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Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Elohim verdadeiro, e a Yeshua o Messias, a quem enviaste. JOÃO 17:3
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As visões teológicas sobre o inferno

As visões teológicas sobre o inferno

Tem se falado tanto a respeito do inferno nos últimos dias que eu decidi tecer alguns comentários a respeito das principais visões teológicas quanto ao inferno, que vão além daquilo que eu escrevi em meu livro “A Verdade sobre o Inferno”. Há historicamente quatro visões predominantes sobre este tema, sendo elas:

• Tormento eterno
• Universalismo
• Aniquilacionismo direto
• Aniquilacionismo posterior ao castigo

DE UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

Alguém que vive em pleno século XXI naturalmente irá pensar que a opção número 1, por ser a mais famosa hoje em dia, foi a que mais predominou nos primeiros séculos da Igreja, mas isso não é verdade. Uma leitura básica nos escritos dos Pais da Igreja nos mostra que a visão de um tormento eterno só passou a existir em finais do século II d.C[1], sendo precedida pela visão aniquilacionista e universalista. Isso é reconhecido até mesmo pelo maior pregador do tormento eterno que já existiu na Igreja antiga – Agostinho de Hipona –, que em sua época reconheceu que “existem muitíssimos que apesar de não negarem as Santas Escrituras não acreditam em tormentos eternos”[2]. A palavra “muitíssimos”, no original, é imo quam plurimi, que também pode ser traduzida como “maioria”. Portanto, Agostinho reconhece que em seus dias a maioria dos cristãos não cria em um tormento eterno.

Basílio, o Grande (329-379 d.C), que foi contemporâneo de Agostinho, também reconheceu isso. Ele disse: “grande parte dos homens afirma que haverá um fim à punição daqueles que foram punidos”[3]. A posição predominante nos primeiros Pais, do primeiro século até meados do segundo, era aniquilacionismo subsequente à punição. A partir de Orígenes, o primeiro grande universalista, muitos outros Pais adotaram tal postura, como Ambrósio (o tutor de Agostinho), Clemente de Alexandria, Gregório de Nissa, Gregório Nazianzeno e até mesmo Jerônimo, antes de mudar de opinião e passar a atacar severamente Orígenes.

Dos Pais que criam no tormento eterno, destaca-se Irineu, que difundiu tal doutrina em finais do século II, e o próprio Agostinho, que tornou essa doutrina a mais famosa nos séculos seguintes, como a visão predominante que marcaria as próximas eras. Por isso, foi somente depois da época de Agostinho, o bispo mais famoso da história da Igreja, que a visão de tormento eterno se tornou predominante na Igreja, como diz J. N. D. Kelly: “por volta do quinto século, em todos os lugares imperava a rígida doutrina de que, depois desta vida, os pecadores não terão uma segunda chance e que o fogo que os devorará jamais se apagará”[4].

Antes disso, como diz a Enciclopédia de Conhecimento Religioso, de Schaff-Herzog, “nos primeiros cinco ou seis séculos do Cristianismo haviam seis escolas teológicas, no qual quatro (Alexandria, Antioquia, Cesaréia e Edessa ou Nisibis) eram universalistas, uma (Éfeso) aceitava imortalidade condicional (aniquilacionismo); uma (Cartago ou Roma) ensinava punição eterna do ímpio. Outras escolas teológicas são mencionadas como fundadas por universalistas, mas a doutrina real delas nesta questão é desconhecida”[5].

Tendo em vista a perspectiva histórica, iremos analisar brevemente cada uma delas, a partir de agora, sob uma perspectiva ideológica.

DE UMA PERSPECTIVA BÍBLICA

• Tormento eterno. Seus adeptos (Igreja Católica e maioria protestante) creem que o tormento no inferno não terá fim, será eterno, pelos séculos dos séculos, independentemente do pecador e não fazendo distinção entre aqueles que pecaram mais e aqueles que pecaram menos, pois ambos serão punidos com tormentos eternos na vida futura. Usam passagens bíblicas que, para eles, favorece a perspectiva imortalista, como o texto de Mateus 25:46, que falaria sobre “vida eterna” para os justos e “tormento eterno” para os ímpios. Se apegam também a textos apocalípticos (Ap.14:11; 20:10) que sustentariam tal tese, e às passagens que falam sobre o “fogo eterno” (Mt.18:8; 25:41; Jd.7).

