Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Elohim verdadeiro, e a Yeshua o Messias, a quem enviaste. JOÃO 17:3
A Tentação de Yeishua
A Tentação de Yeishua
Ao lermos a narrativa da tentação de Yeishua no deserto há uma coisa que se torna evidente: Yeishua respondeu sempre às provocações de Satanás citando passagens das Sagradas Escrituras.
Será legítimo pensar que Aquele que inspirou Moisés a escrever o Seu Nome nestas passagens da Tora não as citasse tal e qual as inspirou, ou seja, com o Nome? Não me parece.
Outra coisa que salta à vista ao ler a narrativa deste episódio é que Satanás não usa o Nome uma única vez mas apenas ‘El’ (Deus). Outro episódio em que isto acontece é quando Satanás engana Eva. Eva conhecia e usava o Nome de Deus (Gn 4:1) mas a serpente não o faz uma única vez.
O Julgamento de Yeishua
Para compreendermos o que na realidade se passou no julgamento de Cristo é necessário primeiro fazer uma resenha histórica para compreendermos a realidade da altura.
O Sinédrio julgava crimes civis e religiosos mas, estando debaixo da autoridade romana, os seus juízos tinham de ser supervisionados por esta (Act.22:30). O Talmude de Jerusalém (Sinédrio 18a) diz-nos que 40 anos antes da destruição do Templo, ou seja, no ano 30 d.C. (por volta da altura da morte de Cristo) os romanos retiraram aos judeus a possibilidade de executar sentenças de morte (João 18:31). No entanto, esta limitação, na práctica, abrangia apenas crimes civis pois os romanos não se queriam envolver em assuntos religiosos (Act.18:14-16; 23:29; 25:19;). O mesmo se passa no caso de Cristo (João 19:6-7). De acordo com a Lei judaica os únicos crimes passíveis de pena de morte eram a profanação do Templo (Núm.4:15)83 e blasfémia contra o Nome de Deus (Lev.24:15-16 ver análise desta passagem no capítulo “Porquê o Encobrimento”).
“15 E aos filhos de Israel falarás, dizendo: Qualquer que amaldiçoar o seu Deus, levará sobre si o seu pecado. 16 E aquele que blasfemar o nome de hwhy, certamente morrerá; toda
83 Josefo em “A Guerra Judaica II:231” diz-nos que no ano 50 d.C um soldado romano foi mandado executar pelo procurador Cumanus por profanação do Templo por ter rasgado um rolo da Tora.
a congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o nome de hwhy, será morto.” (Lv 24:15-16)
Estando os fariseus ansiosos por eliminar Cristo (Mt. 26:4,59) tentaram incriminá-lo com a única acusação pela qual o poderiam matar – blasfémia. Ora se é verdade que Cristo usou o Nome de Deus publicamente durante o Seu ministério também é verdade que não o blasfemou, portanto, é evidente que quaisquer testemunhas que se pronunciassem nesse sentido seriam testemunhas falsas, como na realidade aconteceu. Aqui é necessário dizer que, por esta altura, a proibição do uso do Nome, embora já há muito em uso, ainda estava numa fase intermédia. A proibição definitiva só surge em 150 d.C. pela pena do Rabi Saul. Ninguém, nesta altura seria condenado à morte pela simples pronúncia do Nome a menos que fosse num contexto de blasfémia84.
Analisemos então os acontecimentos:
“59 Ora, os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos, e todo o conselho, buscavam falso testemunho contra Yeishua, para poderem dar-lhe a morte; 60 E não o achavam; apesar de se apresentarem muitas testemunhas falsas, não o achavam. Mas, por fim chegaram duas testemunhas falsas, 61 E disseram: Este disse: Eu posso derrubar o templo de Deus, e reedificá-lo em três dias. 62 E, levantando-se o sumo sacerdote, disse-lhe: Não respondes coisa alguma ao que estes depõem contra ti? 63 Yeishua, porém, guardava silêncio. E, insistindo o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. 64 Disse-lhe Yeishua: Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu. 65 Então o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou; para que precisamos ainda de testemunhas? Eis que bem ouvistes agora a sua blasfémia. 66 Que vos parece? E eles, respondendo, disseram: É réu de morte.” (Mt 26:59-65)
Notem bem a frase ‘Templo de Deus’ no versículo 61. Esta frase nunca aparece nos Escritos hebraicos mas sim ‘Templo de IAHUEI’. Será que na realidade Yeishua estava a ser acusado de proferir o Nome de IAHUEI na frase ‘Templo de IAHUEI’?
