“E o Senhor será rei sobre toda a Terra; naquele dia um será o Senhor e um será o seu nome” (Zc 14:9)
A palavra millennium vem do latim mille e annus que significa mil anos. O termo grego usado na Bíblia é chiliasm (quiliasmo).
χιλιοι chilioi
plural de afinidade incerta
1) mil
ετος etos
1) ano
No capítulo 20 de Apocalipse encontramos a única menção de um reino milenial de Cristo e as divergências giram em torno desses mil anos.
Nem todos os cristãos acreditam que Jesus Cristo voltará literalmente à Terra para estabelecer um reino de paz e segurança que durará mil anos.
Quatro correntes escatológicas tentam explicar o significado do Milênio:
• Pós-Milenismo
• Pré-Milenismo Histórico
• Pré-Milenismo Dispensacionalista
• Amilenismo
Nesta segunda série estudaremos o ensino do Milênio segundo a visão Pré-Milenista Histórica.
O Pré-Milenismo Histórico é uma das quatro correntes que tentam responder à pergunta:
“Haverá um reino milenial depois que Cristo voltar?”
Pré-Milenismo Histórico
Os adeptos desta visão afirmam que ela é a interpretação escatológica mais antiga sobre o Milênio, por isso é também chamada de Pre-Milenismo Clássico.
Acredita-se que foi a interpretação escatológica principal nos três primeiros séculos do Cristianismo, onde personagens como Papias, Irineu, Justino Mártir, Tertuliano e outros apoiaram essa interpretação.
Histórico
O Pré-Milenismo foi a visão predominante nos primeiros três séculos da Igreja.
Os que aderiam a esta visão incluía Papias (60-130dC), Justino Mártir (100-165dC), Irineu (130-202), Tertuliano (160-330dC), Orígenes (cerca de 185-254), Hipólito, Metódio, Comandiano, Lactanius e outros.
De acordo com alguns documentos, como o apócrifo ‘Epístola de Barnabé’, nos primeiros séculos da Igreja os cristãos aguardavam a volta de Jesus para estabelecer o Milênio de paz e justiça na Terra, ou seja, eles criam no Pré-Milenismo, porém depois de um período de Tribulação. Depois do reinado de mil anos é que seria estabelecido o Reino Eterno.
O motivo de os cristãos da época acreditarem na volta de Jesus depois de um período de tribulação era porque entendiam que já estavam vivendo esse período, que já durava muitos anos; então as muitas perseguições e sofrimentos eram considerados normais. Os líderes dessa época procuravam preparar os cristãos para uma época ainda pior que estaria por vir.
A visão do Milênio seria uma época de grande abundância, prosperidade e harmonia na criação. Papias, bispo de Hierápolis da Frígia, início do segundo século, cria dessa forma.
Porém, com o tempo, a crença de um Milênio literal já não era unânime. A partir do quarto século, muita coisa iria mudar e traria declínio à visão Pré-Milenista.
Vários fatores contribuíram para a mudança de visão:
1) Com o fim das perseguições, devido a cristianização promovida pelo Imperador Romano Constantino, a visão Amilenista tomou força. Esta continua sendo a posição da Igreja Católica Romana até os dias de hoje e foi defendida também pela maior parte dos reformadores protestantes.
2) A partir do século III d.C. teólogos de Alexandria (cidade localizada no Egito, hum!) introduziram outro ensino sobre o Milênio. Orígenes e Clemente sugeriram um ensino simbólico ou alegórico a respeito dos mil anos. A Igreja, exausta de tantas perseguições, havia esperado ardorosamente, mas em vão, pelo imediato retorno de Jesus, acabou deixando-se influenciar e abandonou a posição Pré-Milenista.
A proteção de Constantino ajudou na idéia de que o Milênio já havia começado. O que inicialmente foi considerado heresia, gradualmente, foi sendo aceito, especialmente através da influência de Agostinho, bispo de Hipona (396-430 d.C.) e Jerônimo (347-420 d.C.) . Agostinho rejeitava o Pré-Milenismo, tachando-o de literal e carnal demais, e espiritualizou o conceito.
3) A introdução da interpretação alegórica das Escrituras foi o fator decisivo para o declínio Pré-Milenista, pois esse ensino traz consigo um desprezo por tudo que é terreno e visível.
O Velho Testamento era, até meados do segundo século depois de Cristo, a única Bíblia da Igreja. O VT fala muito de um Reino na Terra, por isso alguns pais do segundo século (como Clemente e Orígenes) começaram a transformar essas passagens em alegorias para evitar os conflitos que uma interpretação mais literal poderia trazer. O Velho Testamento passou a ser visto, cada vez mais, não como uma parte importante do plano de Deus, mas apenas como uma história simbólica cheia de figuras das verdades espirituais e invisíveis.
4) A influência da filosofia grega e o gnosticismo também contribuíram e muito para o declínio da visão Pré-Milenista e pôs fim na esperança de um Reino Milenar. Um dos ensinos que parece ter contaminado muito o Cristianismo foi o conceito grego de que a matéria é má por natureza e que por isso é preciso se livrar desse corpo e desse mundo material para poder alcançar a perfeição, que no caso do Cristianismo seria o Céu que é totalmente espiritual e transcendental.
