Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Elohim verdadeiro, e a Yeshua o Messias, a quem enviaste. JOÃO 17:3
LUCAS 16:16 Esse texto afirma que a Lei de Deus vigorou apenas até a vinda de João Batista?
LUCAS 16:16 Esse texto afirma que a Lei de Deus vigorou apenas até a vinda de João Batista?
Autor: Pastor Guilherme Nunes Lição Bíblica 273, sábado, 05 de novembro de 2005
OBJETIVO: Através da análise do contexto bíblico, mostrar ao estudante que, em Lc 16:16, Jesus não aboliu a lei de Deus, e, por isso, os salvos por ele não estão desobrigados de a praticarem.
TEXTO BÁSICO: A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo homem emprega força para entrar nele. (Lc 16:16)
INTRODUÇÃO: Nos estudos antecedentes, explicamos os textos da Bíblia que mais causam polêmica, quanto à dieta cristã, e provamos que a doutrina da abstinência de alimentos impuros não foi abolida na Nova Aliança firmada por Cristo. A partir de agora, passaremos a explicar nove textos sagrados sobre a lei de Deus, cuja expressão maior é os Dez Mandamentos, a fim de provarmos que ela, a exemplo da abstinência, não foi abolida por Cristo.
É fato que a maioria das discussões cristãs sobre a lei de Deus é marcada por extremos: de um lado, os legalistas (a favor da lei) afirmam que a salvação é conseguida somente pela guarda dos mandamentos; de outro, os antinomistas (contra a lei) afirmam que a salvação é conseguida sem a guarda dos mandamentos. De seu lado, o legalismo enaltece a lei e despreza a graça; por sua vez, o antinomismo enaltece a graça e despreza a lei. Nos extremos em que se colocaram, ambas as visões estão afastadas da verdade do evangelho de Cristo.
A igreja do Senhor Jesus não pode se posicionar por nenhum desses extremos; ela deve buscar compreender corretamente esses pontos que fazem parte dos fundamentos da salvação. Por essa razão, é necessário deixar as paixões de lado e assumir a posição de equilíbrio que a Bíblia apresenta, isto é, que a salvação é adquirida única e exclusivamente pela graça de Deus, através da fé em Jesus Cristo (At 15:11; Rm 5:15, 11:6; Ef 2:1-10; Hb 2:9), mas que é um processo: tem início (I Pe 1:3,18, 4:3), meio (I Pe 1:14-16, 2:1) e fim (I Pe 1:7, 5:7,10). Por essa razão é que Jesus dá aos salvos seu eterno poder e os capacita a obedecer aos mandamentos de Deus (Ap 12:17, 14:12).
Como contribuição para a busca desse equilíbrio, neste estudo, analisaremos as palavras de Jesus, em Lc 16:16, à luz do seu contexto, a fim de provarmos que o Deus da graça, o Salvador Jesus, não invalidou ou aboliu os mandamentos divinos.
I – A INTERPRETAÇÃO ERRADA
Os antinomistas afirmam que a lei de Deus foi abolida e usam Lc 16:16 na tentativa de incutir na mente dos incautos que essa suposta inutilidade da lei divina teria sido feita por Cristo. Dizem tais pessoas que, se a lei durou até João, os cristãos não lhe estão mais sujeitos e que, hoje, a graça os isenta de qualquer responsabilidade ou obediência aos ditames divinos. Segundo o teólogo Linder, o antinomismo … refere-se à doutrina de que não é necessário aos cristãos pregarem ou obedecerem à lei moral do Antigo Testamento [e por essa razão] alguns tem ensinado que uma vez que as pessoas são justificadas pela fé em Cristo, já não tem qualquer obrigação para com a lei moral, porque Jesus os libertou.[1]
Esse ataque à lei divina é fruto de uma má aplicação das regras de interpretação das Escrituras (hermenêutica), o que leva muitos a concluírem que Jesus estipulou o tempo determinado para a existência da lei moral, ou seja, que sua validade não ultrapassaria o ministério de João Batista. Essas interpretações deficientes afirmam que Guardar a Lei era o alvo máximo do farisaísmo. Mas este não é mais um alvo válido, hoje em dia. A Lei e os Profetas consistiam em uma fase da história da redenção, que terminou com João, último profeta daquela era. [2]
E há quem afirme que, em Lc 16:16, Jesus apenas profetizou aquilo que ele iria fazer, na cruz, após a morte de João, isto é, eliminar o “peso” da lei. Seja qual for a desculpa utilizada, os antinomistas acabam por demonstrar uma espécie de fobia à santa lei de Deus e procuram reeditar argumentos inconsistentes, na vã tentativa de mascarar a verdade, o que é impossível, porque tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar (Ec 3:14).
