Um Livro Judaico
Muitos de nós esquecerá, quando lemos a Bíblia, que é um livro judaico, escrito principalmente por escritores Judeus sobre o povo Judeu. É tão fácil para nós lê-lo com dois mil anos de ideias e interpretações em nossas mentes que nos esquecemos de fazer uma pergunta simples: O que os autores desta passagem entendiam que ela queria dizer, quando a escreveram e o que os seus leitores ou ouvintes entenderiam dela?
Assim, quando Jesus falou sobre as muitas moradas na casa do seu Pai, o que ele quis dizer com isso e o que os seus ouvintes teriam entendido? Aliás, esta é uma passagem que é frequentemente lida na igreja em serviços funerários e hoje é pensado que é uma promessa de uma herança com Deus no céu. É isso o que Jesus queria dizer?
Casa de Deus
A expressão “casa de meu Pai”, assim como é utilizada nos Evangelhos sempre se refere ao Templo de Jerusalém. Por exemplo, quando Jesus visitou o Templo, um menino de doze anos, o seu comentário às questões dos seus pais foi: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?”(Lucas 2:49). Ou quando Jesus purificou o Templo, ele disse: “Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio.”(João 2:16).
Assim, Jesus estava dizendo aos seus discípulos: em João capítulo 14, que havia muitas moradas no Templo, e que ele iria voltar e viver com eles sobre a terra de uma forma semelhante à como os sacerdotes viviam perto de Deus, porque eles viviam no Seu Templo – na Casa de Deus. Mas era mesmo assim? Era o Templo uma casa para as pessoas, ou apenas a Casa de Deus?
A Estrutura do Templo
Na descrição da construção do primeiro Templo por Salomão, é mencionado a construção de câmaras construídas em três andares nos três lados do templo:
“Contra a parede da casa, tanto do santuário como do Santo dos Santos, edificou andares ao redor e fez câmaras laterais ao redor. O andar de baixo tinha cinco côvados de largura, o do meio, seis, e o terceiro, sete; porque, pela parte de fora da casa em redor, fizera reentrâncias para que as vigas não fossem introduzidas nas paredes”(1 Reis 6:5,6).
Estes quartos eram para os sacerdotes viverem enquanto estavam de serviço no Templo, assim, quando Jesus se refere às “muitas moradas” na ” Casa do Pai “, os discípulos teriam podido visualizar as inúmeras salas construídas no lado do Templo, e teriam entendido logo,o que ele queria dizer.
“Voltarei…”
Isto foi o que Jesus prometeu.
“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também”(João 14:1-3).
Ele estava prestes a morrer como sacrifício para os pecados, mas ele se levantaria novamente e, oportunamente, iria para o céu, para se sentar à mão direita do Pai. Mas quando chegar a hora certa, ele voltará à terra, para viver com o seu povo – como num templo. Havia alguma situação semelhante em que os discípulos poderiam pensar que fosse semelhante ao que estava prestes a
acontecer?
Pensando sobre as atividades que tinham lugar no templo, os discípulo se lembrariam que diariamente os sacerdotes entravam no Santo Lugar e que uma vez por ano o Sumo Sacerdote passava através do segundo véu, e entrava no Santo dos Santos como representante do povo. Depois de fazer sua oferta ele saia de novo para o povo, tendo feito expiação por eles.
O Grande Sumo Sacerdote
Jesus ia fazer a mesma coisa pelo o seu povo – mas muito mais ainda! Ele estava indo para a presença real de Deus, não apenas até uma representação de Sua presença, como acontecia no Templo. Este é um tema totalmente desenvolvido pelo apóstolo Paulo, quando escriveu aos Hebreus, que diz:
“Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus; nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado” (Hebreus 9:24-26).
No caso de Jesus, quando ele morreu Deus mostrou a Sua aprovação total do seu sacrifício ao rasgar o véu do Templo de Jerusalém, de cima a baixo – para mostrar que uma novo caminho tinha sido aberta para a Sua presença, e que não somos mais dependentes de um sacerdócio terrestre.
“Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hebreus 10:19-22).
Novamente, a imagem que os discípulos teriam obtido destas palavras estaria baseada nas suas próprias experiências da vida daquele tempo. Que significado diferente obtemos quando olhamos para uma passagem das Escrituras e consideramos as características da época em que foi escrita. Se nós não fizermos isso estamos sempre em perigo de impor as nossos próprias ideias, dos tempos atuais, tentando assim fazer com que as Escrituras ensinem o que nós queremos que elas digam!
Mark Buckler