5) Outro fator foi o distanciamento entre a Igreja e os judeus. Embora os primeiros cristãos fossem todos judeus, depois da abertura para os gentios, a Igreja foi aos poucos se desligando de suas raízes originais. Houve várias causas para isso, uma das quais foi a destruição de Jerusalém em 70 d.C. O método de interpretação alegórica também contribuiu, fazendo com que os cristãos desprezassem a história da nação de Israel e o entendimento judaico das revelações de Deus. Isso preparou o caminho para a Igreja se considerar o novo Israel de Deus, herdeira de todas as promessas do Velho Testamento (num sentido espiritual), deixando Israel como povo e nação completamente fora.
Quais são as provas das Escrituras fornecidas pelos Pré-Milenistas Históricos para o ensino de que haverá um reinado milenar terreno após a volta de Cristo?
Para os Pré-Milenistas Históricos a Igreja é o Israel de Deus, mencionado por Paulo em Gl. 6:16. Não há nenhuma distinção entre Israel e Igreja hoje, e do mesmo modo não haverá no Milênio.
Para chegar a esta conclusão, fazem uso do mesmo princípio de interpretação utilizado pelos Amilenistas, em relação as profecias do Antigo Testamento. Porém acreditam que Deus restaurará a nação de Israel, pois para ela há promessas no Milênio.
Romanos 11 é usado para provar essa restauração:
“E se alguns dos ramos foram quebrados (Israel), e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles (A Igreja), e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.
Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. Então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também.
Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado.
E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar. Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira!
Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, Quando eu tirar os seus pecados.” (Romanos 11:17-27) (grifo meu)
O Velho Testamento e Cristo falaram a respeito do governo do Ungido. Salmos 2 é usado como respaldo bíblico:
“Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião.” (Salmo 2:6)
Apesar de que o único lugar onde a Bíblia menciona tal reino milenar terreno é Apocalipse 20:1-6, os Pré-Milenistas encontram uma descrição da Segunda Vinda de Cristo em Apocalipse 19 e Apocalipse 20 descreve eventos que sucederão à Segunda Vinda
Os primeiros três versículo de Apocalipse 20, descreveriam o aprisionamento de Satanás durante o Milênio depois da volta de Cristo.
Apocalipse 20:4 retrataria o reinado dos crentes ressuscitados com Cristo sobre a terra durante o milênio.
A palavra grega ‘ezasan’ (eles viveram ou, vieram à vida), encontrada nos versos 4 e 5, significariam ‘ressuscitado da morte de um modo físico’.
Ainda no verso 4, seria encontrado uma descrição da ressurreição física dos crentes no início do Milênio, mais tarde seria denominada “a primeira ressurreição”; no verso 5 encontraríamos uma descrição da ressurreição física dos incrédulos no final do Milênio.
Em 1 Coríntios 15.23-26, embora os Pré-Milenistas reconheçam que esta passagem não forneça uma prova conclusiva para um Milênio terreno, porém pode-se encontrar apoio neste ensino, especialmente nos versos 23 e 24
“Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias, depois (epeita) os que são de Cristo, na sua vinda. E então (eita) virá o fim (telos), quando ele entregar o Reino ao Deus e Pai…”
Nesses versículos, o Apóstolo Paulo estaria retratando o triunfo do Reino de Cristo realizado em três etapas:
– a ressurreição de Cristo;
– a Parousia, quando os crentes serão ressuscitados;
– o fim, quando Cristo entregará o Reino a Deus Pai;
Uma vez que há um intervalo significativo entre a primeira (ressurreição de Cristo) e a segunda etapa (ressurreição dos crentes), então não parece improvável que possa haver também um intervalo significativo entre a segunda e a terceira etapa.
As palavras ‘então’ (eita) e ‘fim’ (telos) deixariam lugar para um intervalo indefinido de tempo entre a Segunda Vinda e o Fim, quando Cristo completaria a subjugação de seus inimigos.
Este intervalo seria o Milênio.
Principais Argumentos contra o Pré-Milenismo Histórico
• Apocalipse 20 não fornece prova incontestável para um reinado milenar terreno que se seguirá à Segunda Vinda.
• O livro de 1 Coríntios 15.23,24 não fornece evidência clara um Reino milenar terreno.
• O retorno do Cristo glorificado e dos crentes glorificados, para uma terra onde ainda existe pecado e morte, violaria a finalidade da glorificação.
• O reinado milenar terreno não concorda com o ensino escatológico do Novo Testamento, uma vez que não pertence nem a era presente nem a era porvir.
• Os Pré-Milenistas se utilizam apenas da literatura apocalíptica para provar a literalidade do milênio, visto que o Velho Testamento não possui nenhum texto que relata um período literal de mil anos.
Conclusão
Este ponto de vista foi abandonado pela maior parte do Cristianismo, que passou a adotar a interpretação Amilenista e mais tarde Pós-Milenista.
Depois do século XIX surgiu a interpretação conhecida como Pré-Milenismo Dispensacionalista, porém difere em várias partes do Pré-Milenismo Histórico.
Alguns proponentes dessa interpretação escatológica: George Ladd, J. Barton Payne, Alexander Reese, Millard Erickson e outros.
Fontes de Pesquisas:
Livro ‘A Bíblia e o Futuro’ de Anthony Hoekema
http://br.dir.groups.yahoo.com/group/solascripturatt/message/6453
http://idac.info/pos_melenismo_amilenismo_e_pre_milenismo.html
http://www.revistaimpacto.com.br/divergencias-historicas-sobre-a-escatologia
Autor: Geração Maranat