso nas seguintes palavras:

“Ele não está ansioso para o sono da morte (sendo ‘despidos’) quando ele não estaria com o Senhor, mas ele está esperando pela redenção do corpo quando ele ia ser revestido com a ‘casa eterna nos céus’. Nesta vida ele estaria vestido com um corpo mortal, e depois a mortalidade seria ‘absorvida pela vida’, e ele teria um celestial corpo imortal. Mas tanto no tabernáculo terreno quanto no celestial ele continua a ter um corpo. Paulo não faz referência à uma alma separada do corpo. Ou ele possui um corpo neste planeta e está ausente do Senhor, ou ele possui um corpo redimido no céu, e está presente com o Senhor”[7]

Isso mostra, mais uma vez, que Paulo não tinha em mente a visão que os imortalistas tem sobre a vida após a morte, em que estamos com Cristo enquanto despidos (sem corpo, e supostamente como espíritos incorpóreos ou almas desencarnadas) esperando a ressurreição em um estado intermediário, mas sim de que não existe vida na condição de despido, e por isso o desejo dele era de ser logo “revestido”, que, como já vimos, significa ressuscitar, ser revestido de um corpo glorioso, ressurreto.

Paulo não iria rejeitar entrar no Céu como um espírito incorpóreo. O que ele estava dizendo é que seu desejo, pelo qual ele “gemia” (v.3), não era o de morrer para entrar no estado sem vida entre a morte e a ressurreição, em que estaremos despidos, inconscientes, sem vida, mas sim para alcançar a ressurreição dos mortos, isto é, para ser revestido novamente (v.4), de um corpo glorioso.

O desejo de Paulo, pelo qual ele gemia carregado, era na esperança de ser revestido para que o mortal fosse absorvido pela vida (v.4). A pergunta final que nos fica é: quando é que se dá este momento tão desejado por Paulo, quando o mortal será absorvido pela vida? Para os coríntios, isso não era uma dúvida, nem uma incógnita, pois o próprio Paulo já lhes havia escrito sobre isso poucos anos antes, em sua primeira epístola a eles:

“Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que isso que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isso que é mortal se revista da imortalidade. Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória” (cf. 1ª Coríntios 15:51-54)

A resposta é clara: a morte só será absorvida pela vida ao soar da última trombeta, por ocasião da ressurreição dos mortos. É somente na ressurreição que o mortal se reveste da vida, que a morte é tragada pela vitória. Seria impossível que o mortal fosse absorvido pela vida logo após a morte em algum estado intermediário em forma de espírito incorpóreo, pois, na teologia imortalista, nosso corpo morre e nossa alma já é imortal. Assim, nada que hoje é mortal (“para que o mortal”) seria “absorvido pela vida” após a morte. Obviamente Paulo estava se referindo não a um estado intermediário antes da ressurreição, mas precisamente à ressurreição, quando nossa natureza mortal será transformada em uma natureza imortal (cf. 1Co.15:51-54), com a morte sendo tragada (cf. 1Co.15:54), com o mortal sendo absorvido pela vida. 

Portanto, quando Paulo diz que não queria ser despido, mas revestido, para que o mortal fosse absorvido pela vida, ele não estava dizendo que queria morrer para estar com Cristo em um estado intermediário como um espírito incorpóreo, mas sim que não queria passar pelo estado entre a morte e a ressurreição no qual estaria “despido” (i.e, sem um corpo, porque estaria morto, sem vida), desejando logo chegar a ressurreição, quando seria “revestido” e quando o mortal seria absorvido pela vida. Impossível conciliar isso com a teologia imortalista, segundo a qual Paulo desejava estar com Cristo logo em um estado intermediário e antes da ressurreição. Como bem observou Joe Crews:

“O que se entende pelo termo ‘despido’? Repare que Paulo especificamente declara que ele não tinha vontade de estar nu ou despido. Podemos estar certos, então, que o estado despido não envolvia estar com o Senhor, uma vez que Paulo não deseja estar despido [e ele desejava estar com o Senhor]. De fato, o apóstolo fez referência a estar vestido em apenas duas casas, a terrena e a celeste. No estado despido, ele não estava nem vestido com o corpo terreno e nem com o celeste. Isso deixa apenas uma explicação possível. Estar ‘despido’ ou ‘nú’ é a condição de morte que é o intervalo entre a dissolução da casa terrena e a entrada na celestial”[8]

Os imortalistas não tem saída, pois se veem obrigados a acreditarem que Paulo estava desejando estar com Cristo e ao mesmo tempo estava desejando não estar com Cristo, pois para eles este encontro de Paulo com Cristo se dá em um estado intermediário como espírito incorpóreo, mas o próprio Paulo diz claramente que não queria estar despido (2Co.5:4). Se esse encontro de Paulo com Cristo se dá enquanto o apóstolo está “despido”, então por que ele diz que não queria estar despido? Seria o mesmo que afirmar que não queria estar com Cristo!