No versículo 64 a palavra ‘Poder’ é um eufemismo comum para IAHUEI. Terão sido estas exactamente as palavras de Yeishua? Creio que não, pois a frase tal como se apresenta não constitui em si mesma qualquer blasfémia e a reacção do sumo- sacerdote não se entenderia caso tivessem sido estas as palavras exactas de Yeishua.
As palavras proferidas por Yeishua são uma combinação de duas passagens:
“ Disse IAHUEI ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.” (Sl 110:1)
“Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele.” (Dn 7:13)
84 Isto explica porque é que Cristo pôde ler o texto de Isaías 61:1-2 publicamente na Sinagoga sem que tenha por isso sofrido quaisquer consequências. O Tetragrama aparece por mais de uma vez nesse texto. Se Yeishua estava a citar os dois textos tal como eles aparecem nas Escrituras hebraicas o que ele teria dito seria:
“Digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita de IAHUEI, e vindo sobre as nuvens do céu.”
Analisemos agora a reacção do sumo-sacerdote. A Mishna85 esclarece-nos bastante acerca deste assunto:
“Aquele que blasfema é imputável apenas se pronunciar o Nome Divino. Disse o R. Joshua ben Qorha: “durante todos os dias do julgamento as testemunhas são examinadas recorrendo ao uso de um nome substituto… quando o julgamento terminar eles não o podem executar com o eufemismo por isso evacuam a sala e perguntam à testemunha mais importante: ‘Diz, o que ouviste exactamente?’ E ele dirá o que ouviu. Os juizes levantar-se-ão e rasgarão as suas vestes”” (Mishna do Sinédrio 7:5)
Esta passagem da Mishna instrui-nos acerca de várias coisas:
1. A acusação de blasfémia só se aplica quando alguém amaldiçoa Deus pronunciando o Nome Divino – Yeishua foi acusado de blasfémia logo a questão tem de ser obrigatoriamente a pronúncia do Nome;
2. Durante o decorrer do julgamento as testemunhas empregavam um eufemismo – a testemunha falou em ‘Templo de Deus’ uma expressão nunca usada nas Escrituras que referem sempre ‘Templo de IAHUEI;
3. Em circunstâncias normais a sala seria evacuada para que o menor número de pessoas possível ouvisse a testemunha principal a pronunciar o Nome mas neste caso Yeishua surpreendeu toda a gente ao fazer uma das suas afirmações “blasfemas” à frente de todos. O Sumo-Sacerdote afirma que as testemunhas deixaram de ser necessárias pois o acusado confirmou as acusações à frente de toda a gente;
4. Os juizes levantam-se e rasgam as vestes – foi precisamente o que Caifás fez.
Portanto Yeishua é condenado por pronunciar o Nome Divino e não por responder afirmativamente à pergunta de Caifás se ele era o Messias. Ao longo da sua história a nação judaica teve vários auto-proclamados Messias e isso só por si não era blasfémia.
Conforme vimos atrás, a simples pronúncia do Nome também não era blasfémia. Só o seria se Cristo tivesse amaldiçoado Deus usando o Seu Nome o que sabemos que Ele nunca fez. Assim, a decisão do Sinédrio é muito forçada. Tal era a vontade que tinham de o matar que aligeiraram a interpretação da Lei para que a simples pronúncia do Nome fosse passível da pena de morte. Aliás, de acordo com o relato, apenas Caifás rasgou as vestes o que mostra que a conclusão não era
85 A primeira parte do Talmude (e a mais antiga). unânime entre os membros do Sinédrio. Também vemos isso quando ele pergunta aos demais presentes “Que vos parece?” o que parece indicar que, tendo sido o único a rasgar as vestes ele teve necessidade de confirmar se teria o apoio dos restantes juizes. A resposta também é significativa: “É réu de morte”. Ora, réu de morte era ele desde o início pois era a Sua vida que estava em jogo e era nesse sentido que apontavam os depoimentos das falsas testemunhas. Para que fosse confirmada a sentença, os demais membros do Sinédrio teriam de dizer “É condenado à morte”, o que não foi o caso pois eles não tinham poder para isso. Porque a condenação e execução de penas de morte estava sob a alçada dos romanos e porque estes não se mostravam dispostos a executar tais penas no caso de crimes religiosos, os judeus converteram a acusação num crime de lesa- majestade que já é um crime civil (Luc. 23:1-2). Ainda assim Pilatos não o achou culpado de tal acusação (Luc.23:13-14)
De acordo com Hegésipo (citado por Eusébio), o irmão de Yeishua, Yakov (Tiago), Rabi da congregação de Jerusalém e principal lider da comunidade Nazarena, terá sido morto após pronunciar também a frase “Digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu.” Terá ele também sido morto por pronunciar o Nome?