O problema com essa interpretação é que, em primeiro lugar, Mateus 25:46 não fala de “tormento” (basanos), mas de “punição” (kolasin)[6]. Todos os léxicos do grego concordam que essa punição, decorrente da palavra grego kolasis, é a pena capital – a morte –, significando literalmente “mutilar, cortar fora”[7], “morte e destruição”[8], “mutilar, deceptar”[9], “extirpar alguém da vida”[10]. Ou seja: o texto está falando sobre vida eterna e morte eterna, e não sobre vida eterna ou tormento eterno. O contraste é entre existência e inexistência para sempre, e não entre existência eterna em ambos os casos.

Outro problema nessa interpretação é a identificação literal de elementos apocalípticos, que por definição é um livro hiperbólico, e não literal[11]. Além disso, a comparação de passagens, como Apocalipse 14:11 com Isaías 34:9,10, nos mostra que a “fumaça que sobe para sempre” não é sinônimo de um fogo queimando para sempre, pois este mesmo texto de Isaías fala que “os ribeiros de Edom se tornarão em pez, e o seu pó em enxofre, e a sua terra em pez ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; para sempre a sua fumaça subirá; de geração em geração será assolada; pelos séculos dos séculos ninguém passará por ela” (Is.34:9,10), mas não há fumaça subindo até hoje em Edom.

Finalmente, a interpretação sobre o “fogo eterno” falha em não considerar que o fogo é eterno pelos efeitos da destruição eterna, e não pelo processo. Foi assim em todas as vezes que a Bíblia usou tal linguagem para algo que aconteceu no mundo real. Como vimos, Isaías 34:9-10 fala de uma fumaça subindo para sempre em Edom, mas não há fumaça subindo literalmente até hoje. Semelhantemente, Jeremias fala de um fogo que consumiria os palácios de Jerusalém e que “não se apagará” (Je.17:27), mas não há nenhum fogo queimando até hoje ali. Em Ezequiel vemos que a floresta do Neguebe seria incendiada por uma chama abrasadora que “não será apagada” (Ez.20:47,48), e Judas fala das cidades de Sodoma e Gomorra sofrendo a pena do “fogo eterno” (Jd.7), ainda que o fogo que consumiu estas cidades em Gênesis 19:24 tenha sido temporário, e não eterno. Tais exemplos nos mostram claramente que a linguagem de “fogo eterno” sempre se referiu aos efeitos da destruição total, e não a um processo sem fim.

• Universalismo. Seus adeptos defendem essa tese em passagens como 1ª Coríntios 5:5, que diz:“seja, este tal, entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus”, e Filipenses 2:10-11, que diz: “para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (veja também: Rm.14:11). Para eles, isso significa que todos os perdidos um dia se dobrarão aos pés de Cristo e serão salvos por ele. Ou seja: que, no fim das contas, todos irão para o Céu.

Essa interpretação falha em dois aspectos principais: (a) pouca evidência bíblica de apoio; (b) pouca capacidade de refutação às evidências contrárias. A pouca evidência se vê pelo fato de que tal tese é apoiada muito mais pelo sentimentalismo de argumentos passionais do que por evidências Escriturísticas, e de tais referências oferecidas poderem ser perfeitamente interpretadas de outra forma. A “destruição da carne” não indica que o pecador de 1Co.5:5 não teria passado por um arrependimento futuro ainda em vida, mas implica apenas na morte corporal. Portanto, o espírito salvo no dia do Senhor (ressurreição/volta de Jesus) não se refere, necessariamente, a um perdido, mas a um salvo.

