O Poder Devastador da Língua
Introdução
Até agora temos visto a ênfase de Tiago no aspecto prático da vida. Como a vida cristã deve ser vivida e como nosso modo de viver deve estar sincronizado com o nosso discurso. Este trecho que lemos não é diferente.
É interessante que a minha primeira reação ao ler esta passagem foi: “Tiago, não use sua experiência para fazer doutrina. Não é porque você teve uma língua indomável que todos têm.”
Mas depois, eu comecei a pensar melhor no que ele estava falando e comparar com as minhas próprias experiências (quantas vezes eu usei a língua para humilhar e zombar de pessoas), com o que eu via em outras pessoas no dia-a-dia (pessoas amaldiçoando umas as outras sem medir as conseqüências do que diziam), com o que eu lia na história da igreja (principalmente nas divisões das igrejas e na queda de grandes homens de Deus), e principalmente com o que a Bíblia diz sobre a língua em muitas passagens (por exemplo: Salmos 12:3-4 “Corte o Senhor todos os lábios lisonjeiros e a língua que fala soberbamente, os que dizem: Com a nossa língua prevaleceremos; os nossos lábios a nós nos pertecem; quem sobre nós é senhor?”
ou Provérbios 10:31 “A boca do justo produz sabedoria; porém a língua perversa será desarraigada.”
o profeta Jeremias cap. 9:8 “uma flecha mortífera é a língua deles; fala engano; com a sua boca fala cada um de paz com o seu próximo, mas no coração arma-lhe ciladas). Somente para citar algumas passagens.
Daí eu percebi que o problema não era isolado, mas geral. Não era um problema de Tiago e das pessoas de seu tempo apenas, mas um problema da humanidade caída e depravada em seus próprios pecados.
O problema da língua é algo sério e deve ser visto e tratado como tal.
Pois:
Proposição
Se a língua não for domada pode causar a destruição daquele que fala como também a destruição daquele que ouve.
A língua é algo perigoso se não for usado corretamente.
Tiago está aqui nos alertando para que não caiamos neste erro tão grave, porém, tão comum de achar que fazer uso indevido da língua não terá conseqüências em forma de juízo divino.
Jesus diz em Mateus 12:36 “Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo.”
Tiago já havia tocado neste assunto no capítulo 1:26 que diz “Se alguém diz ser religioso e afinal não é capaz de travar a sua língua, engana-se a si mesmo; a sua religião não vale nada.” Agora contudo, ele vai mais a fundo neste assunto.
Infelizmente, o homem usa mais a sua língua para destruir do que para construir. Na verdade, a tendência natural do homem é a destruição. A edificação não é um processo natural, mas requer um esforço quase sobrenatural de nossa parte.
Não é a toa que Paulo falando aos Efésios diz, “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem.” Ou seja, se você não vai edificar com palavras, então se cale!
E aos Colossenses, “mas agora despojai-vos também de tudo isto: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca.”
Paulo conhecia bem de perto os poderes satânicos da língua, principalmente por ele ter sido alvo constante de caluniadores e difamadores do seu ministério.
Só quem já foi alvo dos malefícios que uma língua venenosa pode causar é que entende a importância no controle da língua para os relacionamentos interpessoais.
Cada um de nós tem dentro de nossas bocas o poder de edificar, levantar, construir, abençoar as pessoas. Ao mesmo tempo em que podemos destruir, insultar, difamar, amaldiçoar pessoas.
Provérbios 18:21, diz: “A morte e a vida estão no poder da língua…”
Qual das duas opções você tem escolhido?
Se você escolher a morte, Tiago vai mostrar que a língua pode não apenas matar o outro, mas também você. Ou seja, a língua destrói não somente quem é atingido por palavras torpes, mas também quem as profere.
E como o texto nos mostra esta verdade. De duas formas
1. Destruição de si mesmo através da auto-exaltação pela língua (vs 1-6)
2. Destruição de tudo mais através do descontrole da língua (vs 7-8)
O texto também vai mostrar o poder destrutivo da língua.
Você já viu um lança-chamas?
O lança-chamas é uma arma relativamente pequena para o potencial destrutivo que tem. Outra imagem que me vem a cabeça acerca do poder destruidor da língua é a da pirofagia. Alguém bebe um líquido inflamável e depois cospe no fogo, causando um efeito de um mini lança-chamas.