Além disso, a profunda semelhança entre o que Paulo diz aqui em 2ª Coríntios 5:1-5 e o que ele declara em Romanos 8:22,23 (“mas até nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoção, a saber, a redenção do nosso corpo”) faz um paralelo tão impressionante que demonstra que ele tinha a mesma ideia em mente nas duas ocasiões:

AOS CORÍNTIOS (2Co.5:1-5)

AOS ROMANOS (Rm.8:22-23)

“Neste tabernáculo nós gememos” (v.4)

“Também gememos em nós mesmos” (v.23)

“O qual nos deu como penhor o Espírito” (v.5)

“Temos as primícias do Espírito” (v.23)

“Desejando ser revestido da nossa habitação, que é do Céu” (v.2)

“Aguardando a nossa adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (v.23)

A analogia e a comparação dos versos nos deixa muito claro que o momento em que seremos “revestidos da nossa habitação que é do Céu” (cf. 2Co.5:2) é quando teremos a “redenção do nosso corpo” (cf. Rm.8:23), isto é, na ressurreição dos mortos. Joe Crews também discorre sobre isso acentuando tal fato:

“A comparação revela que este revestimento para o Céu tem lugar na ‘redenção do corpo’… em outras palavras, mesmo que a morte deva dissolver esse corpo mortal, Paulo torna muito claro que não seremos revestidos da nossa habitação que é do Céu (imortalidade) até a vinda de Jesus e a redenção do corpo. Isto também é estabelecido por repetidas referências ao estado ‘nu’ ou ‘despido'”[9]

E Paulo segue com sua analogia no verso 6, dizendo:

“Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor. Porque andamos por fé, não por vista” (vs. 6-7)

A Bíblia de Jerusalém traduz estes mesmos versos da seguinte maneira:

“Por conseguinte, estamos sempre confiantes, sabendo que, enquanto habitamos neste corpo, estamos fora da nossa mansão, longe do Senhor, pois caminhamos pela fé e não pela visão” (vs. 6-7)

Diante de todo o contexto, como já observamos, Paulo realmente queria estar ausente do corpo, mas não para habitar com o Senhor em estado incorpóreo (despido), mas revestido (ressurreto). Como diz Azenilto, “Paulo não está antecipando uma condição de um corpo desvestido, e sim um corpo revestido (…) Paulo não está descrevendo uma condição de algo imaterial ou o ‘despido’. Ele se refere ao momento em que vai receber o corpo imortal. O corpo do qual, então, estará ausente é o seu atual corpo terreno, mas ele não ficará desmaterializado (nu), nesse momento”[10].

Enquanto habitamos neste corpo (habitação terrena) estamos longe do Senhor e da nossa “mansão” (corpo ressurreto), e por isso desejamos estar ausentes deste corpo mortal para estarmos perto do Senhor, como o apóstolo afirma no verso seguinte:

“Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (v.8)

E aqui chegamos, finalmente, ao verso 8, aquele tão usado pelos imortalistas, com a diferença de que nós mostramos o contexto e fazemos amplo uso da exegese e da hermenêutica bíblica, e eles simplesmente fingem que esse verso 8 caiu do Céu sem contexto e nem nada, e de forma isolada deturpam vergonhosamente esse verso bíblico como se indicasse que Paulo estava dizendo que queria estar com Cristo num estado intermediário como espírito incorpóreo, quando diante de todo o contexto o que vemos é exatamente o contrário disso, e que Paulo só estaria com Cristo quando ressurreto, dotado de um corpo glorioso da ressurreição, não despido, mas revestido, não incorpóreo, mas corpóreo, e não antes do mortal ser absorvido pela vida, da morte ser tragada pela vitória.