Textos que mostram todo o joelho se dobrando diante de Cristo também não implicam necessariamente no universalismo, mas apenas que todos reconhecerão que Jesus, a quem eles condenaram em vida, realmente é o Senhor. O que será dessas pessoas depois disso não é dito nestes textos. Passagens como 2ª Coríntios 6:1-2, Hebreus 3:13 e Hebreus 9:27 indicam que não existe segunda oportunidade de salvação após a morte. Além disso, se o universalismo é verdadeiro, não existiria fogo eterno nem pelo processo e nem pelo efeito, já que o efeito não seria eterno nem irreversível. Seria, então, uma linguagem inapropriada. Eles também têm grande dificuldade em explicar as 152 passagens bíblicas que falam em aniquilamento dos ímpios e as dezenas de passagens que falam em castigo, já que, segundo eles, não ocorrerá nem uma coisa e nem outra com os ímpios.

• Aniquilacionismo direto. Essa visão é compartilhada principalmente pelas testemunhas de Jeová, e se apoia em centenas de passagens bíblicas que retratam aniquilacionismo, mas falha em desconsiderar passagens que falam em castigo, como Lucas 12:47-48, que se refere a pessoas que receberão poucos açoites e outras que receberão muitos açoites. Se ninguém recebe nenhum açoite, tal texto não faria sentido. Além disso, a linguagem expressa por Cristo aos fariseus, de que “estes receberão maior castigo” (Lc.20:47) também não se enquadra no aniquilacionismo direto, em que os ímpios são destruídos sem serem castigados antes, pois, desta forma, não haveria um castigo maior para uns em detrimento dos outros.

Finalmente, a tese do aniquilacionismo direto falha em um aspecto filosófico. Para que haveria ressurreição de ímpios, se eles serão destruídos imediatamente em seguida, sem serem castigados antes? As testemunhas de Jeová respondem a tal argumento alegando que não há ressurreição de ímpios, mas apenas de justos. Isso, porém, ignora uma série de passagens bíblicas que afirmam claramente que os ímpios também ressuscitarão, assim como os justos (ex: Dn.12:2; Jo.5:28,29).

• Aniquilacionismo posterior ao castigo. É a visão mais plausível biblicamente. Ela é apoiada por pelo menos 152 versículos que ensinam que os ímpios serão destruídos na vida futura[12], ao invés de serem atormentados para sempre. Há literalmente dezenas de formas de expressar este fato, usadas no AT e no NT, como, por exemplo, que os ímpios serão:

a) eliminados (cf. Pv.2:22; Sl.37:9; Sl.37:22; Sl.104:35; Is.29:18-20);

b) destruídos (cf. 2Pe.2:3; 2Pe.2:12,13; Tg.4:12; Mt.10:28; 2Pe.3:7; Dt.7:10; Fp.1:28; Rm.9:22; Sl.145:20; Gl.6:8; 1Co.3:16,17; 1Ts.5:3;2Pe.2:1; Sl.145:20; Sl.94:23; Pv.1:29; 1Ts.5:3; Jó 4:9; Sl.1:4-6; Sl.73:17-20; Sl.92:6,7; Sl.94:23; Pv.24:21,22; Is.1:28; Is.16:4,5; Is.33:1; Lc.9:25; Gl.6:8; 1Ts.1:8,9);

c) arrancados (cf. Pv.2:22);

d) mortos (cf. Jo.8:24; Jo.11:28; Jo.6:47-51; Is.65:15; Rm.6:23; Is.11:4; Pv.11:19; Sl.34:21; Rm.8:13; Sl.62:3; Pv.15:10; Tg.1:15; Rm.8:13; Pv.19:16; Is.66:16; Jr.12:3; Rm.1:32; Ez.18:21; Ez.18:23,24; Ez.18:16,28; 2Co.7:10; Rm.6:16; 2Co.3:6; Hb.6:1);

e) exterminados (cf. Sl.37:9; Mc.12:5-9; At.3:23);

f) executados (cf. Lc.19:14,27);

g) devorados (cf. Ap.20:9; Jó 20:26-29; Is.29:5,6; Sl.21:9);

h) se farão em cinzas (cf. 2Pe.2:6; Is.5:23,24; Ml.4:3);

i) não terão futuro (cf. Sl.37:38; Pv.24:20);