Agora a Bíblia é muito mais realista com relação ao poder da língua. Pegue essas duas imagens que eu acabei de falar e as descartem. A Bíblia vai dar a imagem verdadeira do poder da língua. Preparados?
Uma faísca. Como é que é? Isso mesmo pegue uma piola de cigarro e jogue em uma floresta seca, vá para casa e no outro dia ligue a TV no canal de notícia e aguarde o estrago.
O lança-chamas pressupõe alguém muito raivoso, a pirofagia pressupõe alguém muito irado, a piola de cigarro pressupõe inspiração do inferno.
E como o homem se mata através do uso indevido da língua?
Vejamos:
1. Destruição através da auto-exaltação pela língua (vs 1-6)
Tiago primeiro vai entrar no assunto dos mestres e da maior rigidez que estes vão receber em seus julgamentos. Não que Tiago esteja desencorajando o ofício de mestre, mas apenas mostrando que ser mestre não é para quem quer (apenas por status), mas para quem é chamado.
Efésios 4:11-12 diz: “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”
O dom de mestre está ligado à edificação do corpo de Cristo.
Os Judeus da época de Tiago tinham o Rabi ou Mestre como uma das figuras mais importantes da sociedade.
A igreja primitiva grandemente influenciada pelo judaísmo também via o oficio de mestre como muito importante.
Tudo isso fazia com que aqueles que não tinham o chamado para serem mestres buscassem esse caminho para serem mais valorizados na sociedade em geral.
Contudo, isso se tornou um problema, uma vez que falsos mestres se multiplicavam durante o primeiro século da igreja.
Não é a toa que pelo menos 3 das 7 igrejas citadas no livro de apocalipse são mencionadas por terem problemas nesta área de falso mestre e falso ensino. Pedro, João e Paulo também tiveram problemas com falsos mestres.
Tiago mostra que ser mestre antes de ser um privilégio, era uma grande responsabilidade. Aqueles que eram mestres e ele incluso iriam receber um julgamento mais rigoroso. Ao que mais é dado, mais é cobrado.
Estes falsos mestres ao fazer uso da língua indevidamente, ao invés de construir, edificar, levavam a comunidade para o caminho das heresias.
O apostolo Paulo escreveu praticamente uma carta inteira para corrigir os efeitos negativos dos falsos ensinos dos falsos mestres que foi a epístola aos Gálatas.
E o que tem a ver falsos mestres com freios em bocas de cavalo ou lemes de navios?
Aqui, Tiago está fazendo uma correlação entre coisas aparentemente pequenas, mas de grande poder sobre coisas maiores.
• Ou seja, um freio pequeno controla e dá direção a um grande cavalo
• Um leme pequeno controla e dá direção a um grande navio
• Um mestre ainda que sozinho, pode controlar e dar direção a um grande número de pessoas.
• E uma língua ainda que o menor de todos os órgãos pode direcionar o caminho do mestre.
O mestre que não é chamado para ser mestre receberá o mesmo julgamento dos mestres verdadeiros porque ele está se passando por quem não é. Ele está se gabando de uma coisa que ele não é.
• Você está se gabando de algo que você não é?
• A sua língua tem falado coisas que não são verdadeiras ao seu respeito?
• Você tem se auto-exaltado e com isso trazendo condenação sobre sua vida?
• Eu conheço um rapaz chamado Fábio, sobrenome mentirinha. Daí você já tira como ele se relaciona com as pessoas. Fábio mentirinha usa pouco de sua língua para atingir as pessoas. Contudo, Fábio não consegue ficar sem se gabar daquilo que ele não tem e daquilo que ele não é. Ele mente com relação a tudo. Sua língua é inflamada pelo inferno sim, contudo, ele apenas está amontoando juízo sobre a vida dele dizendo e querendo ser quem ele não é.
• Você tem sido um Fábio mentirinha?
• Em suas conversas com amigos, com colegas de trabalho, você tem falado, agido, sido um Fábio mentirinha?
Mas a língua não trás apenas condenação e destruição para quem fala.
Ela é mais mortal ainda quando usada contra o próximo.
2. Destruição de tudo mais através do descontrole da língua (vs 7-8)
Quantas vezes nos pegamos falando… ”Esse é um débil mental” ou “aquele é um condenado”… for a os palavrões usados quando estamos com raiva de alguém ou no trânsito.
Tanto na presença da pessoa quanto na ausência, matamos o próximo quando usamos palavras torpes contra ele ou ela.