Paulo desejava realmente estar ausente deste corpo terreno e estar presente com Cristo, mas não despido, senão revestido do corpo glorioso da ressurreição. Como bem disse Azenilto, ele estava “contemplando o além-túmulo, para além da ressurreição, àquele glorioso momento em que iria saudar a Jesus face a face e viver com Ele para sempre”[11]. Ou seja: o desejo de Paulo em estar com Cristo não se concretiza em um estado intermediário despido de corpo, mas na própria ressurreição dos mortos.

Satanás é astuto e sabe tirar um texto de seu contexto para fundamentar uma heresia, e este texto de 2ª Coríntios 5:8 é o maior exemplo disso, a mais vergonhosa adulteração bíblica que já existiu, pois quando posta diante de seu contexto é na verdade um golpe de morte na própria lenda da imortalidade da alma, e revela que Paulo tinha exatamente a mesma mentalidade de um cristão holista.

Partir e estar com Cristo – O texto de Filipenses 1:21-23 expressa exatamente a mesma coisa do texto de 2ª Coríntios 5:8, e, portanto, deve ser interpretado da mesma forma. Paulo queria “partir e estar com Cristo”, da mesma forma que alguém pode querer partir para Washington e estar com Barack Obama. Sim, ambos vão deixar algo, um a vida e outro o Brasil. E ambos vão encontrar alguém, um Cristo e o outro Obama. Mas tais frases de maneira nenhuma indicam que isso se dará imediatamente no Chronos seguinte. Para os hebreus, o tempo para de contar para quem morre. Quem morresse estaria inconscientemente morto (cf. Sl.13:3; 30:9; 94:17; 146:4; 6:5; 115:17; Ec.9:5,6,10; Jó 14:11,12; Is.38:18; 28:19), de forma que o intervalo entre a morte e a ressurreição não passaria de um piscar de olhos para o ressuscitado, mesmo que se passassem alguns milênios entre a morte e a ressurreição.

Por isso, a passagem de Paulo em Filipenses aborda a vida após a morte neste aspecto atemporal da existência depois da morte. Algo semelhante ocorre quando o autor de Hebreus escreve que após a morte vem em seguida o juízo (cf. Hb.9:27), mas sabemos que o juízo só ocorre na segunda vinda de Cristo (cf. 2Tm.4:1). Novamente vemos o autor ressaltando o aspecto atemporal entre a morte e a ressurreição. Embora depois da morte venha em seguida o juízo, este juízo só acontece na volta de Jesus, ainda que se passem milênios entre a morte de alguém e a volta de Cristo.

Pela não existência de um estado intermediário, quem morre e volta ao pó não está mais condicionado a tempo e a espaço. A ressurreição vem como em um piscar de olhos, de modo que partimos e estamos com Cristo imediatamente depois, ainda que isso em um aspecto temporal leve anos ou milênios para se concretizar. O pastor Hermes Fernandes, bispo consagrado pela International Christian Communion (comunhão que reúne os bispos de tradição anglicana/episcopal dos cinco continentes) mantém o mesmo ponto de vista e, depois de passar por uma longa reflexão sobre o tema à luz da Bíblia, afirmou:

“A morte é sucedida imediatamente pelo juízo (Hb.9.27). Não há hiato entre os dois eventos. Ao deixarmos essa vida, somos transportados ao Tribunal de Cristo, e à Sua presença imediata. Deixamos o tempo, e entramos em uma esfera atemporal, chamada também de eternidade. Não há estado intermediário entre a morte e a ressurreição, ou entre a morte e o juízo. Foi a doutrina do estado intermediário que proveu um terreno fértil para o surgimento de doutrinas como a do purgatório e da intercessão dos santos, que não possuem qualquer respaldo bíblico consistente. Não devemos esperar que ao morrermos sejamos levados ao Seio de Abraão, para ali esperarmos o momento da ressurreição”[12]

Pouco depois, faz uso exatamente do mesmo contexto incontestável de 2ª Coríntios 5:1-8 para fundamentar essa posição:

“Alguns creem que, ao deixarmos nossos corpos, experimentamos um estágio intermediário, em que seremos tão-somente espíritos desencarnados. Isso é um absurdo. Nosso espírito não deseja viver, senão em um corpo através do qual possa glorificar a Deus. Daí a importância da ressurreição corporal. Paulo chega a afirmar que nós ‘gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do Céu, porque estando vestidos, não seremos achados nus. Pois também nós, os que estamos neste tabernáculo (o corpo físico atual), gememos angustiados, não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida’ (2 Co.5:2-4). O crente em Jesus jamais deve desejar ser despido, isto é, viver sem um corpo, através do qual possa servir e louvar ao Seu Deus”[13]

Por fim, ele declara:

“Para quem está vivo no mundo hoje, pode parecer que esse dia esteja num futuro remoto. Mas para quem deixa o mundo hoje, é como se esse dia chegasse imediatamente. Não há intervalo. É como se entrássemos numa máquina do tempo, e fôssemos arremessados em um futuro distante. Lá chegando, não apenas nos encontraremos com o Senhor nos ares, vindo em direção a Terra para julgar os vivos e os mortos, como também encontraremos todos os eleitos de Deus, de todas as eras. Dentre os que morreram em Cristo, ninguém vai chegar primeiro… Por isso Jesus disse que os amigos que granjearmos aqui na terra, serão os mesmos que nos receberão ‘nos tabernáculos eternos’ (Lc.16.). Na verdade, nos recepcionaremos uns aos outros, pois chegaremos todos juntos. Há ordem de partida, mas não há ordem de chegada. Por vivermos confinados ao tempo e ao espaço, assistimos à partida de cada pessoa que deixa essa vida. Mas na eternidade não haverá ordem de chegada. Todos compareceremos diante do Trono de Deus concomitantemente”[14]

Essa visão bíblica da morte é compartilhada também pelo apologista cristão batista Joe Haynes, que afirmou:

“A Bíblia ensina claramente que quando um crente morre, não há razão para acreditar em qualquer estado intermediário, mas podemos supor que a sua próxima experiência vai ser o momento da ressurreição, quando ele é unido com Cristo sobre a Terra”[15]

O próprio Lutero compartilhou essa visão sobre o estado entre a morte e a ressurreição ao dizer:

“Repentinamente ressuscitaremos no último dia, sem conseguir compreender como morremos e como passamos pela morte”[16]

Como disse Wolfhart, “a continuidade de nossa vida presente com a vida futura da ressurreição dos mortos não deve ser buscada na seqüência linear do tempo; ela reside no caráter oculto do Deus eterno, cujo futuro já está presente em nossas vidas”[17]. Aqueles que pensam que aquilo que Paulo expressou em Filipenses 1:21-23 sobre “partir e estar com Cristo” por ser algo “incomparavelmente melhor” é algo que vai contra os princípios do mortalismo bíblico defendido pelo próprio Paulo o fazem por pura ignorância, confundindo a crença da mortalidade da alma com a psicopaniquia, popularmente conhecida como “sono da alma”, segundo a qual as almas não morreriam, mas estariam dormindo literalmente em um estado intermediário, aguardando a ressurreição dos mortos.

Embora essa outra visão ensine que os mortos só entram no Céu por ocasião da segunda vinda de Cristo, ela falha exatamente em crer que existe um elemento imortal no homem e que sobrevive à parte do corpo, ainda que inconscientemente. Tal não é a visão bíblica sobre a morte. Quando falamos que os mortos dormem, não estamos a dizer que eles estão literalmente dormindo, mas fazendo uso de uma figura de linguagem para um estado sem consciência entre a morte e a ressurreição. É lógico que faz sentido o que Paulo disse em Filipenses 1:21-23, e qualquer mortalista diria o mesmo, porque não existe “vida” ou “tempo” entre a morte e a ressurreição.

Portanto, é realmente um “partir e estar com Cristo”, ainda que isso somente se concretize na ressurreição dos mortos. Para Paulo, seria infinitamente melhor a morte, pois desta forma ele seria imediatamente conduzido a Cristo, pela não existência de passagem de tempo entre a morte e a ressurreição, e não por possuir alguma “alma imortal” que sobreviva à morte física e siga a um estado intermediário em condição incorpórea, o que o próprio apóstolo fez questão de negar quando escreveu a mesma coisa aos coríntios (cf. 2Co.5:8), dizendo que queria morrer não para ser despido (sem corpo), mas revestido (com corpo ressurreto), que não estaria no Céu em condição incorpórea, mas “vestido” (cf. 2Co.5:2-3), e que tal coisa se daria quando o mortal fosse absorvido pela vida (cf. 2Co.5:4), na ressurreição.