j) perderão a vida (cf. Lc.9:24);

k) serão consumidos (cf. Sf.1:18; Lc.17:27-29; Is.47:14; Sl.21:9; Jó 20:26-29; Ap.20:9; Is.26:11; Naum 1:10; Sl.21:9; Lc.17:27-29);

l) perecerão (cf. Jo.10:28; Jo.3:16; Sl.37:20; Jó 4:9; Is.66:17; Sl.37:20; Sl.68:2; Sl.73:27; At.13:40,41; Is.1:28; Is.41:11,12; 1Co.1:18; Rm.2:12; 2Co.4:3; 2Co.2:15,16; Lc.13:2,3; Lc.13:4,5; 2Ts.2:10);

m) serão despedaçados (cf.Lc.20:17,18; Mt.21:44; 1Sm.2:10);

n) virarão estrado para os pés dos justos (cf.At.2:34,35);

o) desvanecerão como fumaça (cf. Sl.37:20; Sl.68:2; Is.5:24);

p) terão um fim repentino (cf. Sf.1:18; Pv.24:21,22; Is.29:5,6; 1Ts.5:3; Is.29:18-20; 2Pe.2:1);

q) serão como a palha que o vento leva (cf. Sl.1:4-6; Is.5:24; Is.29:5,6);

r) serão como a palha para ser pisada pelos que vencerem (cf. Ml.1:1,3; Mt.5:13; Hb.10:12,13);

s) serão reduzidos ao pó (cf. Sl.9:17; Is.5:24; Is.29:5,6; Lc.20:17,18; Mt.21:44; 2Pe.2:6);

t) desaparecerão (cf. Sl.73:17-20; Is.16:4,5; Is.29:18-20);

u) deixarão de existir (cf. Sl.104:35);

v) serão apagados (cf. Pv.24:20);

w) serão reduzidos a nada (cf. Is.41:11,12; 1Co.2:6);

x) serão como se nunca tivessem existido (cf. Ob.1:16);

y) serão evaporados (cf. Os.13:3);

z) será lhes tirada a vida (cf. Pv.22:23; Jo.12:25);

aa) não mais existirão (cf. Sl.104:35; Pv.10:25).

Ao mesmo tempo, essa visão não ignora passagens que mostram os ímpios sendo castigados, pois eles só serão mortos depois de passarem pelo castigo respectivo aos seus pecados, o tanto correspondente a cada um. Assim sendo, os ímpios ressuscitarão e serão julgados e condenados, uns a “poucos açoites” (Lc.12:48) e outros a “muitos açoites” (Lc.12:47), para só depois deste castigo, merecido e proporcional, serem eliminados.

DE UMA PERSPECTIVA MORAL

• Tormento eterno. Se perguntassem a cem pessoas quantas delas achariam justo condenar um pecador a blocos intermináveis de bilhões e bilhões de anos sofrendo tormentos e torturas colossais dentro de um lago de fogo que arde com enxofre (e para todo o sempre), cem pessoas responderiam que isso é injusto. De fato, os próprios imortalistas reconhecem isso quando dizem: “Nós certamente não gostamos daquilo que a Bíblia diz sobre o inferno. Gostaríamos que não fosse verdade”[13]. Isso atesta que o próprio senso de moralidade presente na consciência humana contradiz a noção de um tormento eterno, mesmo para aqueles que creem que esse tormento eterno é bíblico.

Se ainda há alguma dúvida sobre isso ser justo e correto, basta pensarmos na analogia de um pai com um filho. Se seu filho o desobedece, você não vai pegar uma cinta e descer em cima dele para sempre. Você obviamente vai castigá-lo por algum tempo, isto é, pelo tanto correspondente aos seus erros. Se nem nós, meros seres humanos, somos capazes de castigar alguém a um tormento eterno, quanto menos Deus, que é muito mais justo e amoroso que nós.