II – A INTERPRETAÇÃO CORRETA
Quando Jesus declarou que A lei e os profetas duraram até João, em hipótese alguma estava afirmando que a Lei de Deus e as profecias do Antigo Testamento haviam chegado ao fim. Quando analisamos o contexto imediato e amplo, percebemos que, desde 14:7, Lucas apresenta Jesus contando parábolas sobre a entrada dos pecadores no Reino de Deus. No capítulo 16, Cristo conta a parábola do administrador infiel, para condenar o mau uso das riquezas no seu Reino. Os fariseus murmuravam contra essa visão ética de Cristo, porque eles usavam o poder econômico com motivações erradas, isto é, davam esmolas aos pobres para serem bem-vistos pelos homens, seguros de que, agindo assim, estavam cumprindo a Lei e os Profetas e assegurando seu lugar no Reino do Pai. Porém, o Senhor Jesus mostrou que eles estavam enganados sobre a visão que tinham de Deus e de seu reino (Mt 6:1). Até aquele momento, os judeus conheciam a Deus através da Lei (especialmente o Pentateuco – Gênesis a Deuteronômio) e dos escritos proféticos. No Antigo Testamento, estavam descritas todas as alianças que Deus fizera com Israel, para que esse povo fosse a luz para as nações, a porta de entrada do mundo no Reino de Deus (Is 42:5-7). Mas eles se fecharam num exclusivismo rígido, porque interpretaram sua eleição como uma questão de merecimento, a ponto de odiarem os outros povos. Falharam, quebraram os acordos contidos na Lei; então, Deus levantou os profetas para denunciar a falha de Israel, chamá-lo ao arrependimento e anunciar que faria um novo e definitivo acordo que proporcionaria ao mundo inteiro condições de acesso direto ao reino de Deus, através do Messias.
O período em que Israel teve a oportunidade de ser o instrumento de Deus para salvar o mundo passou pela Lei (com Moisés), pelas profecias (com os Profetas) e veio até o precursor de Cristo (João Batista), o homem que introduziu a era messiânica. Foi nesse contexto que Jesus fez a declaração que ora analisamos. Toda a estrutura teológica do Antigo Testamento estava a serviço do Messias.
A Nova Tradução na Linguagem de Hoje – NTLH –captou bem o sentido teológico do texto, em Mateus 11:13: Até o tempo de João, todos os Profetas e a Lei de Moisés falaram a respeito do Reino. “O Reino” é o próprio Cristo. A Lei e os Profetas falavam de um período que estava começando ali, naquele momento, com Jesus; é ele mesmo quem explica isso: Enquanto ainda estava com vocês, eu disse que tinha de acontecer tudo o que estava escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos livros dos Profetas e nos Salmos (Lc 24:44 – NTLH).
Temos outro fator a favor de que Jesus, ao fazer a declaração registrada em Lc 16:16, não estava invalidando a Lei divina: Ao transpor este texto do grego para o português, na tradução RC da Bíblia, o tradutor fez uma inserção do verbo “durar”, conjugado na terceira pessoa do plural, no pretérito perfeito do indicativo – “duraram” –, ou seja, ele acrescentou ao texto essa forma verbal, que não consta nos originais.
Dessa forma, entendemos o versículo assim: A lei e os profetas, que foram dados aos judeus, como instrumentos de salvação para o mundo, serviram como instrumento divino para a manifestação do reino, e isso durou até João, que preparou o caminho para o Messias, e este, desde então anuncia definitiva e plena o reino de Deus (cf. Lc 4:43; Mc 1:14-15). Com isso, Cristo não está desprezando a Lei e os Profetas, mas declarando que é superior a todos os instrumentos utilizados até então por seu Pai (a Lei e os Profetas) para conduzir os pecadores ao Reino Celeste. Por isso, afirmou: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14:6).
Ele é o Senhor do Reino; a Lei e os Profetas são servos. Com ele, a porta que os judeus haviam fechado para os gentios (cf. Lc 13:10-17,24-30, 15:11-32; Mt 23:13) agora está aberta (Mt 7:8; Jo 10:7-9), e todo homem emprega força para entrar nele [no Reino], isto é, todos os pecadores precisam ter fé exclusiva em Cristo e coragem para vencerem todos os obstáculos, a fim de entrarem no Reino.
Portanto, em Lc 16:16, Jesus não está abolindo a Lei de Deus; em vez disso, está afirmando que, até aquele momento, ela era a referência para a entrada no Reino, mas que, a partir de então, ele é a entrada e a Lei é o padrão da qualidade moral e espiritual de vida no Reino (Rm 2:12,14-15; Mc 12:28-31). É por essa razão que Cristo enaltece a Lei, logo no versículo seguinte: E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei (Lc 16:17), e, na seqüência, como símbolo da vigência da Lei, exige obediência a um dos mandamentos mais quebrados, em todos os tempos: o adultério (Lc 16:18). Em outras ocasiões, ele exaltou a lei divina declarando que não veio destruí-la, mas cumpri-la (Mt 5:17); enalteceu os cumpridores da lei, afirmando que serão grandes no reino dos céus (Mt 5:19); também imprimiu mais rigor à lei, quando afirmou que a ofensa ao próximo constitui assassinato (Mt 5:21-22) e que o olhar impuro lançado a uma mulher constitui adultério (Mt 5:27-28).
Tivesse a lei de Deus durado somente até João, Cristo não teria mandado o jovem rico guardar os mandamentos (Mt 19:170), não teria exigido obediência dos escribas e fariseus (Mt 23:23) e dos seus discípulos (Jo 14:15,21); Paulo não teria afirmado que os salvos justificados por Deus são aqueles que estão em obediência a seus mandamentos (Rm 2:13), que a obediência à lei é a expressão maior da verdadeira fé (Rm 3:31) e que a lei é santa (Rm 7:21). Este apóstolo, fervoroso defensor da salvação pela graça, declara que tinha prazer na lei de Deus (Rm 7:22). Bem doutrinado, Paulo sabia que, se não há mais lei, então não há pecado, pois o pecado é a transgressão da lei (I Jo 3:4; Rm 4:15). Por isso, a Lei é eterna (Sl 78:7, 111:7-8, 119:96,160; Is 24:5), é útil no Reino (II Tm 3:16 e 17) e é válida não apenas para os judeus, mas para todos os povos (Sl 105:7; Is 51:4). Todos os escritores do Novo Testamento enalteceram a lei de Deus, porque sabiam que ela não perdeu sua utilidade a partir de João (Rm 3:9; I Jo 2:4,22,24; 5:2-3; II Jo 1:6; Ap 12:17, 14:12).
CONCLUSÃO: Chegamos à inevitável conclusão de que as palavras de Jesus, em Lc 16:16 não oferecem base para o desrespeito à lei de Deus. O que o Senhor disse foi que o Antigo Testamento (a Lei e os Profetas) atingiu seu objetivo maior na época de João Batista, o homem que foi movido pelo Espírito Santo para apresentar o Messias ao mundo. A partir de então, Cristo assumiu o comando da salvação da humanidade, e a Lei passou a agir como orientadora, visando manter os salvos no Reino de Deus, até o regresso do Senhor.
Portanto, não podemos ser antinomistas nem legalistas, pois cremos que a salvação é pela graça, mediante a fé (Ef 2:6-7) e cremos que o salvo demonstra a salvação através de uma vida de obediência e de boas obras (Mt 3:8; Jo 15:16). Reiteramos que a obediência aos mandamentos não é o meio para obtermos a salvação, mas é uma conseqüência da salvação que nos foi concedida (Hb 5:9: Mt 7:21). Por isso, os adventistas da promessa não têm de ter envergonha de serem defensores da vigência da Lei de Deus; antes, devem demonstrar sua fé na graça de Cristo, ter prazer de praticar a lei do Senhor (Sl 119:77) e sempre orar: Abre os meus olhos [Senhor] para que eu possa ver as verdades maravilhosas da tua lei (Sl 119:18).
QUESTIONÁRIO:
1) Como os defensores da extinção da lei de Deus interpretam Lc 16:16?
2) Com base no segundo comentário, explique qual o contexto de Lc 16:16.
3) Ainda com base no segundo comentário, explique a interpretação correta de Lc 16:16.
4) Em que sentido Lc 24:44 confirma a interpretação correta de Lc 16:16?
5) Com base em Mt 5:17-22; Rm 2:13; 3:31, 7:12; Sl 119:96, 111:7-8; II Tm 3:16-17, explique por que a lei de Deus não perdeu sua validade, depois de João Batista.
6) Da interpretação correta e da interpretação incorreta, que lições você tira para a sua vida espiritual?
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[1] Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã, Vol I, pp. 84-85, Vida Nova, São Paulo-SP.
[2] Comentário Bíblico Broadman. Rio de Janeiro: Juerp, 1983, Vol 9, p.159.