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Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Elohim verdadeiro, e a Yeshua o Messias, a quem enviaste. JOÃO 17:3
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Refutando os neo-gnósticos que negam a ressurreição da carne

Refutando os neo-gnósticos que negam a ressurreição da carne – Parte 1

Eu vou confessar uma coisa a vocês: desde quando eu vim pra Cristo, em Fevereiro de 2009, ainda que não me preocupasse muito com a ressurreição e que esta não fosse o foco de minha atenção (explica-se: na época eu era imortalista, e, como todo bom imortalista, acabava lançando a ressurreição para escanteio como se fosse uma “doutrina secundária” de um “plano de fundo” do Cristianismo, pois o prioritário seria a nossa “alma imortal” que já estaria no Céu muito antes disso, é claro), mesmo assim eu não dava a mínima importância para as pessoas que não criam na ressurreição da carne, por dois motivos principais.

Primeiro, porque elas eram um “punhado” de gente, pouquíssimas, geralmente reduzidas àquelas pessoas que gostam de causar atritos e polêmicas sobre todos os outros pontos da fé e são pretensos novos reformadores de toda a fé ortodoxa querendo revolucionar o Cristianismo que foi pregado por Cristo – são na prática quase “novos messias”! Então, tais pessoas não mereciam crédito. Segundo, porque essas poucas pessoas que negavam a ressurreição não me pareciam pessoas sérias. Como eu disse: elas negavam tudo – negavam até que eram cristãs, sabe-se lá se criam mesmo em Deus!

Depois que eu abandonei a visão pagã grego-platônica de “imortalidade da alma”, passei a dar muito mais atenção à ressurreição, colocando-a no devido patamar que a Escritura lhe concede: como sendo a esperança dos cristãos. Então, passar a estudar e crer na ressurreição passou a ser um ponto fundamental na fé. Afinal, sem ela ninguém teria uma vida póstuma (1Co.15:19), os mortos já teriam perecido para sempre pois não estariam no Céu coisa nenhuma (1Co.15:18), seria melhor comermos e bebermos para depois morrer de uma vez (1Co.15:32), e o pior: o próprio Cristo não teria ressuscitado, tornando o testemunho dos apóstolos uma falsidade (1Co.15:13-15)!

Depois de ler este capítulo de 1ª Coríntios 15 pela primeira vez na vida, ganhei uma nova dimensão daquilo que significa a ressurreição dos mortos. Não, a ressurreição não é um “detalhe adicional desnecessário”. Não, a ressurreição não se resume a “ganhar um corpo novamente para continuar no Céu do mesmo jeito que estava antes”. Não, a ressurreição não era uma farsa inventada pelos apóstolos – era a esperança dos cristãos, a segurança da nossa salvação, pela qual o próprio Cristo morreu e ressurgiu, para nos manter viva a esperança de que nós também vamos morrer e ressurgir como Ele (1Co.15:20; Rm.8:11).

Assim, hoje em dia eu me sinto profundamente ofendido quando vejo alguém que se diz “cristão” negando a ressurreição dos mortos. E eu vou ser bem sincero: não considero tal pessoa legitimamente cristã. Se a crença na ressurreição corporal fosse algo dispensável ou opcional, secundário, a qual “crê quem quiser, se não quiser crer não precisa”, então os primeiros cristãos não teriam lutado tão ferozmente para defender a crença na ressurreição da carne. Então o Credo Apostólico não diria claramente: “creio na ressurreição da carne”. Então Taciano, o Sírio, um cristão do século II d.C, não teria escrito um Discurso contra os Gregos, onde ele argumenta a favor da crença na ressurreição da carne que os gregos de sua época não criam.

Então Teófilo de Antioquia, por esta mesma época, não teria escrito três livros a Autólico, convencendo-o da crença na ressurreição corporal dos que já morreram. Então Irineu, o famoso bispo de Lyon, não teria refutado, ainda no segundo século d.C, a crença gnóstica que era contra a ressurreição da carne, em seu famoso tratado “Contra as Heresias”. Então cristãos influentes na igreja dos primeiros séculos, tais como Justino, Tertuliano, Arnóbio, Policarpo, Inácio, Clemente… não teriam se esforçado sobremaneira para provar a ressurreição física dos mortos no último dia. Seria vão, inútil, totalmente desnecessário. Seria muito mais fácil e conveniente crer e ensinar da mesma forma que os pagãos de sua época criam: que os mortos não ressuscitavam fisicamente de jeito nenhum.

Era nisso que os gnósticos que se chamavam “cristãos” criam. Os gnósticos a princípio queriam tornar o Cristianismo mais aceitável a seus compatriotas alexandrinos, especialmente os líderes e intelectuais do povo. Seu grande problema, porém, era que o Cristianismo original, aquele pregado por Jesus e pelos apóstolos, chegava a ser patético diante dos olhos do mundo grego de Alexandria. Ideias como encarnação, ressurreição física, morte expiatória numa cruz, etc, não tinham boa receptividade entre os pagãos. Eram rejeitadas antes mesmo de se iniciar um diálogo. Então o jeito foi adaptar o Cristianismo para torná-lo mais aceitável e menos preconcebido.

Em outras palavras, o que fizeram foi modificar as doutrinas cristãs principais que o diferenciavam do paganismo grego de sua época, criando um “novo evangelho”, onde não existe ressurreição do corpo físico e onde o próprio Jesus não era um ser físico de carne e sangue. Pronto. Estava acabado o verdadeiro Cristianismo, que passava dar lugar a um “novo evangelho”, com carinha cristã, mas totalmente adaptado para agradar os pagãos, tornando o evangelho mais elegante e aceitável aos gregos. Diante deste falso evangelho, os verdadeiros cristãos resistiam bravamente. O próprio apóstolo Paulo chegou a ir a Atenas na tentativa de convencê-los de que a ressurreição física era um fato:

“Alguns filósofos epicureus e estoicos começaram a discutir com ele. Alguns perguntavam: ‘O que está tentando dizer esse tagarela?’ Outros diziam: ‘Parece que ele está anunciando deuses estrangeiros”, pois Paulo estava pregando as boas novas a respeito de Jesus e da ressurreição’” (Atos 17:18)

Diferentemente dos gnósticos que modificavam o evangelho a seu bel prazer para fazê-lo mais atrativo aos gregos e não entrar em confronto com eles, Paulo ensinava o verdadeiro evangelho, sem medo de ser rejeitado pelos pagãos, não importava o preço que devesse pagar por isso. É bem sabido que os gregos de sua época negavam a ressurreição física. Então, Paulo foi a Atenas e pregou, em pleno Areópago e diante de todos os filósofos deles, o seguinte:

“…estava pregando a respeito de Jesus e da ressurreição” (v.18)

Ora, se Paulo também não cresse em ressurreição física, estaria pregando a toa sobre ressurreição. Afinal, ambos estariam de mãos dadas neste aspecto: negariam em conjunto a ressurreição da carne e deste modo Paulo nem precisaria pregar algo sobre a ressurreição para um povo que crê da mesma forma que ele sobre isso! Ora, a única forma de entendermos o porquê que Paulo foi pregar sobre a ressurreição para um povo que não cria em ressurreição é porque Paulo cria em ressurreição!

Isso é óbvio. Se eu vou pregar a um descrente, eu não vou instar com ele em um ponto onde nós dois concordamos; ao contrário, eu vou pregar o evangelho sobre algo que nos difere a fim de convencê-lo da verdade. É isso o que Paulo foi fazer em Atenas! Prova de que Paulo não estava pregando uma doutrina uniforme com os gregos no que tange à descrença de ambos na ressurreição, é o próprio versículo seguinte, que diz:

“Então o levaram a uma reunião do Areópago, onde lhe perguntaram: ‘Podemos saber que novo ensino é esse que você está anunciando? Você está nos apresentando algumas ideias estranhas, e queremos saber o que elas significam” (Atos 17:18-19)

Para eles, o que Paulo estava pregando sobre a ressurreição era um ensino novo, algo que eles não conheciam, certamente algo que eles eram contra. Convenhamos: se Paulo negasse a ressurreição da carne assim como os gregos negavam, será que os gregos iriam dizer que aquele ensino era “novo”? É claro que não. Só faz sentido se Paulo cresse na ressurreição da carne! É por isso que eles diziam que as ideias de Paulo eram “estranhas”, porque não satisfaziam os gregos, que nunca creram em ressurreição da carne. E esse foi o motivo da discórdia entre Paulo e os gregos: a ideia de ressurreição da carne era um “escândalo” para eles:

“Quando ouviram sobre a ressurreição dos mortos, alguns deles zombaram, e outros disseram: ‘A esse respeito nós o ouviremos outra vez’. Com isso, Paulo retirou-se do meio deles’” (Atos 17:32-33)

Os gregos zombavam de Paulo, porque eles sempre rejeitaram a ressurreição da carne, achavam loucura, achavam impossível de acontecer. Quando Paulo tentou convencê-los de uma ressurreição física, os gregos o deixaram falando sozinho! Mas Paulo, diferentemente, cria fortemente nessa ressurreição dos mortos. Bem distante dos gregos que achavam que era impossível que os mortos ressuscitassem fisicamente – pois lhes parecia loucura – Paulo cria da seguinte maneira:

“Agora, estou sendo julgado por causa da minha esperança no que Deus prometeu aos nossos antepassados. Esta é a promessa que as nossas doze tribos esperam que se cumpra, cultuando a Deus com fervor, dia e noite. É por causa desta esperança, ó rei, que estou sendo acusado pelos judeus. Por que os senhores acham impossível que Deus ressuscite os mortos?” (Atos 26:6-8)

Os gregos criam que era impossível Deus ressuscitar fisicamente os mortos e zombavam dos que criam nisso; Paulo, contudo, tanto cria que era possível como também aceitava ser julgado com base nessa esperança! Aleluia! É evidente que Paulo se referia a uma ressurreição física, pois era a ressurreição da carne que os saduceus e os gregos de sua época rejeitavam como sendo “impossível”, “loucura” e “escândalo”, e não uma “ressurreição espiritual”. Paulo estava dizendo que aquilo que para os pagãos era impossível e impensável – a crença em uma ressurreição corporal – era a sua maior esperança!

E o que estes hereges e anticristãos gnósticos do século XXI tem a nos dizer sobre isso?

“Então Paulo, sabendo que alguns deles eram saduceus e os outros fariseus, bradou no Sinédrio: ‘Irmãos, sou fariseu, filho de fariseu. Estou sendo julgado por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos!’ Dizendo isso, surgiu uma violenta discussão entre os fariseus e os saduceus, e a assembleia ficou dividida (os saduceus dizem que não há ressurreição nem anjos nem espíritos, mas os fariseus admitem todas essas coisas). Houve um grande alvoroço, e alguns dos mestres da lei que eram fariseus se levantaram e começaram a discutir intensamente, dizendo: ‘Não encontramos nada de errado neste homem. Quem sabe se algum espírito ou anjo falou com ele?’ A discussão tornou-se tão violenta que o comandante teve medo que Paulo fosse despedaçado por eles. Então ordenou que as tropas descessem e o retirassem à força do meio deles, levando-o para a fortaleza” (Atos 23:6-10)

Olhem só que interessante. Paulo, que, como já vimos, cria em ressurreição do corpo físico, se dizia fariseu, pois os fariseus também criam em ressurreição da carne. Na verdade, esse era um dos pontos principais que dividiam fariseus de saduceus: os fariseus criam em ressurreição física, os saduceus não. E a assembleia onde Paulo estava sendo julgado estava repleta de fariseus e saduceus, isto é, de pessoas que criam em ressurreição física e de pessoas que negavam a ressurreição física. Que momento mais perfeito para Paulo se juntar aos saduceus em sua descrença na ressurreição física, caso ele cresse que não há ressurreição da carne!

Porém, para o desgosto e total ruína dos neo-gnósticos e hereges que negam a ressurreição da carne, Paulo, ao contrário, se juntou exatamente aos fariseus que criam na ressurreição física! Ele disse: “sou fariseu, filho de fariseu. Estou sendo julgado por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos” (v.6). Que Paulo estava se referindo a uma ressurreição física, isso fica óbvio a partir dos seguintes fatos:

1º Por Paulo ter se juntado aos fariseus neste assunto. Se a ressurreição de que o texto trata não fosse a ressurreição física, mas somente uma “espiritual”, então ele teria se juntado aos saduceus que negavam a ressurreição física, e não aos fariseus que criam em ressurreição da carne. O fato de ele ter se juntado aos fariseus neste assunto prova de que a ressurreição de que o texto se refere é realmente a física, que os fariseus criam, e que Paulo se posiciona favorável, em contraste e discordância com a crença dos saduceus que negavam a ressurreição da carne.

2º Pelo fato dos saduceus terem reagido violentamente contra Paulo. Se a ressurreição de que o texto trata não se refere a uma ressurreição física, mas Paulo a negasse, então os saduceus não iriam reagir violentamente contra Paulo, pois estes creriam da mesma forma que ele, ambos rejeitariam a ideia de uma ressurreição da carne! Por que os saduceus tiveram tamanha reação contra Paulo, ao ponto de “se tornar tão violenta que o comandante teve medo que Paulo fosse despedaçado por eles” (v.10)? A razão é óbvia: Paulo estava se juntando aos fariseus em um ponto onde os saduceus criam completamente diferente! Ou em termos mais simples: Paulo cria em ressurreição da carne e os saduceus não!

3º O fato de Lucas, o escritor de Atos, ter feito o contraste entre ambas as crenças no verso 8: “os saduceus dizem que não há ressurreição nem anjos nem espíritos, mas os fariseus admitem todas essas coisas” (At.23:8). Este contraste no que tange à crença de fariseus e saduceus no quesito da ressurreição não pode ser outro senão o fato de que um grupo cria em ressurreição física (fariseus), enquanto o outro não cria nisso (saduceus). Qualquer outra interpretação que levasse o texto a dar entender uma “ressurreição espiritual” entraria em confusão, tendo em vista que os fariseus não criam em uma ressurreição meramente espiritual, mas física. O texto está claramente traçando um nítido contraste entre um grupo que crê em ressurreição física e outro que não. A análise dessa explicação de Lucas também evidencia de que a ressurreição que o texto trata é a ressurreição da carne.

Portanto, a ideia de que o texto não se refere a uma ressurreição física é completamente falsa, espúria, digna de “apologistas” amadores que não sabem ao menos ler um texto bíblico e fazer uma exegese simples em cima dele. O que constatamos sem a menor sombra de dúvidas é o fato de que o texto está falando da ressurreição da carne. E aí voltamos àquilo que Paulo declarou no verso 6:

“Irmãos, sou fariseu, filho de fariseu. Estou sendo julgado por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos!” (Atos 23:6)

Paulo tinha a esperança de uma ressurreição física dos mortos, de que o texto trata! Os saduceus, os gnósticos, os preteristas completos e outros grupos sectários não podem suportar essa realidade, é um escândalo para eles, eles lamentavelmente “acham impossível que Deus ressuscite os mortos” (At.26:8). Pena para eles que não apenas Paulo, mas o próprio Senhor Jesus ensinou a ressurreição física dos mortos no último dia:

“Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados” (João 5:28-29)

Incrivelmente, acredite: há gente que se julga “apologista” e ainda consegue dizer que um texto tão claro como esse não diz nada sobre ressurreição física! Meu Deus! Menos preocupante é saber que tais pessoas não fazem isso por ignorância, mas por cegueira, isto é, porque já estão decididos a não crerem assim. Porque se não estivessem cegos, perceberiam que:

1º O texto está falando daqueles que “estiverem nos túmulos” (v.28). Isso pode ser meio difícil para os grandes apologistas anti-ressurreição responderem, mas o que é que está no túmulo??? Se a resposta não for um corpo físico, então realmente não é cegueira, é idiotice mesmo! É óbvio, óbvio, óbvio… que o texto está falando da ressurreição de um corpo físico!

2º Interessante também é o fato de Cristo ter dito que estes corpos físicos que estão nos túmulos “sairão” (v.28). Agora eu queria que estes grandes apologistas anti-ressurreição me respondessem: sairão para onde, se não existe ressurreição da carne??? Ora, se o corpo físico que está no túmulo não vai ressuscitar coisa nenhuma, mas a ressurreição é “puramente espiritual”, como os hereges ensinam, então Jesus não teria dito que este corpo “sairia”; muito pelo contrário, teria dito que ele continuaria por lá mesmo, no túmulo, para sempre, até apodrecer e virar pó de novo, afinal… não existe ressurreição da carne, não é mesmo? Falta responder: sair pra onde, se não existe ressurreição?!?

3º Já vimos que a ressurreição é do corpo físico que está no túmulo e que tais corpos físicos sairão para algum lugar. Agora resta responder: sairão para onde? Isso o próprio Cristo responde logo na sequencia: “os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados” (v.29). Ou seja: os corpos físicos que ressuscitarão sairão para a vida (os que tiverem feito o bem), e os corpos físicos daqueles que praticaram o mal sairão para serem condenados. Ponto final. Acabou o gnosticismo. Acabaram os saduceus. Está exterminado o preterismo completo. Para o lixo todas as interpretações manipuladas que desmentem o óbvio daquilo que o texto diz claramente:

-Que os corpos físicos que estão nos túmulos ouvirão a voz de Cristo.

-Que estes corpos físicos “sairão” para algum lugar.

-Que este lugar onde os corpos físicos ressurretos sairão será para a vida ou para a condenação.

Eu ainda me impressiono por ter que ficar demonstrando coisas tão óbvias, mas é necessário, tendo em vista a dificuldade que certas pessoas tem em ler um texto tão simples, quando desmorona com as suas crenças pessoais, é claro. Pior ainda é a interpretação deles deste texto tão óbvio de Paulo:

“E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês” (Romanos 8:11)

Paulo está falando de um corpo mortal, está falando da carne, e ele diz que será “vivificado” (“dará vida” – NVI). Por incrível que pareça, eles insistem em dizer que este “vivificará seus corpos mortais” não é uma referência à ressurreição, mas sim a “dar uma vida espiritual, uma nova vida”. Isso, como todos podem perceber, é uma grotesca e gritante adulteração em todo o contexto, que:

1º Está traçando um paralelo, uma analogia, com a ressurreição de Cristo. Será que Cristo teve “uma nova vida espiritual”? É claro que não. Só nasce de novo para uma nova vida aquele que pecou e por isso necessita nascer de novo (espiritualmente). Mas Cristo não pecou. Portanto, o texto está falando de uma ressurreição física, como a ressurreição que Jesus teve. Em lugar nenhum nas Escrituras está escrito que Cristo “ressuscitou espiritualmente”; ao contrário, a ressurreição de Jesus foi real, física, corporal (Lc.29:39-43; At.2:30; Jo.1:19-21). Portanto, o texto está falando de uma ressurreição física, e não de uma espiritual.

2º Já vimos que o texto está falando de uma ressurreição física, como a que Jesus teve. De que forma que isso reforça o fato de que a nossa ressurreição, ressaltada neste texto, é física também, da mesma forma que a de Cristo foi? Isso podemos presumir por duas razões principais: primeiro, porque o texto está traçando uma analogia, um paralelo entre a ressurreição de Cristo e a nossa. Paulo diz que o Espírito que ressuscitou Cristo também nos ressuscitará. Se a analogia está sendo formada entre nós e Cristo, se presume que a nossa ressurreição é do mesmo “tipo” da de Cristo.

Isso é reforçado, em segundo lugar, por causa do “também” que Paulo emprega (“também vivificará a seus corpos mortais”). Este “também” mostra que Paulo estava fazendo uma analogia, Deus ressuscitou fisicamente Cristo, também vivificará fisicamente a nós. Corrobora com isso o fato de que vivificar, biblicamente, tem muitas vezes o mesmo sentido de “ressuscitar” (o sentido de “conceder vida” a algo que está morto). Se a “ressurreição” ou “vivificação” neste verso está em sentido figurado, então Paulo poderia dar razões a quem cresse que a ressurreição de Cristo, neste mesmo contexto e em posição análoga à nossa, fosse também figurada!

3º Paulo usa o termo “corpo” em sentido literal em todo o livro de Romanos (1:24, 4:19; 6:12; 7:4; 8:10, 11, 13, 23; 12:1), portanto, dizer que só aqui ele aplicou em sentido distinto é ir contra a exegese do livro. Quando Paulo quis se referir a uma natureza pecaminosa que passaria por transformação para uma nova vida espiritual, ele nunca aplicou a palavra “corpo” (no grego, soma), mas sim “carne” (no grego, sarx). No capítulo 6, ele fala do corpo (soma) em que reina o pecado (6:12), e o corpo (some) sujeito a morte (7:24). Se interpretarmos corpo-soma como sendo a “natureza pecaminosa”, então Paulo estaria dizendo que a nossa natureza pecaminosa é morta por causa do pecado, o que é um absurdo! Quando Paulo se referia à natureza pecaminosa, ele aplicava sarx, e não soma, como por exemplo:

“Portanto, irmãos, estamos em dívida, não para com a carne (sarx), para vivermos sujeitos a ela” (Romanso 8:12)

“Quem é dominado pela carne (sarx) não pode agradar a Deus” (Romanos 8:8)

“Quem vive segundo a carne (sarx) tem a mente voltada para o que a carne deseja; mas quem, de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o Espírito deseja” (Romanos 8:5)

“Porque, aquilo que a lei fora incapaz de fazer por estar enfraquecida pela carne (sarx)…” (Romanos 8:3)

“A mentalidade da carne (sarx) é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo” (Romanos 8:7)

Os exemplos se multiplicam aos montões, provando que quando Paulo queria se referir à natureza pecaminosa que necessita de uma nova vida espiritual por meio de Cristo, ele nunca aplicava “corpo” (soma), mas “carne” (sarx), que em certo sentido significa a natureza pecaminosa do ser humano corrompida como um todo, ao passo que corpo-soma é relacionado ao corpo físico que temos. Mas em Romanos 8:11 Paulo aplica “corpo” (soma), e não “carne” (sarx), o que prova que ele estava se referindo de fato ao corpo físico, e não a uma natureza pecaminosa necessitada de transformação espiritual.

4º Finalmente, deve-se ressaltar também que todos os crentes já ressuscitaram espiritualmente, este não é um acontecimento futuro! Ora, o texto de Romanos 8:11 coloca a vivificação do corpo mortal como sendo um acontecimento lançado para o futuro, ao dizer que Deus “dará vida a seus corpos mortais”. Dará vida ou vivificará são termos no futuro, não se trata de algo que já tenha acontecido, mas de uma coisa que ocorrerá futuramente, que ainda está para acontecer. O problema com a interpretação de que o texto se refere a uma ressurreição espiritual é precisamente o fato de que nós espiritualmente já ressuscitamos, como o próprio Paulo afirmou em outra carta:

“Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus” (Colossenses 3:1)

Quando Paulo fala da ressurreição espiritual, ele diz que nós já ressuscitamos com Cristo, pois a nossa ressurreição espiritual não é um acontecimento ou evento futuro, mas algo que ocorre no momento da conversão de cada crente, que passa a crer em Cristo Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal. Ou seja, a ressurreição espiritual é um fato passado, ao passo de que a ressurreição física é um acontecimento futuro, pois só ocorre na segunda vinda de Cristo:

“Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem” (1ª Coríntios 15:22-23)

Perceberam? A ressurreição espiritual é um acontecimento passado, enquanto que a ressurreição física é algo futuro. Agora, cabe perguntar: qual o tempo verbal que Paulo empregou em Romanos 8:11? Vejamos uma última vez:

“E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também vivificará a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês” (Romanos 8:11)

Vivificará = Futuro!

Portanto, Paulo estava se referindo a uma vivificação futura, o que não condiz com a ressurreição espiritual, que é passada, uma vez que Cristo já morreu pelos nossos pecados e já ressuscitou para a nossa justificação (Rm.4:25). Logo, se não é de ressurreição espiritual que o texto se refere, só pode ser de ressurreição física! E disso todas as provas que vimos nos evidenciam sem qualquer contestação séria, tais como o fato de Paulo se referir à ressurreição de Cristo (que foi física e não espiritual) no mesmo contexto, de fazer uma analogia com a nossa própria ressurreição (o que implica que também será física), de empregar o termo grego para “corpo-soma” que aparece sempre em sentido de corpo físico e não de natureza pecaminosa (que é “carne-sarx” e não “corpo-soma”), e de empregar o tempo verbal no futuro, resolvendo decididamente a questão, uma vez sendo que a a nossa ressurreição espiritual já aconteceu (no passado – Cl.3:1), enquanto a nossa ressurreição física acontecerá (no futuro – 1Co.15:22,23; 1Ts.4:15; Rm.8:11; Jo.5:28,29).

CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

É, não adianta. Os sectários e anti-ortodoxos podem berrar, chorar e espernear a vontade, maaasss…. não conseguirão nunca se opor à clareza das Escrituras, sem verem as suas alucinações sendo refutadas por uma exegese séria que coloca no chão todas as manipulações deles em favor da heresia. Eu tenho muitos outros textos a passar, mas como não quero que este artigo se estenda demasiadamente (e admito que já ficou grande demais) irei terminar o presente artigo por aqui, e nos próximos irei abordar também o capítulo inteiro de 1ª Coríntios 15, que é o maior texto-chave sobre a ressurreição dos mortos, junto a outras várias passagens bíblicas, a refutações das outras alucinações dos neo-gnósticos e aos escritos dos Pais da Igreja que tanto lutaram para defender a fé cristã contra essa heresia tão perigosa e anticristã, que é a negação da ressurreição do corpo físico.

De minha parte, eu apenas posso dizer que fico bem espantado – sim, chocado, aterrorizado, atônito, diante do fato de que existe gente neste planeta que, em pleno século XXI, tendo a Bíblia claramente exposta à sua frente junto a todos os documentos históricos da Igreja Cristã Primitiva, ainda tenha a audácia, a coragem, a ousadia e a vergonha na cara de negar descaradamente o ensino ortodoxo e sempre crido por todos os apóstolos, por Jesus Cristo e por todos os Pais da Igreja, por todos os Credos, por todas as Confissões de Fé, por todos os Reformadores, por todas as Igrejas Protestantes tradicionais e ortodoxas, dizendo que não existe ressurreição da carne!

Tais pessoas se unem aos grupos mais heréticos e sectários da história, estando contra os cristãos e ao lado dos gnósticos, dos saduceus e de seitas heterodoxas, não-cristãs, não-ortodoxas, mais preocupadas em ajustar o seu Cristianismo aos moldes da filosofia grega para ser mais atraente à incredulidade dos pagãos e a achar impossível que Deus possa ressuscitar fisicamente os mortos.

A verdade que está por trás disso tudo é que tais pessoas não negam a ressurreição da carne por chegarem a essa conclusão através de uma análise sincera e honesta das Escrituras, mas sim porque precisam ajustar a crença da ressurreição às suas próprias convicções teológicas acerca de outros temas, como o preterismo completo, que os obriga a chegarem às mais absurdas interpretações sobre a ressurreição, pois lendo a Bíblia sozinho sobre um assunto de tão fácil compreensão eu tenho certeza que eles jamais chegariam a tais conclusões absurdas ensinadas pelo preterismo completo.

Resta-nos orar pelas pessoas que ainda estão em tempo de optar pela verdade bíblica, pois muitos já entraram tão fundo nessa incredulidade que já estão dispostos a negarem a fé, a Bíblia e a História para salvarem uma ridícula crença que nada vale, chamada preterismo.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli.

Refutando os neo-gnósticos que negam a ressurreição da carne – Parte 2
01:35 Lucas Banzoli No comments
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No capítulo da ressurreição, em 1ª Coríntios 15, Paulo também teria perdido uma ótima oportunidade de dizer que a ressurreição física não existe, mas apenas uma ressurreição espiritual, confirmando a incredulidade dos próprios coríntios; mas, ao contrário, reiterou a crença ortodoxa cristã na ressurreição física dos mortos. Isso porque alguns dentre os coríntios estavam pensando que não existia ressurreição física:

“Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?” (cf. 1ª Coríntios 15:12)

Como vemos, alguns falsos mestres na Igreja de Corinto estavam pervertendo a fé dos outros, ensinando que a ressurreição física não existe, assim como criam os gregos de sua época e posteriormente vieram as crer os gnósticos. Paulo passa, então, todo o capítulo refutando tal visão deturpada que tais hereges tinham. Brian Schwertley fala sobre isso nas seguintes palavras:

“Os versículos 35-58 indicam que os falsos mestres em Corinto aparentemente estavam opondo-se ao aspecto corporal da ressurreição. Apesar de não sabermos o que especificamente causou a rejeição de uma ressurreição corporal, é provável que seja por causa da influência da filosofia grega, talvez juntamente com o seu conceito pervertido da espiritualidade. À luz de 1ª Coríntios 6.13 é provável que eles consideravam a salvação do corpo como desnecessária; que o corpo físico acabaria por ser destruído. Porque eles viam o corpo físico como inferior e desnecessário, assim redefiniram a futura ressurreição de uma maneira puramente espiritual. É por esta razão que 1ª Coríntios 15 é um texto bem adequado para refutar o preterismo completo”[1]

Os neo-gnósticos são obrigados aqui a interpretarem a ressurreição de que Paulo fala como sendo uma ressurreição meramente espiritual, como um “nascer de novo”, o que mutila todo o contexto. Se a ressurreição aqui se tratasse meramente de uma espiritual, mas não física, Paulo não teria usado o caso da ressurreição física de Jesus dentre os mortos para basear a crença da ressurreição de que ele fala em todo o capítulo:

“E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (cf. 1ª Coríntios 15:13-14)

Fica nítido que a ressurreição que o capítulo trata é a ressurreição física, e não uma ressurreição meramente espiritual, ou senão a própria ressurreição de Jesus seria meramente espiritual e não-física! Jesus nunca teria ressuscitado dos mortos! Quanto a isso, Schwertley diz:

“Paulo mais uma vez vê o que os outros, aparentemente, não conseguiram ver: a ressurreição, em geral, não pode ser negada sem finalmente avançar para uma negação também da ressurreição de Cristo. Ambos permanecem e caem juntos (…) O argumento do apóstolo seria inválido se a ressurreição dos santos fosse definida de uma maneira completamente diferente da ressurreição do Redentor. Paulo está dizendo que se não há plural A, então não pode haver singular A. Se definirmos a ressurreição dos santos como meramente uma experiência espiritual ou uma metáfora para um avivamento do Israel étnico, então Paulo está comparando maçãs com laranjas. Ele estaria dizendo que se não há plural B, então não pode haver singular A”[2]

E Paulo segue o mesmo raciocínio nos versos 22 e 23:

“Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda”(cf. 1ª Coríntios 15:22,23)

Aqui ele claramente refuta a crença de que a ressurreição se refira a um acontecimento espiritual e particular na vida de cada crente, porque situa a ressurreição de todos os que estão em Cristo para a Sua segunda vinda. Mais uma vez Schwertley faz ótimas observações a este respeito:

“Não é, então, uma liberdade muito ousada com a Palavra de Deus ao dizer que apenas uma parte fracionária de ‘os que são de Cristo’ são aqui falados? Que haverá aos milhões de ‘os que são de Cristo’, que não serão ‘ressuscitados na sua vinda’, mas permanecem em seu estado mortal e sem glória sobre a terra por pelo menos mil anos depois? Aqui, pelo contrário, encontramos a geração toda do segundo Adão sendo vivificados juntos na sua vinda”[3]

Corrobora com isso também o fato de que Paulo usou o termo grego tagmati, traduzido por “ordem” no verso 23, que é uma metáfora militar, referindo-se a todo o corpo de uma tropa. O que o apóstolo quis dizer com isso é que quando Jesus voltar “todos os corpos dos crentes de toda a história humana ressuscitarão como tropas que saem juntos para assumir uma posição adequada de ordem em torno de seu líder. A expressão ‘os que são de Cristo’ (hoi tou Kristou) é abrangente. Refere-se a todo o corpo dos eleitos”[4]. Não é, portanto, um cenário de infindáveis ressurreições espirituais sucessivas para cada indivíduo em vários momentos na história da humanidade que Paulo tinha em mente, mas sim de um momento específico, a parousia (volta de Jesus), quando todos os mortos em Cristo ressuscitarão num mesmo instante.

Ademais, Paulo prossegue o capítulo falando sobre com que tipo de corpos que os mortos ressuscitarão (cf. 1Co.15:35). Isso seria incoerente se fosse apenas uma ressurreição não-física, não-corporal, mas meramente espiritual. Nós somos ressuscitados espiritualmente em vida, como disse o próprio Paulo (cf. Cl.3:1), então dizer com que corpos que os mortos ressuscitarão no futuro é algo simplesmente sem qualquer sentido na visão gnóstica. Paulo, em seguida, passa a refutar as objeções daqueles falsos mestres em Corinto que duvidavam da ressurreição, chamando-os de “insensatos”:

“Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão? Insensato!o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente. Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo” (cf. 1ª Coríntios 15:35-38)

A palavra aqui traduzida por “insensato” vem do grego aphrosune, que, de acordo com a Concordância de Strong, significa: “tolice, estupidez, insensatez”[5]. Paulo chamou tais falsos mestres de tolos, estúpidos ou insensatos não sem razão, mas porque eles estavam colocando incredulidade acerca da realidade da ressurreição naquela igreja. E, na sua descrença de que a ressurreição física pudesse acontecer, desafiavam com perguntas difíceis, tais como a que Paulo teve que responder, sobre como ressuscitarão os mortos e com que tipo de corpo virão. Como Paulo cria na ressurreição da carne, ele não apenas respondeu a estes falsos mestres, como também criticou severamente a insensatez deles.

Isso lembra muito a discussão que o próprio Senhor Jesus teve sobre esse mesmo tema, a ressurreição física dos mortos, quando os saduceus, que não creem na ressurreição, tentaram lhe provar com uma pergunta difícil, dizendo-lhe:

“No mesmo dia chegaram junto dele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, dizendo: Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, casará o seu irmão com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. Ora, houve entre nós sete irmãos; e o primeiro, tendo casado, morreu e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão. Da mesma sorte o segundo, e o terceiro, até ao sétimo; por fim, depois de todos, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, visto que todos a possuíram? Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu” (cf. Mateus 22:23-30)

Aqui obviamente o assunto era a ressurreição física, a qual não era crida pelos saduceus, mas era crida por Jesus. Este, ao invés de responder simplesmente que também não cria em uma ressurreição da carne, lhes refuta, porque não compartilhava da descrença deles. Não há espaço aqui para a crença de que a ressurreição se resume a uma ressurreição espiritual em vida, pois o assunto é a vida após a morte que se consuma na ressurreição, o que fica nítido no versos 28 e 30. Os saduceus não criam nessa ressurreição física para uma outra vida, mas Jesus sim. A resposta de Jesus contradizendo os fariseus foi tão forte ao ponto que “a multidão ficou maravilhada com o seu ensino” (cf. Mt.22:33).

Paulo, da mesma forma que Jesus, foi desafiado por falsos mestres que não criam na ressurreição da carne. Mas, dessa vez, o desafio foi outro: sobre com que tipo de corpo virão. Ele, então, passa a fazer uma analogia apropriada com as sementes (vs. 36-39), que não faria sentido caso não houvesse a ressurreição de um corpo físico, pois, como diz Geisler, “asemente que vai para a terra produz mais sementes da mesma espécie, não sementes imateriais. É nesse sentido que Paulo pôde dizer: ‘não semeias [não fazes morrer] o corpo que há de ser’, já que ele é imortal e não pode morrer. O corpo ressuscitado é diferente por ser imortal (1 Co 15:53), não por ser um corpo imaterial”[6].

Nem mesmo o verso 44, em que Paulo diz que ressuscitaria um “corpo espiritual”, serve de apoio para as teses gnósticas, visto que por “corpo espiritual” ele não quis dizer “corpo imaterial”, mas sim um corpo sobrenatural. A mesma expressão grega aqui traduzida por “espiritual” (pneumotikos) também é várias vezes usada por Paulo em suas epístolas para se referir a coisas físicas, tais como a “rocha espiritual” (cf. 1Co.10:4) que seguia os israelitas no deserto, que nada mais era senão uma rocha física, produzida de forma sobrenatural – por isso “espiritual”. A Lei de Moisés foi chamada por Paulo de “lei espiritual” (cf. Rm.7:14), embora fosse física, escrita em tábuas, e não imaterial. Paulo também falou sobre o “homem espiritual” (cf. 1Co.2:15), que obviamente não é um homem não-físico, mas alguém dirigido pelo Espírito Santo. Norman Geisler e Thomas Howe acrescentam:

“Um corpo ‘espiritual’ é um corpo imortal, não um corpo imaterial. Um corpo ‘espiritual’ é aquele que é dominado pelo espírito, não um corpo desprovido de matéria. A palavra grega pneumatikos (nessa passagem traduzida como ‘espiritual’) significa um corpo dirigido pelo espírito, em oposição ao que está sob o domínio da carne. Ele não é governado pela carne que perece, mas pelo espírito que permanece (1 Co 15:50-58). Assim, ‘corpo espiritual’ não significa corpo imaterial e invisível, mas imortal e imperecível (…) Todo o contexto indica que ‘espiritual’ (pneumatikos) poderia ser traduzido por ‘sobrenatural’ em contraste com ‘natural’. Isto fica claro pelos paralelos de ‘corruptível’ e ‘incorruptível’, ‘imortal’ e ‘imortal’. Com efeito, esta mesma palavra grega (pneumatikos) é traduzida como ‘sobrenatural’ em 1 Coríntios 10:4, que fala de uma rocha sobrenatural ‘que os seguia’ no deserto”[7]

Finalmente, Paulo fulmina o gnosticismo nos versos 51 ao 53, dizendo:

“Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (cf. 1ª Coríntios 15:51-53)

Como Paulo poderia não crer em uma ressurreição física, se ele cria que os mortos serão transformados em imortais e incorruptíveis num momento, em um abrir e fechar de olhos, e somente na última trombeta, no mesmo momento em que os salvos serão transladados vivos? Se a ressurreição fosse meramente espiritual para cada crente e não existisse uma ressurreição física geral dos mortos no último dia, tal coisa não ocorreria somente ao soar da última trombeta, mas em diferentes épocas ao longo de toda a história da humanidade para cada crente em particular, e não seria um evento único que ligaria os vivos e os mortos por ocasião da parousia.

Além disso, não haveria o contraste entre os mortos e os vivos, pois todos os que espiritualmente ressuscitariam teriam sua ressurreição consumada em vida. E nunca a nossa natureza corruptível seria transformada em uma natureza incorruptível, nem a mortalidade se revestiria de imortalidade, pois sendo essa ressurreição espiritual e ocorrendo em vida quando o pecador se converte ele não se transforma em incorrupto e imortal por causa disso e naquele mesmo momento. Tudo aquilo que Paulo dizia não passaria de uma farsa, um engano, a maior mentira de todos os tempos.

A não ser que Paulo e os demais cressem que, de fato, Cristo ressuscitou fisicamente e que isso garante a nossa própria ressurreição física, pois o que eles tanto pregavam era a ressurreição da carne, e não uma fantasia inventada pelos gnósticos completamente diferente daquilo que Cristo e os apóstolos ensinaram, e que “não é melhor do que a doutrina dos modernistas, ateus ou filósofos gregos, negando a ressurreição por redefinição”[8].

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

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