Ele não é um deus sádico que pega uma cinta e bate no filho para sempre, que faz questão de conceder imortalidade a essa criatura só para que ela passe a eternidade inteira sofrendo, com a única finalidade de perpetuar o sofrimento. Deus castigará os ímpios até que eles paguem o último centavo (Lc.12:59; Mt.5:26), e depois irão para a segunda morte, a morte final e irreversível (Ap.20:14; 21:8), o completo fim da existência.

Robert Leo Odom discorreu sobre essa mesma questão usando outra analogia:

“Suponha, por exemplo, que o juiz de sua comarca sentenciasse um homem declarado culpado de assassinato a ser torturado continuamente dia e noite com água escaldante e ferros em brasa, a fim de mantê-lo sofrendo constantemente a mais torturante dor. O que os meios de comunicação teriam a dizer sobre isso? Qual seria a reação das pessoas em geral para com esse tipo de punição? Faz sentido dizer que o nosso Criador, que é um Deus de justiça e amor, poderia ser um monstro de crueldade pior do que o mencionado?”[14]

Além disso, a teoria do tormento eterno falha em desconsiderar penas distintas para pecados distintos. No tormento eterno não há diferenciação: todos serão punidos com a mesma pena, a de sofrerem eternamente. Assim sendo, não há qualquer diferença entre Adolf Hitler, que foi responsável pela tortura e assassinato de pelo menos seis milhões de judeus, e um índio de 12 anos que morreu sem conhecer a Jesus: ambos seriam condenados para um tormento eterno e indiscriminado. Mas a Bíblia não ensina isso. Ela faz clara diferença entre os pecadores, ao ponto do próprio Senhor Jesus dizer:

“Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites” (Lucas 12:47-48)

Se alguém receberá “poucos” açoites significa, obviamente, que esse castigo não será eterno, pois o “pouco” presume um fim, ou senão não seria “pouco”! O contraste que Cristo estabelece aqui demonstra que não haverá uma mesma punição indiscriminada a todos os pecadores, como um tormento eterno para todo mundo, mas um castigo que é proporcional aos pecados cometidos por cada um. Sendo assim, Hitler queimaria muito mais tempo do que aquele índio de 12 anos do exemplo acima. Isso torna esse mundo justo e respeita o princípio da proporcionalidade estabelecido em toda a Bíblia, algo que não existe dentro da visão de tormento eterno.

• Universalismo. A visão universalista é o exato contraponto ao tormento eterno. Enquanto aqueles falham em desconsiderar penas relativas a pecados relativos, esta falha no mesmo aspecto, mas, ao invés de condenar todos indistintamente a um mesmo tormento eterno, dá a vida eterna para todo mundo. Assim sendo, qualquer pessoa ímpia deste mundo, incluindo os maiores déspotas e genocidas da humanidade, não sofreriam qualquer punição após a morte, pois no fim alcançariam a vida eterna com Deus. Não haveria qualquer vantagem em ser justo aqui na terra, pois ambos acabariam no Céu com Deus, no fim das contas.

Tome como exemplo uma prova de vestibular, cuja faculdade decidiu que apenas os 30 melhores alunos, com nota superior a 7, seriam aprovados. Então, 30 alunos que fizeram o vestibular estudaram o ano inteiro para isso, se dedicaram ao máximo, doaram o melhor de si, abriram mão de muita coisa para passarem neste vestibular, e, finalmente, conseguiram passar. Por outro lado, havia 100 vestibulandos incompetentes, preguiçosos, irresponsáveis e desleixados, que não estudaram nada, que ficavam zombando daqueles que estudavam, que preferiam ir “curtir a vida” e que, no fim das contas, tiraram nota inferir a 2. Mas depois a faculdade decide aprovar ambos!

Se você fosse o aluno que se aplicou e estudou o ano todo, como se sentiria diante disso? Sentiria que a justiça foi feita? É claro que não. O universalismo não estabelece um padrão de mundo justo, mas apenas o sonho de todo e qualquer pecador. Um mundo justo exige uma pena proporcional a cada um que cometeu injustiças. Se o universalismo fosse real, não valeria a pena abrir mão desta vida por amor a Cristo, aceitando sofrimento, tribulação e martírio nesta terra, se os que não fazem nada disso o alcançarão da mesma forma. Ainda, o sangue de Cristo e a aceitação pela fé seriam ineficazes em última instância, pois aquele que não tinha fé em Jesus, que desprezava a Cristo e que zombava de Deus seria salvo tanto quanto aquele que foi justificado pela fé. Desta forma, teria sido inútil servir e crer em Jesus. O que mostra que o universalismo não pode ser moralmente justificável.

• Aniquilacionismo direto. O principal problema moral na tese do aniquilacionismo direto é o fato de que, nele, não há graduação de penas para os que cometeram atos ímpios aqui na terra. Em outras palavras, um assassino frio e sanguinário seria condenado à mesma pena de um ladrão de frangos: ambos morreriam eternamente, sem serem castigados nem mesmo por um segundo. Essa visão passa claramente a noção de impunidade, já que até mesmo nesta vida sabemos que é justo e correto punir os criminosos por um tanto correspondente ao crime. Da mesma forma, aqueles que transgridem a Lei de Cristo também não merecem passar impunes.

O aniquilacionismo direto (assim como o universalismo) é, assim dizendo, o lado inverso da moeda do tormento eterno, pois em ambos os casos não haveria distinção entre os pecadores, nem graduação de pecados ou punição proporcional. A diferença é que, no primeiro caso, essa impunidade seria em fatores nulos – sem punição para ninguém – enquanto no outro seria em fatores extremos – punição para sempre e para todos. Nenhuma das três visões anteriores responde em termos proporcionais aos pecados de cada um, como a Bíblia parece estabelecer frequentemente (Lc.12:47,48; Os.12:2; Is.58:18; Sl.62:2; Pv.12:24; Rm.2:5-7; Lc.20:47; Lc.12:58,59; Mt.12:32-35; Ap.22:12; 2Co.11:15; Dt.25:2; 2Tm.4:14).

• Aniquilacionismo posterior ao castigo. É a única visão moralmente justificável e que supre as carências das outras visões. Ela não ensina um tormento eterno desproporcional aos pecados cometidos, nem um castigo infinito por pecados finitos. Por outro lado, ela também não ensina que todo mundo será salvo no final, tornando inútil a fé em Cristo, nem um aniquilacionismo direto, que nada mais é senão impunidade. Ela ensina que primeiro os ímpios serão castigados, cada um pelo tanto correspondente aos seus pecados, uns mais e outros menos, uns receberão “muitos açoites” (Lc.12:47) e outros receberão “poucos açoites” (Lc.12:48), e, somente depois disso, senão eliminados.

Essa visão é a única que trabalha em cima do princípio da proporcionalidade, que é claramente atestado pela Bíblia. A proporcionalidade é, como sabemos, a base do padrão de justiça que rege o mundo. Nenhuma das outras três visões respeita o princípio da proporcionalidade, seja por pregar um tormento eterno para todo mundo, seja por pregar a salvação final para todos ou então por ensinar uma morte sem castigo para ninguém. Deus, sabendo que os pecados dos ímpios não poderiam passar impunes, os castiga pelo tanto correspondente e justo – proporcional aos pecados de cada um – e em seguida tais vão para a morte eterna, já que um tormento eterno seria injusto, moralmente injustificável e contra a lei da proporcionalidade, ao mesmo tempo em que salvar todo mundo seria igualmente injusto.

Nessa visão não há uma perpetuação do pecado e do sofrimento, como seria caso para sempre existissem criaturas blasfemando, murmurando e brigando com Deus, nem ensina a existência de um “ponto negro” em alguma parte do universo, em um verdadeiro lago de fogo literal onde bilhões de seres humanos sofrem em tormentos eternos. Ela ensina a total e completa erradicação do pecado na nova criação, o que só poderia ocorrer caso existisse a completa extinção dos pecadores, pois o pecado só existe em função da existência de pecadores. Ela também ensina a total transformação do universo, para uma nova criação onde não existe mais morte, pecado, blasfêmia, demônios ou ímpios, mas onde Deus é tudo e está em todos (1Co.15:28), quando “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap.21:4).

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

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