Jesus em Mateus 5:21-22, “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno.”
Raca é um termo aramaico de desprezo que significa “sem valor” ou “tolo”
• Quantas vezes, sem mesmo notar trazemos condenação sobre nossas vidas pelo que falamos para as pessoas.
• Quantas vezes esvaziamos as pessoas, tiramos suas dignidades, enfiamos uma faca em seus corações por aquilo que falamos e conseqüentemente trazemos juízo sobre nossas vidas.
• Quantas vezes insultamos o próprio Deus, quando insultamos o nosso próximo. Nos dias de Tiago o imperador fez uma estátua sua na cidade. Se alguém insultasse ou amaldiçoasse a estátua, estes eram tratados como se eles tivessem amaldiçoando o próprio imperador face-a-face, pois a estátua era a imagem do imperador. Portanto, o insulto a uma pessoa, feita à imagem de Deus, é como se estivéssemos insultando o próprio Deus.
Infelizmente, não nos damos conta de como facilmente somos usados pelo inferno. Contudo, nada escapa aos olhos de Jesus.
Deus usando Paulo disse que é melhor ficar calado do que abrir a boca para maldizer alguém, pois assim, não destruímos o nosso próximo e nem trazemos condenação sobre nossas vidas.
Então se lembre que a língua tem tanto o poder de destruir aquele que fala quanto aquele a quem falamos.
O texto ainda nos mostra uma terceira característica da língua. A língua ainda que uma peçonha mortal, ela pode ter momentos de submissão a Deus.
Todos nós temos momentos de alegria e tristeza, de saúde e de doença, de altos e baixos. A língua também tem esses momentos de mudança completa de suas características. A língua também (ainda que por breves momentos) adora a Deus.
Contudo, o problema aqui é apenas o reflexo do homem de mente dividida e instável do capítulo 1. Tiago diz que o homem não pode ser assim. Não podemos achar que Deus recebe adoração verdadeira de uma língua mentirosa. Como eu já disse, quando insultamos ao próximo, é a Deus a quem insultamos.
Tiago termina esta parte de sua carta fazendo duas ilustrações. A primeira da fonte que jorra água doce e água amarga. Assim é aquele que profere bênçãos a Deus e maldições aos homens.
A segunda ilustração vai mostrar que isto é impossível, assim como é impossível uma figueira produzir uvas e uma videira figos. Ou um jambeiro produzir laranja e uma laranjeira produzir jambo.
Ou seja, assim como a natureza das plantas não pode ser mudadas, também a natureza regenerada não pode agir como se não fosse regenerada.
Tiago diz, “Meus irmãos, não pode ser assim!”
Isto quer dizer que há esperança para cada um de nós. Se a nossa língua tem servido para nos vangloriar ou se tem servido para destruir o próximo, Tiago diz, “meus irmãos, não pode ser assim!”
Aqui quero finalizar com alguns conselhos práticos para que não deixemos nossa língua controlar nossas vidas e que possamos ser uma fonte de benção para nosso próximo.
1. Peça a Deus para te ajudar – Ele disse que sem Ele nada podemos fazer, e que com Ele todas as coisas são possíveis.
2. Leia o livro de Provérbios e Tiago – Provérbios têm 31 capítulos o que dá um ao dia. Muita coisa em Provérbios é relacionada à língua. Leia Provérbios e Tiago juntos, vai ser uma overdose de sabedoria pratica importantíssimo para a nossa transformação.
3. Pense primeiro – nunca reaja antes de pensar bem o que vai falar. Se pensarmos um mínimo de 10 segundos antes de abrirmos a boca, muita coisa que não queremos dizer não vamos dizer mesmo. Se após um tempo percebermos que o que vamos dizer não vai edificar, é melhor nos calarmos.
4. Fale menos – a probabilidade de errarmos vai diminuir consideravelmente. Abraão Lincoln dizia, “É melhor ficar calado e deixar que as pessoas pensem que você é um tolo, do que abrir a boca e confirmar dúvida deles”
5. Edifique as pessoas – a Bíblia nos manda encorajar uns aos outros. Devemos ser agentes de paz, amor, edificação mútua. Faça um pacto com você mesmo de todos os dias levar palavras positivas para as pessoas. Comece dentro de casa.
Vamos terminar todos lendo Salmos 19:14 – “Que as palavras de minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, SENHOR, minha Rocha e meu Resgatador.”