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Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Elohim verdadeiro, e a Yeshua o Messias, a quem enviaste. JOÃO 17:3
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Paulo e a Torá

 

Paulo e a Torá – Parte I

Introdução:

Muitos teólogos durante a história foram defensores da teologia que afirma que Paulo era oposto ou contra a Torá (Lei). Até mesmo os judeus afirmam isto, que Paulo não viveu como judeu porque desmotivou os judeus a viverem como tais. Tentaremos provar de forma resumida a inverdade contida neste conceito.

A Primeira coisa para entender a relação Paulo x Lei, é entender o verdadeiro sentido desta palavra nos originais grego e hebraico.

O termo “lei” usado em nossas bíblias é um termo limitado e inadequado, pois não expressa com exatidão seu sentido original. A palavra hebraica usada no chamado “Antigo Testamento” (Tanach) é o substantivo “Torá”, que pode ser traduzido como “instrução”. Sem dúvida é importante observar que só nesta adequada definição do termo “Torá” teremos removido toda a idéia “legal” associada à expressão “lei”. Na verdade esta tradução de Torá para lei nas bíblias modernas está sob influência da Vulgata Latina que traduz tendenciosamente a expressão por “Lex”, trazendo a idéia de que a Torá só tem aplicação legal, o que uma inverdade.

A Torá é uma instrução divina dada prioritariamente à Casa de Israel com o objetivo de preservar o povo, como um povo separado dentre todos os povos do mundo. Uma cultura divinamente revelada com princípios morais, espirituais, sanitários, administrativos, alimentares e também legais. A Torá possui leis, mas ela não é somente “leis” como alguns pensam, é um engano achar que ela é apenas legal, pior ainda acreditar que o termo Torá pode ser traduzido por “LEI”, para esta palavra existe um termo apropriado chamado “Daat” em hebraico que tem o sentido legal. Mas, Torá sem dúvida melhor traduzida com “instrução” ou “ensino”.

A segunda coisa que devemos entender seria a opinião de Yeshua (Jesus) sobre a Torá. Paulo como apóstolo do Messias Yeshua, jamais iria contrariar a opinião de seu mestre sobre o assunto. Sendo assim disse Yeshua: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17 – ARA). Para uma compreensão sincera deste texto deve-se observar novamente as palavras chaves, neste caso “revogar” e “cumprir”. A palavra grega usada nesta passagem que foi traduzida por “revogar” é o verbo grego katalisai [katalusai] que pode ser traduzido como: anular, abolir, destruir, desfazer, revogar, etc. A edição bíblica de Almeida Revista e Corrigida traduz primeiramente a palavra como “destruir” que é mais clara. Baseados neste princípio deve-se entender primeiro que: YESHUA DISSE CLARAMENTE, QUE ELE NÃO VEIO PARA DESTRUIR, ABOLIR, ANULAR OU DERRUBAR A TORÁ (LEI). Este é um princípio básico, mas Yeshua veio fazer mais, ele veio também para “cumprir”. Só que este verbo grego que no original é plerosai que é melhor traduzido como: completar, acrescentar, aperfeiçoar, “plenificar”, etc. Yeshua em nenhum momento foi contra a Torá, muito pelo contrário ele veio apresentar o sentido pleno da torá, veio completar seu significado, ele veio “plenificar” seu objetivo. Como diz o Talmud (a tradição oral dos judeus): “Não vim para tira a Torá de Moisés, mas pelo contrário, vim para acrescentar” (Tratado Shabat 116b).

Lição I – A Torá (Instrução – “lei”) foi Abolida?

“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derrubado a parede de separação que estava no meio, a inimizade, ABOLIU, na sua carne, A LEI DOS MANDAMENTOS EM FORMA DE ORDENANÇAS, para que dos dois criasse em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz” (Ef 2.14-15).

Esta parece ser uma contradição entre as palavras de Yeshua (Jesus) e as palavras do apóstolo. Yeshua disse que não veio para “abolir” a Torá e o apóstolo dos gentios (Paulo) disse que Yeshua aboliu na sua carne a “Torá dos Mandamentos na Forma de Ordenanças”. Na verdade são os detalhes do texto que provam que não! Muitos teólogos se baseiam neste texto para afirmarem que YESHUA ABOLIU A LEI. Mas, cometem um erro básico de interpretação. Paulo é explicito ao afirmar que, o que YESHUA aboliu foi: A LEI? Não! Foi a “LEI DOS MANDAMENTOS EM FORMA DE ORDENANÇAS” isto é apenas um elemento com várias expressões. Na verdade deve-se entender a palavra “ordenanças” no original para uma compreensão precisa.

“Ordenanças” no grego é o substantivo “dogmas” [dogmaV], esta expressão pode ser traduzida como interpretação, dogma, doutrina de homens, etc. Esta expressão grega aparece no Novo Testamento sempre associado com “ordenanças de homens” nunca com ordenanças dadas por D’us. A palavra grega para ordenanças no N.T. é dikaioma [dikaiwma] e não dogma. Esta é a diferença básica.

Concluímos com isto que, o que Yeshua aboliu foram “AS ORDENANÇAS DO HOMEM, OU AS INTERPRETAÇÕES DOS HOMENS SOBRE A TORÁ QUE É FORMADA POR MANDAMENTOS”.

Se observarmos o início do trecho citado e analisarmos a história perceberemos que isto faz sentido. O texto diz que Yeshua derrubou a parede de separação que estava entre judeus e gentios, fazendo a paz. Esta parede era literal, no templo de Jerusalém existiam compartimentos para os visitantes do templo. Estes compartimentos eram separados por paredes ou muros, existia o pátio dos sacerdotes, dos homens judeus, dos gentios e das mulheres. Sendo assim os judeus estavam mais próximos do templo e os gentios separados destes, estavam mais distantes. Mas, pergunta-se: Onde está na Torá ou nos Profetas uma ordenança que diz que os gentios que temiam o D’us de Israel deveriam ficar longe dos judeus ou separados por um muro dos mesmos? Em lugar nenhum! Na verdade esta era uma “INTERPRETAÇÃO ou UMA ORDENANÇA DE HOMENS”, um dogma que afastava os não-judeus da Torá e da presença de D’us. Foi exatamente esta distinção que Yeshua veio abolir. Para que dos judeus e gentios fizesse apenas um povo, nele, cada um cumprindo seu chamado, mas tendo Yeshua como o centro de todas as coisas. Isto é o que Rav Shaul (apóstolo Paulo) chama de “Mistério”. Sem dúvida algo maravilhoso para refletirmos.

Lição II – As Festas Bíblicas Acabaram?

“Guardais dias, meses e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalho em vão para convosco” (Gálatas 4.10 e 11).

Se lermos este versículo isolado e não observarmos o contexto que está envolvido neste texto teremos problemas teológicos sérios. Uma pessoa ávida por refutar a Torá (lei) pode tomar este versículo facilmente como um suposto argumento contra as Festividades da Bíblia. O que é um equívoco e um desrespeito ao contexto do trecho. Aproveitando a oportunidade gostaria de fazer uma observação saudável à Versão de Almeida Revista e Corrigida, que intitula o trecho supra citado como: “O valor transitório dos ritos judaicos”. Este título é tendencioso e carregado de interpretações pessoais. Na verdade ele está baseado na interpretação do versículo acima, que afirma serem as palavras de Paulo, exortações direcionadas a judeus ou judaizantes que insistiam em guardar dias sagrados como: o Shabat (Sábado), Páscoa, Pentecostes, Dia do Perdão, Tabernáculos, etc.

Se lermos com cuidado simplesmente os dois versículos que antecedem o trecho, perceberemos que não é bem isso, o que Paulo estava dizendo, na verdade o versículo nem se quer foi direcionado aos judeus, mas aos gentios de Gálatas. Observe: “Outrora, porém, não conhecendo a D’us, servíeis a deuses que, por natureza não o são; mas, agora que conheceis a D’us ou, antes, sendo conhecidos por D’us, como estais voltando, outra vez, aos rudimentos fracos e pobres, aos quais, de novo, quereis ainda escravizar-vos?” (v.8 e 9).

Primeiro detalhe: No versículo 8 diz: “…outrora servíeis a deuses…”. Sabemos que desde o retorno dos judeus da Babilônia, Israel estava completamente curado da idolatria, o pavor dos judeus em relação a este pecado é tão intenso até em nossos dias, que muitos deles não recebem Yeshua simplesmente com medo de caírem em idolatria. Sem dúvida, o texto se refere a gentios (não-judeus) de Galácia (a quem é endereçada a epístola), que haviam se convertido ao D’us de Israel e a seu Messias (Yeshua – Jesus) e que agora estariam voltando ao culto pagão em memória dessas falsas divindades.

Paulo é ainda categórico ao afirmar: “… estais voltando outra vez aos RUDIMENTOS…” (ARA). Mais uma vez precisa-se da ajuda dos originais, assim compreenderemos a expressão “rudimentos” com maior precisão. O que significa esta expressão? A palavra grega usada é o substantivo pluralizado “stoikeion” [stoiceion] que segundo o Dicionário do Novo Testamento Grego do professor W.C. Taylor é: “as causas materiais do universo pyr (fogo), ydôr (água), aêr (ar) e gê (terra)… os corpos celestes, sinais do zodíaco, etc, rudimento, princípio elementar, ou astro ou talvez (?) espírito, demônio”. Na verdade estes princípios de elementos da natureza, signos, elementares, espíritos cósmicos, sempre foram princípios da antiga mitologia greco-latina e babilônica. Sem dúvida estes crentes estavam sendo escravizados por estes elementos, por isto Paulo encerra dizendo: “Guardais dias, e meses, e tempos, e anos” (v. 11). Na verdade estes dias que estavam sendo guardados pelos Gálatas não tinham nada haver com as Festas da Torá. Eram festas pagãs em honra aos “stoikeion”. Seria como se uma pessoa advinda na bruxaria, da umbanda, ou de uma religião esotérica, depois de convertida ao Senhor Yeshua (Jesus), ainda fosse atraída para as festividades pagãs outrora celebradas em honra às respectivas divindades. Sem dúvida, isto seria um ‘trabalho vão’ conforme as palavras do apóstolo do Messias.

Concluímos com isto, que em nenhum momento Paulo neste texto está fazendo referência a afirmativa de que “Os Ritos Judaicos são Transitórios” conforme a “ARA” (Almeida Revista e Atualizada). Mas, sim exortando os crentes recém convertidos do paganismo “galaciano”, para que não voltem às suas festividades demoníacas e cheias de misticismo pagão.

“De sorte não és escravos, porém filho; e, sendo filho também herdeiro por D’us” (Gálatas. 4.7).

Lição III – A Antiga Aliança foi Removida?

“Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até o dia de hoje, quando [os judeus] fazem a leitura da Antiga Aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, no Messias (em Cristo), é removido” (II Coríntios 3.14).

Outro problema de interpretação tendenciosa. Recentemente ouvi um pregador conhecido fazendo uma aplicação deste texto, como se a Antiga Aliança tivesse sido abolida por Yeshua, afirmando ainda que em ‘Cristo a Antiga Aliança é removida’. Não há nada pior do que sermos desonestos com o que está claro no texto. Não podemos ir a um texto das escrituras com uma teologia formada, mas devemos formar a nossa teologia das escrituras. Do contrário não estaremos sendo sinceros com as pessoas e nem com D’us.

Novamente um problema de contexto, no versículo 13 Paulo diz: “Não somos como Moisés, que punha VÉU sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que desvanecia.” Observe que Paulo neste versículo faz um comentário sobre o véu que Moisés teve que pôr sobre seu rosto a fim de que ninguém olhasse para ele, pois sua face estava resplandecendo, quando da sua descida do Monte Sinai (com as segundas Tábuas da Torá). Mas, no versículo 14 ele explica o motivo deste comentário. Neste caso ele explica que até hoje quando os judeus fazem a leitura da Antiga Aliança – aqui Paulo está fazendo referência ao costume judaico de ler porções do Tanach (“Antigo Testamento”) todos os Shabatot (sábados) – claramente ele continua: “… o mesmo véu permanece…”. Na verdade Paulo está querendo dizer, que os judeus estão com seus sentidos “espirituais” inativos, eles estão cegos, pois não perceberam que Yeshua é o Messias, pois se eles tivessem fé Nele, este “VÉU” e não a “ANTIGA ALIANÇA” seria removido.

Paulo ainda complementa: “Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado” (v.15 e 16). Está claríssimo, que a referência de Paulo no texto não está sendo aplicada a uma suposta remoção da Antiga Aliança, mas a remoção da cegueira espiritual dos judeus quanto a revelação de Yeshua na mesma “Leitura da Antiga Aliança”. O apóstolo demonstrou isto claramente em Atos 13.14 e seguintes, em uma sinagoga em Antioquia, exatamente na leitura da Torá e dos Profetas.

Lição IV – As Leis Alimentares foram Abolidas?

“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento e EXIGEM ABSTINÊNCIA DE ALIMENTOS QUE D’US CRIOU para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis…” (I Tm 4.1-3).

Este texto é mais um que não pode ser aplicado aos judeus. Pois sem dúvida perceberemos que Paulo agora está fazendo referência ao Gnosticismo.

O Gnosticismo era uma filosofia esotérica, uma religião de mistérios, que concorreu intensamente com o cristianismo no primeiro e no secundo século de nossa era. Eles ensinavam em síntese, que existiam dois mundo paralelos e ambíguos. Este mundo físico e histórico habitado pelos homens (este pensamento é influência do platonismo) e o espiritual e metafísico habitado por D’us e por anjos ou demiurgos (pequenos deuses).

Baseados neste conceito elementar, eles entendiam que quanto mais eles se desligassem da vida terrena, mais próximo de D’us e do mundo espiritual eles estariam. Assim eles seriam mais “pneymáticos” (espirituais) e menos “sarkikos” (carnais). Assim, eles praticavam o que nós chamamos de ascetismo. Abstiam-se de alimentos, de casamento, do sexo, de algumas bebidas, de festas, de alegrias terrenas, etc. Aparentemente isto parece bom, mas não é! A bíblia nunca foi um livro de ‘ascetismos’, segundo o pensamento judaico, a abstenção de um prazer lícito pode ser tão pecado, quanto algo ilícito.

Infelizmente estes gnósticos estavam sendo levados por espíritos imundos, a ensinarem a abstinência de “Alimentos que D’us criou…”. Algumas pessoas, dizem: “Viu? Paulo disse que a abstinência de alimentos e diabólica!”. Sem dúvida, a abstinência de “ALIMENTOS QUE D’US CRIOU” é um erro. Mas, pergunto: O que é alimento segundo a Bíblia? Alimento segundo a bíblia é o descritos em Levítico 11. Porco não é alimento, Urubú não é alimento, Cobra não é alimento, etc. O problema dos Gnósticos é que eles estavam exigindo a abstinência de alimentos bíblicos, pois estes D’us criara para nossa alimentação. Não somente isto, ainda escravos de seus princípios ascéticos, ensinavam a abstinência do casamento, como se o sexo e a vida a dois fossem um problema espiritual. Um exemplo da influência do gnosticismo no cristianismo católico romano é o celibato dos sacerdotes, como se o sexo fosse um problema.

Claro que o gentio está isento desta lei, mas o princípio é claro, “alimento” são os que realmente estão descritos em Levítico. Outros animais podem ser tomados por alimentos, mas os “alimentos que D’us criou” são descritos com clareza no trecho citado. Um princípio que pode ser vivido por crentes em Yeshua sem legalismos, sendo que deve-se deixar claro que não há nenhuma obrigação bíblica para que os gentios guardem as leis alimentares. Mas, os que optarem em guardar estes princípios sem dúvida serão abençoados, pois a palavra de D’us nunca volta vazia.

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Shaul e a Torá – Parte II

Introdução:

Este breve estudo é continuação do tratado anterior em que discorremos sobre alguns versículos paulinos que necessitavam de explicação quanto a questão da “lei” Torá. Recebi muitas solicitações de leitores e alunos para que explicasse outros versículos que são considerados por muitos intérpretes da Bíblia como sendo contrários a Torá e a seus princípios. Se você leitor está lendo esta matéria sem ter consultado a anterior (Paulo e a Torá – Parte I), aconselho que você o leia, ao menos a introdução.

“Os profetas e a lei profetizaram até João” (Mateus 11.13)

Este texto apesar de não ser de Paulo, infelizmente é mal interpretado por alguns supondo que a Torá só teve duração até João Batista. A pergunta que se deve fazer ao ler este texto é: Profetizaram o quê?

Todos os profetas e a Torá profetizaram o Messias. Pela tradição judaica o profeta Elias viria para anunciar o Messias, encerrando as profecias concernentes à sua manifestação. Tanto é assim que pelo contexto (v.14) diz: “E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir”. Sim, esta é a profecia que se encerra com João. As profecias messiânicas.

A interpretação errada deste texto está em afirmar que a Torá e os Neviim deixaram seu valor em João. Esta é uma interpretação tendenciosa e sem sentido. Para piorar a situação a Versão Almeida Revista e Atualizada, edição largamente utilizada entre evangélicos e cristãos no Brasil, em Lucas traz uma tradução diferente do original: “A Lei e os Profetas vigoraram até João…” (Lucas 16.16 – ARA). Mas, uma vez uma demonstração clara da tendenciosidade de algumas traduções cristãs em relação a lei. Vejamos como está no original grego: o nomoV kai oi profhtai ewV Iwannou (Ró nómos kai ori profetai eôs Iôannú). Simplesmente não existe a palavra “vigoraram”, no original a tradução literal deveria ser: “A Lei e os Profetas até João”. Simplesmente o tradutor inseriu sua teologia antinominista (contra a lei) em sua versão, subtendendo que Torá e os Profetas tiveram validade até João Batista, o que se dúvida é um erro, conforme vimos nos comentários iniciais.

“Pois quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei (…) Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade” (Hb 7.12 e 18)

Em que aspecto houve mudança de lei? Se observarmos com cuidado o contexto perceberemos que o autor trata da substituição (de certa forma) da lei do sacerdócio levítico por um sacerdócio superior conforme o Sl 110.4 que é citado no versículo 17 que diz: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”. Claro se o sacerdócio de Melquisedeque é declarado eterno (para sempre) o sacerdócio levítico é inferior àquele. Por isso diz ainda o versículo 14: “pois é evidente que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes”. e ainda v.15: “quanto à semelhança de Melquisedeque, se levanta outro sacerdote…” Quem é este sacerdote? YESHUA.

Yeshua não podia exercer sacerdócio segundo a carne, pois era da tribo de Judá, ofício restrito (na terra) aos da tribo de Levi. Mas, ele exerce superior sacerdócio junto ao pai segundo a ordem de Melquisedeque. Pois o sacerdócio de Yeshua não é: “…segundo a regra de uma prescrição carnal, mas de acordo com o poder de uma vida imperecível” (v.16 – Verão da Bíblia de Jerusalém – Edições Paulinas).

O que quer dizer este texto? Que a lei é carnal? Que os mandamentos são carnais? Obviamente que não, pois como disse Paulo: “Porque sabemos que a lei é espiritual…” (Rm 7.14). Na verdade o texto se refere a linhagem de sacerdotes segundo a carne, o sacerdócio levítico. A prescrição da Torá que estabelece o sacerdócio terreno, ou seja, os da Casa de Levi.

A Bíblia de Jerusalém comenta que esta regra “carnal” é: “Aquela que reserva o sacerdócio de Levi exclusivamente à sua descendência carnal”. Neste aspecto podemos concluir que não foi a Torá que foi suplantada, mais uma lei da Torá, a lei do sacerdócio levítico, deu lugar ao sacerdócio superior, o de Yeshua HaMashiach. Mesmo assim, observe que o princípio de mediação através de um sacerdote foi mantido. Este princípio está na Torá, a necessidade de um mediador é um princípio eterno.

Percebemos então que Yeshua é um sumo sacerdote, cujo serviço é prefigurado no ministério do sacerdote Melquisedeque, soberano e acima do sacerdócio levítico. Sendo assim, a lei da Torá que dizia que só os sacerdotes levitas podiam se achegar em intercessão a D’us foi suplantada por um sacerdócio celestial e superior. Por isso ainda diz: “Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus (…) Porque a Torá constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à fraqueza, mas a Palavra do juramento, que foi posterior à lei, constitui o Filho, perfeito para sempre” (Hb 7.26 e 28). A “palavra do juramento” se refere a promessa que o Eterno fez no Salmo 110.4: “O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”, este juramento perpetua o sacerdócio de Yeshua.

O texto em nenhum momento faz referência a mudança da Torá por outra Torá. Mas, na mudança de uma lei, a do sacerdócio levítico.

Nota: Melquisedeque foi o misterioso Sacerdote-Rei de Salém (Gn 14.18-20 ler) que abençoa Abraão. Uma doutrina judaica do Iº Século era que Melquisedeque foi uma prefiguração do Messias. Salém era o antigo nome de Jerusalém, cuja raiz vem de Shalom (Paz), e Melquisedeque vem do hebraico: MALKI-TSEDEK que pode ser traduzido como: Rei da Justiça.

“Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda (…) Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer” (Hebreus 8.7 e 13).

Sem dúvida busca-se uma Nova Aliança, foi o próprio profeta Jeremias quem a profetizou, por isso o autor de Hebreus cita-o nos versículos de 7 à 11. A primeira aliança era imperfeita por causa do endurecimento do coração do homem. Um coração não queria andar voluntariamente nos mandamentos do Senhor. Por isso procurou-se a Nova Aliança. V.13

“Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está preste a desaparecer”. Sem dúvida! Está preste, mas ainda não desapareceu. O fato de uma aliança ser antiga, não quer dizer que ele tenha desaparecido. Obviamente a Nova Aliança não se cumpriu plenamente, quando isto se cumprir a Antiga Aliança será plenamente suplantada dando lugar à eternidade.

A idéia dispensacionalista de que uma aliança anula a anterior é vaga, todas as alianças estão de pé, obviamente que os acréscimos trazidos por uma última aliança são superiores aos dos pactos anteriores, mas isto não quer dizer que necessariamente “abolição”.

O problema está em desassociar a Torá (lei) da Aliança. A imagem que um cristão geralmente tem é que a Nova Aliança é um pacto de “graça” enquanto a Primeira Aliança é de “lei”. Esta idéia é imprecisa, pois quando a Nova Aliança foi prometida pelo Eterno através do profeta Jeremias (citado pelo próprio autor de Hebreus) ele disse: “(…) firmarei Nova Aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá (…) porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Na sua mente imprimirei AS MINHAS LEIS, também sobre o seu coração as inscreverei…” (Jr 31.31-34 e Hb 8.8,10). A Nova Aliança não é uma aliança sem lei (antinominiana). Então o que muda? Ou em que aspecto a Nova Aliança é melhor que a primeira? Ela é melhor e diferente porque a Torá agora muda de posição. Antes, ela estava em tábuas de pedras, a pedra é um reflexo do coração endurecido do homem. Mas, graças ao sangue da Nova Aliança, hoje esta Torá está impressa no coração de todo aquele que é fiel a Yeshua HaMashiach, corações regenerados estão condicionados a receberem os preceitos eternos.

“Porque a lei do Espírito da vida, no Messias Yeshua, te livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.2)

Lendo este texto sem meditar, podemos ser levados a acreditar que existem duas “leis”. Uma lei que é do Espírito no Messias e outra, a lei do pecado e da morte.

Na verdade Paulo não está fazendo referência a uma lei do pecado (judaica) e outra lei espiritual (de Cristo). Quando se diz lei neste caso, faze-se referência, a Torá do Messias, que não é outra se não a mesma que foi dada a Moisés no Monte Sinai, mas em novas condições.

Vejamos o contexto: “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez D’us enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou D’us, na carne, o pecado, a fim de que a ordenança da Torá se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.3 e 4).

A expressão usada no versículo 3 “impossível” é a palavra grega “adynaton”. Ela é formada pela preposição negativa “a” e pela raiz “dinâmis” (poder). Na verdade esta palavra significa precisamente: “sem poder”. Com esta informação vamos analisar o versículo com mais atenção.

A Torá tem poder quando aplicada de forma correta. Mas, torna-se ineficaz quando praticada por um coração incircunciso, não regenerado. O texto ainda diz que a Torá estava enferma por causa da carne ou da carnalidade do homem. Observe, que o problema não é a lei, mas o homem escravo do pecado e sua frustrada tentativa de se tornar justo através de seu esforço em cumprir a ‘lei’. Nesta tentativa carnal de ser obediente aos preceitos de D’us, a Torá ao invés de ser um instrumento de vida para o homem, torna-se para este indivíduo não restaurado, um instrumento de “pecado” e de “morte”, o que é um desrespeito aos estatutos e mandamentos do Eterno. Por isto ela (a Torá) estava “sem poder”.

Então qual foi a solução de D’us para este problema da obediência carnal? Diz ainda:”enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou D’us, na carne, o pecado…”. Perfeita a obra de D’us! Já que o problema do homem em cumprir os mandamentos de D’us era a carne, então D’us envia seu filho como o homem, semelhante ao pecador, para destruir o pecado que tanto impedia o homem de cumprir os mandamentos de D’us. D’us fez tudo isso para quê?

“A fim de que o ESTATUTO DA LEI se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (v.4). Agora, libertos do pecado pelo sacrifício do Messias o estatuto da Torá se cumpre no indivíduo. Antes cumpríamos a Torá, mas agora ela se cumpre em nós. Sendo assim, agora, a Torá volta ao seu propósito original: SER UMA TORÁ DO ESPÍRITO DA VIDA e não mais UMA TORÁ DO PECADO E DA MORTE (v.2).

Este dualismo Torá Vida x Torá Morte é comum na tradição judaica conforme o Talmud: “Rabi Iehoshua ben Levi disse: Qual é o significado do versículo, E esta é a Torá que Moshê colocou perante os Filhos de Israel [Deuteronômio 4:44]? Isso significa que se uma pessoa é meritória [merecer], ela [a Torá] será para a mesma um elixir que concede vida; mas se não, ela [a Torá] se tornará um veneno mortal. Isso é o que Rabá quis dizer quando ele disse: se ele usá-la de modo direito, ela [a Torá] é uma medicina de vida para ele, mas se alguém não usá-la de modo direito, ela é um veneno mortal” (Yomá 72b).

“Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las” (Gl 3.10)

Paulo constantemente faz uso das expressões “obras da lei” e “sob a lei”. O intérprete deve tomar cuidado com estas expressões. De forma alguma Paulo pode está dizendo que a prática de Torá (lei) traz maldição e tão pouco que a Torá é maldita, obviamente. Pois, o mesmo Paulo diz que a Torá é santa, justa e boa (Rm 7.12). Na verdade, este texto é uma exortação direta de Paulo ao legalismo.

Mas, o que é “legalismo”? Legalismo é a prática da Torá com fins de justificação (salvação), sem fazer uso da fé no Messias e em sua obra no madeiro, o que é um erro. A Torá nunca foi dada para salvar o pecador ela tem a função de preservar o salvo no Messias. Como não existia a expressão “legalismo” em grego, Paulo usa a expressão “sob a lei” e “obras da lei” como sinônimos da prática legal a fim de se alcançar salvação. Citarei um famoso hermeneuta cristão: “Os argumentos de Paulo em Gálatas não eram contra a lei, mas contra o legalismo – essa perversão que diz que a salvação pode ser obtida mediante a observância da lei…O legalismo nada mais era do que a tentativa de ganhar a salvação mediante a guarda da lei” (Virkler, Henry A. – Hermenêutica Avançada – Editora Vida – Pg. 109 – 1998 – 5º Impressão).

Uma pessoa que tenta se justificar unicamente pela prática da Torá estará sob maldição. Por quê? Ao tentar se justificar pelas obras do Torá esta pessoa: Primeiro: Nega a obra do Messias, pois ao confiar em si mesma para justificação, nega-se a obra do madeiro. Segundo: Teria que praticar toda a lei de forma correta, pois automaticamente ao quebrar um mandamento, estaria sendo passível ao recebimento das maldições descritas na Torá aos que não cumprem seus mandamentos. A não prática da Torá induz à maldição. Por isso Paulo continua: “… é evidente que, pela Torá, ninguém é justificado diante de D’us, porque o justo viverá pela fé [fidelidade]” (v.11).

“O Messias nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro” (Gl 3.13)

Sim, louvado seja o Eterno por isto! Pois, não estamos mais passíveis à maldição. Pois, não confiamos em nosso esforço humano para sermos justificados. Antes, confiamos na maravilhosa obra de Yeshua e na capacitação que o Espírito de D’us nos dá de sermos justos (ver comentário acima sobre Romanos 8.2). Nossa justiça vem pela firme fidelidade à obra que Yeshua realizou por nós. Obviamente, depois que fomos alcançados por sua obra salvadora, recorremos a vida justa, não porque simplesmente queremos vive-la, mas porque ela brota naturalmente de nossas vidas, pois temos uma Torá viva em nossos corações que nos leva a uma vida justa (Jr 31.31 e seg). Não praticamos a Torá para sermos salvos, mas porque já somos salvos.

Yeshua levou as maldições da Torá, o apedrejamento, o enforcamento, os açoites, no madeiro, afim de que sejamos obedientes, não por ameaças, mas por amarmos profundamente o Eterno, dedicando nossas vidas à sua maravilhosa obra.

Concluímos com tudo isto, que é necessária uma revisão cautelosa dos conceitos teológicos que são adotados hoje pelo cristão. E também pelo judeu que afirma que Paulo era contra a Torá. Vai minha crítica também ao dogmatismo dispensacionalista*, que insiste em dividir a Bíblia em duas principais dispensações (digo duas, pois comumente é aceito que existem 7 dispensações bíblicas), a dispensação da lei (mosaica) e a dispensação da graça. Estes conceitos são aceitos hoje como quase canônicos, mas em nenhum momento Paulo ou os apóstolos se preocuparam em dividir as escrituras desta forma. Obviamente, porque esta divisão nunca existiu na era apostólica (I séc.).

“Anulamos a Torá pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a Torá” (Romanos 3.31).

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*Nota: Alguns textos analisados, para alguns, não são de autoria paulina. Hebreus por exemplo pelo ponto de vista pessoal do autor desta matéria foi escrito pelo Apóstolo Paulo.

*O dispensacionalismo: Escola teológica que insiste dividir as escrituras em múltiplas dispensações, ou períodos, onde D’us agia de forma diferente. Destacam-se J.N. Darby 1830, Scholtfield, Charles Ryrie, Stanley Horton, Dwint Pentecost, e outros. Donde surgiu a idéia de sete dispensações: Inocência, Consciência, Governo Humano, Monarquia, Lei, Graça e Milênio. A Bíblia nunca se dividiu desta forma. A Bíblia descreve alianças ou pactos. Mesmo assim, um pacto nunca aboliu o outro, por isso Paulo disse que os gentios no Messias foram aproximados das ALIANÇAS: “naquele tempo, estáveis sem o Messias, separados da comunidade de Israel e estranhos às ALIANÇAS DAS PROMESSAS (…) Mas, agora no Messias Yeshua, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue do Messias”. (Ef. 2.12 e 13).

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