Desta forma, os textos de 2ª Coríntios 5:8 e de Filipenses 1:21-23 realmente ensinam a iminência em estar com Cristo logo após a morte, mas isso não se dá em função de uma “alma imortal” em nós presente, mas sim pela inexistência de tempo entre a morte e a ressurreição. É deste mesmo modo que o pastor presbiteriano José Luiz Martins Carvalho se posicionou, dizendo:

“A Escritura nos adverte: ‘E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo’ (Hb 9.27). O juízo segue-se à morte, pois passa-se do chrónos ao kairós, muda-se o parâmetro temporal. Do tempo linear para a eternindade. Logo, para o cristianismo bíblico não há imortalidade nem sono da alma [psicopaniquia], mas apenas a mudança de estado do tempo para a eternidade. Na Parousia, tempo e eternidade se encontrarão. É isto que, hoje, ansiosamente aguardamos!”[18]

Francis D. Nichol ainda faz importantes observações que nos mostram pela Bíblia que é comum dois acontecimentos estarem ligados ainda que divididos por um longo período de tempo entre eles em um aspecto temporal:

“Não é incomum um escritor bíblico reunir eventos que estão separados por um longo espaço de tempo. Geralmente, a Bíblia não entra em detalhes, mas apresenta os pontos realmente importantes do trato de Deus com a humanidade no transcorrer dos séculos. Por exemplo, Isaías 61:1 e 2 contém uma profecia da obra que Cristo faria em Seu primeiro advento. Em Lucas 4:17-19 está o relato de Cristo lendo essa profecia para o povo e informando: ‘Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.’ (v.21). Mas um exame cuidadoso revelará que Cristo não leu toda a profecia de Isaías, embora evidentemente ela seja uma declaração conectada. Ele terminou com a frase: ‘Apregoar o ano aceitável do Senhor’. Mas a frase seguinte da sentença é: ‘E o dia da vingança do nosso Deus’. Ele não leu essa parte porque ela não devia se cumprir logo. A passagem de Isaías nem mesmo sugere que um período de tempo se interpõe entre esta frase e as precedentes. Mas outras passagens bíblicas indicam claramente tal fato, e é pelo exame de todas as outras passagens que entendemos uma profecia breve e condensada como essa de Isaías”[19]

E ele continua destacando agora o período de mil anos que se interpõe entre a vinda de Cristo e a destruição desta terra, que é ligado por Pedro como se não houvesse período de tempo significativo entre eles:

“Ou considere a profecia do segundo advento conforme apresentada em II Pedro 3:3-13. Se nenhuma outra passagem bíblica fosse comparada com essa, poderíamos facilmente chegar à conclusão de que o segundo advento de Cristo resulta imediatamente na destruição do mundo pelo fogo. Todavia, quando comparamos II Pedro 3 com Apocalipse 20, aprendemos que um período de mil anos se interpõe entre o segundo advento e a destruição do mundo pelo fogo. Pedro estava apenas dando um breve sumário dos extraordinários eventos iminentes. Ele passou imediatamente do grande fato do segundo advento para o próximo grande ato no drama do trato de Deus com este planeta: sua destruição pelo fogo. No caso da profecia de Pedro, assim como no da profecia de Isaías, não há necessidade de confusão se seguirmos o plano de comparar passagem com passagem para preencher os detalhes”[20]

Vemos, portanto, que em absolutamente nada o “partir e estar com Cristo” implica em uma alma incorpórea vivendo conscientemente em algum estado intermediário antes da ressurreição, o que não é dito em parte nenhuma da teologia paulina e é negado pelo próprio apóstolo quando trata dessa mesma questão com mais amplitude, como vimos na exegese de 2ª Coríntios 5:1-8. Os imortalistas que formulam argumentos como esse demonstram não conhecerem a doutrina mortalista, confundindo-a com a psicopaniquia, crendo que achamos que existe passagem de tempo entre a morte e a ressurreição e anulando a iminência da mensagem de Paulo sobre estar com Cristo. Se pelo menos entendessem aquilo que tanto criticam, poderiam talvez formular argumentos mais sólidos.

Por Cristo e por Seu Reino,

Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

Tags: