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Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Elohim verdadeiro, e a Yeshua o Messias, a quem enviaste. JOÃO 17:3
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CULTO ÀS IMAGENS

CULTO ÀS IMAGENS

1. Proibição do culto às imagens na Bíblia

É bem conhecido o facto de que no Antigo Testamento se proíbe que os israelitas façam imagens e que lhes prestem culto (Êxodo 20:4-5; Deuteronómio 5:8-9). Os profetas, em particular Isaías e Jeremias, ridicularizam o culto às imagens idolátricas: Isaías 44:9-20; Jeremias 10:1-16. O episódio do bezerro de ouro (Êxodo 32), como os de Jeroboão (1 Reis 12:26-33) ilustram as consequências da transgressão.

Cabe sublinhar que o que se proíbe de maneira absoluta é que o homem faça imagens por sua própria iniciativa com o objectivo de prestar-lhes culto. Portanto, não está proibida para os cristãos a feitura de imagens com fins didácticos, recordatórios ou outros diferentes do culto. A maioria dos cristãos tira fotografias dos entes queridos e admite a erecção de monumentos públicos e esculturas. Usam imagens para ensinar as suas crianças e vêem filmes e vídeos onde Jesus e os Apóstolos são representados.

Embora o judaísmo tardio tenha entendido a proibição das imagens de maneira absoluta, tal atitude não está justificada pelos dados bíblicos. Com efeito, Deus mesmo mandou fazer imagens bordadas, talhadas e esculpidas para o tabernáculo, como também a serpente de bronze (Números 21:9) que segundo Jesus ensinou era um tipo da sua morte redentora (João 3:14). O que evidentemente estava proscrito era prestar culto às imagens, como o demonstra a aprovação divina ante adestruição da serpente de bronze quando ela se tornou um objecto de culto para os israelitas (2 Reis 18:4).

2. O uso de imagens na Igreja sub-apostólica

Os primeiros cristãos deixaram testemunhos da sua fé por meio das imagens que até hoje se conservam nas catacumbas. As suas representações, principalmente pictóricas, incluíam episódios da Bíblia, símbolos como o peixe (grego YCHTHYS, acrónimo de Iesous Christos, Theou Hyious, Soter = Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador), e do Bom Pastor. Contudo, não existe evidência de que existisse algum tipo de culto para com tais imagens recordatórias. Adrian Fortescue escreve na Catholic Encyclopedia:

“Diferente da admissão de imagens é a questão do modo em que eram tratadas. Que sinal de reverência davam os primeiros cristãos às imagens de suas catacumbas, se é que davam algum?Para o primeiro período não temos informação. Há tão poucas referências às imagens na literatura cristã mais primitiva que dificilmente suspeitaríamos de sua ubíqua presença se não estivessem realmente ali nas catacumbas como o argumento mais convincente. Mas estas pinturas das catacumbas não nos dizem como eram tratadas. Podemos dar por certo, por um lado, que os primeiros cristãos entendiam perfeitamente que as pinturas não tinham parte alguma na adoração devida só a Deus. O seu monoteísmo, a sua insistência no facto de que serviam somente ao todo-poderoso e invisível Deus, o seu horror perante a idolatria de seus vizinhos, a tortura e morte que sofriam os mártires em vez de derramar um grão de incenso diante da estátua do númen do imperador é suficiente para convencer-nos de que não estavam construindo filas de ídolos próprios. Por outro lado, o lugar de honra que dão aos seus símbolos e pinturas, o cuidado com o que decoram, indica que tratavam as representações de suas crenças mais sagradas com pelo menos uma decente reverência. É a partir desta reverência que toda a tradição de venerar as imagens sagradas se desenvolveu gradual e naturalmente.” (s.v. Images, Veneration of . EmThe Catholic Encyclopedia , Volume VII, 1910; negrito acrescentado)

Talvez as escassas alusões às imagens não nos proporcione informação de como eram tratadas, mas este mesmo facto testemunha que o seu papel na vida cristã era modesto, e de modo algum tinha a importância indevida que adquiriu depois.

3. Os Padres dos primeiros séculos condenam a veneração de imagens

De facto, diversos escritores cristãos primitivos (séculos II e III) foram explícitos acerca da proibição de imagens no culto, já que viam claramente o perigo de idolatria que isto supunha. O autor católico citado, Fortescue, reconhece que eles não só denunciaram a adoração, mas inclusive a manufactura e posse de tais imagens, e menciona Atenágoras em sua “Petição em favor dos cristãos”, Teófiloem sua “Carta a Autólico”, Minúcio Félix em seu “Octavio”, Arnóbio em “Contra os Gentios”,Tertuliano em “Sobre a Idolatria” e Cipriano em “A vaidade dos ídolos”.

A isto poderíamos acrescentar o testemunho de Orígenes (m. 254):

“São os mais ignorantes que não se envergonham de dirigir-se a objectos sem vida … e ainda que alguns possam dizer que estes objectos não são deuses mas tão-só imitações deles e símbolos, contudo se necessita ser ignorante e escravo para supor que as mãos vis de uns artesãos possam modelar a semelhança da Divindade; vos asseguramos que o mais humilde dos nossos se vê livre de tamanha ignorância e falta de discernimento.” (Contra Celso, 6:14; negrito acrescentado).

Javier Gonzaga narra o seguinte ilustrativo episódio:

“Quando os soldados de Diocleciano [imperador que lançou a última grande perseguição contra os cristãos] irromperam numa igreja em Nicomédia no ano 297 mostraram a sua ignorância total do cristianismo ao surpreender-se de não encontrar nenhuma representação do que os cristãos adoravam ali. Isto era precisamente o que diferenciava uma igreja cristã de um templo pagão.” (Concilios. Grand Rapids: International Publications, 1965; 1:237).

Pela mesma época do acontecimento recém-narrado, Lactâncio (240-320) escreveu:

“É indubitável que onde quer que há uma imagem não há religião. Porque se a religião consiste de coisas divinas, e não há nada divino a não ser nas coisas celestiais, segue-se que as imagens se acham fora da esfera da religião, porque não pode haver nada de celestial no que se faz da terra …não há religião nas imagens, mas uma simples imitação de religião.” (Instituições Divinas2:19; negrito acrescentado).

Em 305 ou 306 um concílio reunido em Elvira, próximo da actual Granada, estabeleceu no seu cânon 36: “Ordenamos que não haja pinturas na Igreja, de modo que aquele que é objecto de nossa adoração não será pintado nas paredes.” No passado, apologistas católicos como Barónio e Belarmino questionaram este sínodo espanhol, mas a sua ortodoxia é hoje geralmente admitida.

Eusébio de Cesareia fala de uma estátua de Cristo existente em Paneas que teve ocasião de ver, e comenta:

“E não é estranho que tenham feito isto os pagãos de outro tempo que receberam algum benefício de nosso Salvador, quando indagamos que se conservavam pintadas em quadros as imagens de seus apóstolos Paulo e Pedro, e inclusive do próprio Cristo, coisa natural, pois os antigos tinham por costume honrá-los deste modo, sem distinção, como a salvadores, segundo o uso pagão vigente entre eles.” (História Eclesiástica 7,18:4; negrito acrescentado).

Também Epifánio (315-403), bispo de Salamina em Chipre, que era um acérrimo inimigo dos ensinamentos de Orígenes, concorda com este contra as imagens, segundo uma carta a João, bispo de Jerusalém, conservada por Jerónimo. Epifánio foi a uma igreja da Palestina orar e, segundo diz: “achei ali uma cortina pendurada nas portas da citada igreja, pintada e bordada. Tinha uma imagem de Cristo ou de um dos santos; não recordo precisamente de quem era a imagem. Vendo isto, e opondo-me a que a imagem de um homem fosse pendurada na igreja de Cristo, contrariamente ao ensinamento das Escrituras, a rasguei…” Epifánio, além disso, aconselha João que instrua os responsáveis para que não se pendurem cortinados desse tipo em nenhuma Igreja de Cristo, “opostos como estão à nossa religião”, e continua: “Um homem da tua rectidão devia ser cuidadoso em suprimir uma ocasião de ofensa, indigna da Igreja de Cristo e dos cristãos que estão confiados a teu cargo.” (Jerónimo, Epist. 51:9; negrito acrescentado).

Num dos seus escritos contra os maniqueus, Agostinho de Hipona admite que alguns adoram imagens, mas não reconhece os tais como verdadeiros cristãos: “Não reúnas contra mim os professantes do nome cristão, que nem conhecem nem dão evidência do poder de sua profissão… Sei que há muitos adoradores de túmulos e de pinturas … Nem é surpreendente que entre tantas multidões [de cristãos] hajas de encontrar alguns que pela sua vida de condenação possas enganar os incautos e seduzi-los [para tirá-los] da segurança católica.” (De Moribus Eccl. Cath., 34:75).

O bispo de Hipona, como Orígenes antes dele, refutou de antemão o argumento de São Tomás acerca de que não se presta culto à imagem, mas ao que representa:

“Envergonhem-se todos os que servem a uma escultura, os que se gloriam nos ídolos! Mas avança um que se crê douto e diz: ‘Eu não adoro uma pedra nem esta imagem que não tem sentimentos; porque não é possível que os vossos profetas tenham imaginado que tinham olhos e não viam, e que eu seja ignorante até ao ponto de não saber que a imagem não tem alma e não vê pelos seus olhos e não ouve pelos seus ouvidos. Eu não adoro isto; mas me inclino perante isto que vejo e sirvo àquele a quem não vejo’, ‘quem é este?’. ‘Algum poder invisível – se nos diz – que radica nesta imagem’. Mediante este tipo de explicação acerca de suas imagens, pensam que são muito inteligentes e que de modo algum se os pode contar entre os adoradores de ídolos.” (Sobre Salmos 96, 2; negrito acrescentado).

Deste modo, o ensinamento unânime dos Padres dos primeiros séculos, o qual a igreja de Roma se preza de respeitar e venerar, é radicalmente adverso ao uso de imagens no culto. Adicionalmente, como notou Agostinho, também os pagãos, salvo os muito incultos, não tomavam as imagens como algo mais que representações; mas são precisamente tais representações o que os escritores cristãos antigos proíbem como contrárias às Escrituras e portanto opostas ao cristianismo.

4. Rejeição do culto às imagens por um bispo de Roma

A partir do século IV e sobretudo do V, depois de o cristianismo se ter tornado a religião oficial do Império e de vastas multidões de pagãos incultos terem ingressado na igreja, o uso de imagens começou a generalizar-se. A razão invocada foi que as imagens eram os livros dos analfabetos, e que eram necessárias para o ensino.

Em finais do século VI o papa Gregório Magno censurava o bispo de Marselha, Sereno, por ter destruído as imagens das igrejas da sua diocese:

“Soubemos, irmão, que tendo observado algumas pessoas adorando imagens, haveis destruído e expulso essas imagens das igrejas. Vos louvamos por vos terdes mostrado zeloso já que nada feito de mãos deve ser adorado, porém somos da opinião que não devíeis ter quebrado estas imagens. A razão pela qual se usam as representações nas igrejas é a de que aqueles que são iletrados possam ler nas paredes o que não podem ler nos livros. Portanto, irmão, devíeis tê-las conservado, proibindo ao mesmo tempo ao povo que as adorasse.” (Epístola 7,2:3).

Numa epístola posterior a Sereno escrita em 600, Gregório Magno reitera a sua posição; “tomai todas as medidas para evitar a adoração das imagens” (Epístola 9,4:9). Eis aqui um destacadíssimo bispo de Roma que, em finais do século VI e princípios do VII, desconhece todo o culto lícito às imagens e as considera exclusivamente de valor didáctico. Como na época de Gregório ainda não se tinha inventado a artificial distinção entre o culto de latria e o de dulia, é óbvio que ele se refere a todo o tipo de culto.

Ludwig Ott escreve, tentando atenuar a força dos ensinamentos dos Padres primitivos: “Por efeito dessa proibição existente no Antigo Testamento, vemos que o culto às imagens somente se forma quando o paganismo gentílico está totalmente vencido… ” (Manual de Teologia Dogmática, Ed. Rev. Barcelona: Herder, 1969, p. 480).

5. Desenvolvimento tardio do culto às imagens por influência pagã

O tempo mostraria que o paganismo estava longe de estar vencido e que o temor de Sereno de Marselha era bastante fundado. Descuidou-se a catequese e a pregação, e logo proliferou o culto às relíquias e imagens, de pura linhagem pagã. Ott admite: “Primitivamente, as imagens não tinham outra finalidade senão a de instruir: A veneração às mesmas (por meio de ósculos, reverências, círios acendidos, incensações) se desenvolveu principalmente na igreja grega desde os séculos V ao VII” (l.c., negrito acrescentado). Quer dizer que, como o reconhece este autor católico, não se trata de uma prática traçável aos apóstolos, e nem sequer à Igreja dos primeiros séculos.

Tal verdade, ou seja que o culto às imagens é um costume tardio, de raízes pagãs e carente de base doutrinal, é reafirmada por Fortescue, no artigo da Catholic Encyclopedia já citado:

“O desenvolvimento foi então um assunto de moda geral mais que de princípio. Para o cristão bizantino dos séculos V e VI as prostrações, beijos e incenso eram as formas naturais de mostrar honra a qualquer um; ele estava habituado a tais coisas, mesmo aplicadas aos seus superiores civis e sociais; estava acostumado a tratar os símbolos do mesmo modo, dando-lhes a honra relativa que era obviamente na realidade dirigida aos seus protótipos. E assim trouxe os seus hábitos normais para a igreja. A tradição, o instinto conservador que em assuntos eclesiásticos insiste sempre no costume, gradualmente fez estereótipos de tais práticas até que se inscreveram como rubricas e se tornaram parte do ritual…

Ao mesmo tempo deve-se reconhecer que imediatamente antes do surgimento do iconoclasmo [reacção violenta contra as imagens] as coisas tinham ido muito longe na direcção da adoração das imagens. Ainda que seja inconcebível que alguém, excepto quiçá o mais estúpido camponês, pudesse ter pensado que uma imagem podia ouvir as orações ou fazer alguma coisa por nós. E no entanto, a forma em que alguns tratavam os seus ícones sagrados indica mais que a honra meramente relativa que se ensina aos católicos a observar para com estes. Em primeiro lugar, as imagens se tinham multiplicado enormemente em toda a parte, as paredes das igrejas estavam cobertas por dentro desde o chão até ao tecto com ícones, cenas da Bíblia e grupos alegóricos (um exemplo disto é Santa Maria Antiqua, construída no século VII no foro romano, com a sua disposição sistemática de pinturas que recobrem toda a igreja). Os ícones, especialmente no Oriente, eram levados como protecção nas viagens, marchavam à cabeça dos exércitos, e presidiam as corridas no hipódromo; estavam expostos num lugar de honra em cada habitação, em cada comércio; cobriam taças, vestimentas, móveis, anéis; onde quer que se encontrasse um espaço, era preenchido com um quadro de Cristo, nossa Senhora, ou um santo. É difícil entender o que aqueles cristãos bizantinos dos séculos VII e VIII pensavam acerca deles. O ícone parece ter sido de certo modo o canal através do qual se aproximavam do santo; tem um valor sacramental … naqueles que o observavam; por e através do ícone Deus operava milagres; o ícone até parece ter tido uma espécie de personalidade própria na medida em que certas imagens eram especialmente eficazes para [obter] certas graças. Os ícones eram coroados com grinaldas, se lhes queimava incenso, eram beijados. Diante deles ardiam lamparinas e se cantavam hinos em sua honra. Os doentes eram postos em contacto com eles, eram atravessados no caminho de um incêndio ou uma inundação para detê-los por uma espécie de magia. Em muitas orações deste tempo a inferência natural das palavras seria que se dirigiam à própria imagem.

Se tanta reverência se brindava às imagens ordinárias “feitas com as mãos”, quanta mais se dava às milagrosas “não feitas com mãos” (eikones acheiropoietai). Destas havia muitas que tinham descido milagrosamente do céu ou – como a mais famosa de todas em Edessa – tinham sido produzidas por nosso próprio Senhor pela impressão do seu rosto num pano (a história do retrato de Edessa é a forma oriental de nossa lenda da Verónica). O imperador Miguel II (820-829), em sua carta a Luís o Piedoso, descreve os excessos dos iconolatras:

«Eles tiraram a santa cruz das igrejas e a substituíram por imagens diante das quais queimam incenso… Cantam salmos diante destas imagens, se prostram perante elas, imploram sua ajuda. Muitos vestem as imagens com roupagens de linho e as escolhem como padrinhos para os seus filhos. Outros que se fazem monges, abandonando a antiga tradição – segundo a qual o cabelo que é cortado é recebido por alguma pessoa distinguida – o deixam cair nas mãos de alguma imagem. Alguns sacerdotes raspam a pintura das imagens, a misturam com o pão e o vinho consagrados e dão-no aos fiéis. Outros põem o corpo do Senhor nas mãos de imagens, de onde é tomado pelos comungantes. Ainda outros, desprezando as igrejas, celebram o serviço divino em casas privadas, usando uma imagem como altar (Mansi, XIV, 417-422).»

Estas são as palavras de um veemente iconoclasta e devem, sem dúvida, ser recebidas com cautela. De qualquer forma, a maior parte das práticas descritas pelo imperador podem estabelecer-se por outra evidência irrefutável.” (negrito acrescentado).

É interessante que este autor romanista, enquanto tenta eximir os católicos daquilo que atribui aos orientais, apresenta como paradigma da profusão de imagens uma igreja de Roma. Do mesmo modo, para qualquer um que, como o que isto escreve, viva num país de tradição católica, o retrato que faz dos excessos dos orientais resulta dolorosamente familiar.

6. A controvérsia sobre as imagens

Os costumes pagãos se arraigaram de tal forma na igreja de Cristo, que no século VIII a veneração de imagens era considerada não só aceitável mas boa e piedosa.

Quando o imperador Leão III Isáurio emitiu decretos contra as imagens, o papa Gregório III (731-741), desprezando os ensinamentos do seu tocaio e predecessor já citado, convocou um sínodo que excomungou os adversários das imagens. “O imperador em resposta arrebatou os bispados gregos da Itália meridional e Sicília da superintendência do papa, trasladando-a para a do patriarca de Constantinopla. Entretanto em Roma, o papa ordenava a multiplicação das imagens nos templos, construindo também uma capela especial para a veneração de relíquias ‘sagradas’.” (Gonzaga, o.c., 1:242).

Mais de 300 bispos concorreram a um concílio convocado em Hieria por Constantino V, filho e sucessor de Leão III em 754. Ali após escutar e discutir os argumentos dos partidários das imagens, se estabeleceu que os únicos símbolos do culto cristão eram o pão e o vinho da Eucaristia. Os iconolatras foram excomungados, e se proibiu o uso de imagens tanto privado como público.

Contudo, mais tarde a imperatriz regente, Irene, ardente partidária das imagens, depôs o patriarca de Constantinopla e nomeou um homem da sua confiança em seu lugar. Convocou um concílio ecuménico que se reuniu em Niceia em 787; somente puderam concorrer bispos partidários das imagens, entre eles os representantes do papa Adriano (772-795). Como não podia ser de outro modo, o concílio anulou os decretos imperiais contra as imagens, como também as decisões de Hieria. Os acordos do sínodo foram assinados pela regente Irene e pelo seu filho Constantino VI.

Foi neste concílio que se introduziu a arbitrária distinção entre o culto de latria, devido só a Deus, e o de dulia, que seria lícito para os santos. Também se falou de um culto “terminativo”, dirigido à pessoa, e outro “relativo” dirigido à imagem que a representa. Sem dúvida, taisbizantinismos (strictu sensu!) são por completo alheios às Escrituras, onde há um só culto válido, o que se dirige ao Trino Deus.

Este concílio niceno, de infausta memória, ao não poder fundamentar escrituralmente o culto às imagens, declarou a insuficiência das Escrituras e lançou um anátema contra os que não estavam dispostos a aceitar doutrinas com base na autoridade da tradição e dos concílios, se as tais não tivessem claro fundamento bíblico. A importância desta novidade para os progressivos desvios romanos da doutrina escritural devia ser óbvia. Assim escreveram os partidários do culto às imagens, numa ruptura flagrante com a Escritura e o ensinamento dos Padres antigos:

“Porque desta maneira se mantém o ensinamento de nossos santos Padres, ou seja, a tradição da Igreja Católica, que recebeu o Evangelho de um extremo ao outro da terra; desta maneira seguimos Paulo, que falou em Cristo [2 Coríntios 2:17] e o divino colégio dos Apóstolos e a santidade dos Padres, mantendo as tradições [2 Tessalonicenses 2:14] que recebemos…

Aqueles, pois, que se atrevam a pensar ou ensinar de outra maneira; ou a descartar, seguindo os sacrílegos hereges, as tradições da Igreja, e inventar novidades, ou rejeitar alguma das coisas consagradas à Igreja: o Evangelho ou a figura da cruz, ou a pintura de uma imagem, ou uma santa relíquia de um mártir; ou a excogitar transtornar com astúcia e engodo algo das legítimas tradições da Igreja Católica… se são bispos ou clérigos, ordenamos que sejam depostos; se monges ou leigos, que sejam separados da comunhão.” (Denzinger 303-304).

Note-se que os bispos iconolatras não puderam nem sequer apelar à suposta tradição apostólica, pois nenhuma havia para apoiar o culto às imagens. Esgrimiram, em contrapartida, uma espúria “tradição da igreja católica” quando, na realidade, todos os escritores cristãos dos primeiros séculos que trataram o tema se opuseram por completo a semelhante abominação. E isto para não reiterar o claro ensinamento das Escrituras.

7. Conclusão

Em conclusão, o culto às imagens, proibido na Bíblia e rejeitado unanimemente com horror pelos mestres cristãos primitivos, e proibido pelo bispo de Roma Gregório I e pelos trezentos bispos reunidos em Hieria, se introduziu pela porta dos fundos da Igreja de maneira gradual e cresceu até proporções descomunais. A sanção dogmática de tão repugnante doutrina foi um estigma que permaneceu até ao seu questionamento e firme rejeição durante a Reforma do século XVI.

Assim que, queridos católicos e orientais, vos convido a rejeitar os falsos mestres que vos extraviam e a voltar às Escrituras e à prática da Igreja primitiva. Isso será sem dúvida agradável a Deus.

Fernando D. Sarav

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